Produzida no Brasil desde 1982, a Volkswagen Saveiro é o nome mais longevo da indústria nacional, desde que seu irmão Gol morreu. Ela é a única picape compacta que até hoje conseguiu competir de igual para igual com a Fiat Strada. Mas, enquanto a rival mudou de geração, a Saveiro seguiu com corpinho de 2009, reestilizado pela terceira vez.
Avaliada na versão topo de linha Extreme de R$ 114.580, o modelo testado ainda trazia como opcional o pacote Tech Brasil de R$ 2.160 (piloto automático, sensor de chuva, sensor de farol, retrovisor fotocrômico e assistente de partida em descida) e a cor Cinza Moonstone por R$ 1.230, totalizando R$ 117.970. Mas será que vale tudo isso?
Dinâmica de Gol
Um ponto no qual a Volkswagen Saveiro sempre foi superior à e a outras picapes compactas é na dinâmica. A marca alemã sabe como acertar um carro voltado ao prazer ao dirigir. Ela é firminha, boa de curva e ágil, mesmo sem ter adotado o tão desejado motor turbo 1.0 TSI.
A suspensão parece de um carro de passeio, fazendo com que a Saveiro se mantenha estável e firme nas curvas de maneira surpreendente para um modelo da categoria. A traseira pula um tanto sem carga, mas não chega perto do que a Fiat Strada faz com sua suspensão de feixe de molas – a Saveiro usa eixo de torção atrás.
A direção, de assistência hidráulica, é bem pesada na hora das manobras, mas assume uma postura mais correta em altas velocidades. Diferentemente da maioria dos modelos com esse sistema mais rústico, onde na estrada fica molenga demais. Mas, é já um dos sinais de que a idade da Saveiro está bem avançada.
Fôlego tem, mas cadê o turbo?
Inegavelmente a Volkswagen Saveiro é um carro que anda bem. Seu motor 1.6 quatro cilindros aspirado rende 116 cv e 16,1 kgfm de torque. Só que, desde que a Volkswagen aposentou Gol, Voyage e deu ao Polo e ao Virtus um motor 1.0 TSI menos potente, o 1.6 aspirado passou a ser visto só e somente na Saveiro.
É um motor não tão antigo, mas que não é tão moderno quanto o três cilindros turbinado. Mesmo quando cheia, ela anda bem e mostra bom torque acima de 4 mil giros, quando o torque máximo é atingido. Mesmo em baixo giro, a Saveiro anda bem e não se mostra manca. Oficialmente, faz de 0 a 100 km/h em 10,2 segundos.
A grande questão, é que essa boa oferta de torque, tornou a Saveiro gastona. A Volkswagen declara oficialmente 7,8 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada com etanol. Contudo, durante nossos testes, ela marcou 6,9 km/l na cidade e não passou de 8 km/l na estrada. A sede se deve, principalmente, pela falta de uma sexta marcha.
O câmbio manual de cinco marchas tem engates curtos e precisos, sendo grande referência frente ao terrivelmente impreciso e borrachudo câmbio da Strada. A embreagem é bem modulada, apesar de irritantemente enroscar no tapete, que foi desenvolvido exclusivamente para a Saveiro.
Velhos conhecidos
A reforma visual da Volkswagen Saveiro trouxe a ela uma dianteira mais imponente, mas levou consigo os faróis de dupla parábola. É a primeira vez na história que ela não tem o Gol para acompanhar seu estilo, ainda que a Volks tenha tentado emancipá-la anteriormente, mas o hatch roubou seu estilo.
A traseira com faixa adesiva fosca ligando as lanternas parece uma maneira desesperada de alinhar o estilo antigo da picape com os SUVs Nivus e T-Cross. Contudo, o conjunto como um todo agrada bastante e dá uma sensação de robustez. Já a cabine, é a mesma há anos, salvo pequenas novidades.
A versão Extreme tem painel de instrumentos com grafismos marrom, além de revestimento que imita couro com detalhes em azul e em marrom. Volante é o mesmo de antes, mas com novo logotipo, enquanto o restante do painel permanece idêntico – inclusive as portas são as mesmas desde que o Gol G5 saiu em 2008.
Se o volante é do passado, a central multimídia também: é a mesma usada pelo Golf mk7 e que já esteve no Gol e no Voyage. Tem Android Auto e Apple CarPlay via cabo, tem tela apenas ok e é boa de usar. Problema é deixar o cabo do celular pendurado e não contar com espaço dedicado ao aparelho.
Ergonomia perdida
É justamente o espaço o maior pecado da Saveiro. Ela tem pouco local para objetos, os porta-copos são minúsculos e os bolsões de porta são tão pequenos que mal cabe uma carteira. Motorista tem regulagem de altura e profundidade no volante, mas um acerto de altura do banco tão arcaico que só te permite ficar na posição mais baixa ou na mais alta.
Atrás, o espaço é nulo. Eu, com 1,87 m de altura, impossibilitei que qualquer passageiro pudesse sequer pensar em sentar atrás. O espaço é tão apertado que o banco da frente quase gruda no traseiro. Teoricamente cabem três pessoas ali, mas a altura do teto é baixa e o banco é pequeno. Só crianças ficarão confortáveis ali.
O agravante vai para o fato de que o vidro traseiro só bascula, o dianteiro não corre à frente para facilitar a entrada e o banco não é confortável. Ou seja, apesar de ser descrita como cabine dupla, não dá para chamar a Saveiro disso. É, no máximo, uma cabine estendida que se vira bem com um banco ali.
Itens de série
Pensada como versão topo de linha, a Saveiro não deve itens para a Fiat Strada – a não ser o farol de LED ou o ar-condicionado automático. Contudo, compensa pela presença de piloto automático, assistente de partida em descida, retrovisor fotocrômico, além de faróis automáticos e sensor de chuva – todos itens do pacote opcional de R$ 2.160.
Além disso, conta com alarme, vidros elétricos com função um toque, retrovisor elétrico com tilt-down, luz de neblina, dois airbags, controle de tração e estabilidade, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay via cabo, rodas de liga-leve, sensor e câmera de ré, assistente de partida em rampa e comandos de som no volante.
Veredicto
Mesmo tendo todas as suas qualidades quando analisada como produto individual, a é um carro inferior à Fiat Strada. Se a picape italiana não existisse, a Saveiro estaria bem. Mas nada justifica pagar R$ 116.740 em uma picape pseudo cabine dupla, sendo que por R$ 120.990 a Strada tem câmbio automático.
E para piorar a situação, a Volkswagen tinha a faca e o queijo na mão: o motor 1.0 TSI com transmissão automática de seis marchas. Seria um conjunto que colocaria até a nova Strada turbo no chinelo. Mas, preferiu manter-se tão ligada às raízes do Gol que, para 2023, já é um produto ultrapassado. Bom demais para dirigir, mas evidentemente cansada.
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