“Chamar um carro de 150 cv com motor de SUV compacto de esportivo é ridículo”. Com certeza vai ter um comentário assim ou algo derivado sobre o Volkswagen Polo GTS. E tão certo quanto isso será o fato de que o cidadão que o proferiu jamais sentou ao volante do único esportivo nacional 0 km (isso até o Fiat Pulse Abarth chegar).
Pilotos de Super Trunfo ou de teclado medem e comparam um carro simplesmente por números. Se ele tem 1 cv a mais que outro, é melhor, mais rápido, mais esportivo. Só que esse é um erro crasso. E qual é um dos melhores esportivos de todos os tempos? O : um caro que nunca chegou perto de 200 cv.
E por que então o Volkswagen Polo GTS com seus 150 cv e o mesmo motor do T-Cross Highline e do Taos não poderia ser esportivo? Pois ele é. E um belo esportivo. Ainda no patamar dos iniciantes e com alguns pequenos pontos que precisam melhorar para chegar lá em cima, mas o conjunto da obra já convence. Mesmo custando salgadíssimos R$ 143.220.
Coração de T-Cross
Conhecido pelos brasileiros primeiro no Golf, depois no T-Cross Highline e no Taos, mas tão desejado no Nivus, o motor 1.4 TSI de 150 cv e 25,5 kgfm de torque serve como uma luva ao Polo GTS. Entrega força suficiente e torque farto, mas também números de consumo interessantes.
Durante nossos testes com etanol, ele ficou na média de 9,4 km/l com trecho 50% estrada e 50% cidade. Oficialmente são 8 km/l na cidade e 10 km/l na estrada. Segundo o INMETRO, com gasolina ele tem resultados bem melhores, com 11,6 km/l na cidade e 14,2 km/l na estrada. Ou seja, anda bem e tem sede relativamente moderada.
Já que é de números que muitos gostam, ele registra os 100 km/h aos 8,4 segundos. Mas o interessante são as retomadas, onde o turbo enche rápido e o Polo GTS ganha velocidade sem dificuldade. É potência e torque suficiente para te divertir e deixar alguns sedãs médios metidos a besta para trás no sinal. Mas como já disse, ele é um esportivo de sensações.
Só vai
O interessante do Polo GTS, tal qual o Mazda Miata, é o quão esses dois esportivos compactos te dão confiança ao volante. O Volkswagen parece que a cada acelerada ou curva mais forte diz: “só vai, eu aguento mais”. Curvas de alta são sua especialidade, com pouca rolagem de carroceria, pneus grudados no chão e seu estômago quase encostando na porta.
Trunfo do conjunto de suspensão muito bem calibrado e com tempero típico da Volkswagen. O Polo GTS é um carro durinho, firme e que odeia buracos. Especialmente porque suas rodas de liga-leve de exageradas 18 polegadas são calçadas em pneus finos 205/48 R18 – item que é opcional por R$ 2.050.
A direção é bem pesada em modo Sport quando sai do centro, permitindo mais controle em velocidades altas e evitando esterço excessivo. Já no modo normal ela é mais pesada que o corriqueiro com o carro em movimento, mas nitidamente dobra a assistência ao engatar a ré ou manobrar. É esportivo na hora que precisa ser.
Outro momento em que o modo Sport faz diferença é no ronco do motor. O Polo GTS tem uma pequena caixa de som que reverbera no para-brisa e cria um som mais forte do 1.4 TSI como se tivesse escape preparado. Isso aumenta a sensação de esportividade sem ser artificial e contribui para a experiência geral. Mas foi algo que a VW só acertou recentemente.
Custo de um aproveitamento
Na questão chassi, direção e suspensão o Polo GTS é muito bem acertado, mostrando trunfos da plataforma MQB-A0 e do time de engenharia brasileiro. Só que ao aproveitar o motor 1.4 TSI dos SUVs compactos, a Volkswagen também usou o mesmo câmbio automático de seis marchas Aisin TF-60SN que está presente até nos modelos 1.0 TSI.
Se no Nivus esse câmbio já mostrava que tinha pouco a oferecer frente a um carro e um motor bem acertado, no Polo GTS a situação piora. Ele corta boa parte da esportividade do modelo e o deixa mais lento do que precisava. As trocas não são rápidas, em especial em alta velocidade.
Em geral, muitos carros com câmbios mais modernos e pegada esportiva trocam de marcha suave em acelerações de trânsito e no dia a dia. Mas quando o pé está em baixo, o motorista é recebido por patadas, o que aumenta a diversão ao volante. O Polo GTS não, é sempre suave, sem graça e lento nas trocas. Um ótimo comportamento para um SUV, não para um hot hatch.
E há momentos em que ele se perde, variando entre quinta e sexta marcha sem a menor necessidade na estrada. Se nos modelos 1.0 TSI já não precisava fazer isso pelo torque bom, no 1.4 TSI é a mesma situação. Por isso na Europa usam transmissão de dupla embreagem junto a esse motor, algo que tornaria o Polo GTS estupendo.
Enfim, a hipocrisia
Talvez um de meus itens favoritos do Polo GTS sejam os bancos. Eles foram desenhados para um carro verdadeiramente esportivo, com abas laterais bem pronunciadas e ótimo suporte para o corpo. Os materiais usados também são bons, com tecido de qualidade mesclado a couro em algumas partes. Nem se compara ao couro de baixa qualidade do Highline.
Só que bancos tão bem feitos contrastam muito com a qualidade ruim do acabamento do Polo. O painel é igual ao do Nivus, salvo por detalhes em cinza brilhante e vermelho. Há muita rebarba e plásticos duros de qualidade aquém do esperado. Visualmente é interessante e parece refinado, mas não toque nos plásticos.
O volante ainda é o antigo do Golf mk7, revestido com um couro de qualidade inferior ao usado no novo volante que estreou no Nivus. Além disso, os botões cromados dão a sensação de que logo descascarão. Isso tudo gera um segundo contraste, dessa vez com a central multimídia e o painel digital.
O cluster é típico da Volkswagen, mas com elementos em vermelho exclusivos do GTS. Fácil de usar e cheio de recursos, é o único da categoria 100% digital – o do Honda City é só meio digital e do HB20 finge que é. Já a central multimídia é referência em qualidade de tela, facilidade de uso e tamanho.
O problema foi que a Volkswagen colocou todos os botões principais embutidos nela. Seletor de modo de condução fica em um submenu da central que te obriga a sair do Android Auto ou do Apple CarPlay (conectados sem fio). Até mesmo o start-stop ou um simples botão de abrir o porta-malas ficam agora na central.
Por falar em porta-malas, ele só pode ser aberto pela chave ou pelo botão da central. Leva 300 litros – dentro da média da categoria. Mas não tem o divisor de cargas presente na Europa ou que o up! teve por alguns anos. Além disso, exige uma força excessiva para fechar corretamente. Espaço traseiro é escasso como no Nivus, mas pelo menos há saída de ar.
O Nivus tem
Por falar em Nivus, o que ele tem e o Polo GTS são os sistemas de segurança mais modernos. Entre eles estão piloto automático adaptativo e frenagem autônoma de emergência. Aparentemente o GTS receberá na atualização visual que se aproxima, mas nada confirmado até o momento.
De resto, traz itens como sistema start-stop, chave presencial, faróis full-LED, luz diurna de LED, vidros elétricos com função um toque em todas as portas, painel digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução, ar-condicionado digital de uma zona, vetorização de torque, controle de tração e estabilidade.
Tem ainda quatro airbags, sensor crepuscular, piloto automático não adaptativo, volante com ajuste de altura e profundidade, banco com ajuste de altura (bem amplo, por sinal), sensor de chuva, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, indicador de fadiga. Mas não tem uma singela alça “pqp”.
Veredicto
Esqueça os números parecidos com os do Volkswagen T-Cross. O Polo GTS é um esportivo de fato pelo conjunto que entrega. Te dá confiança ao volante como poucos carros para entregar uma experiência divertida em curvas e estradas sinuosas. Chassi muito bem acertado, suspensão primorosa (e firme) e volante com excelente acerto são seus trunfos.
Ele clama urgentemente por um câmbio melhor e por itens de tecnologia que o Nivus já traz. A primeira parte não deve ser resolvida na reestilização ou tão cedo, enquanto a segunda já é esperada para ser resolvida. Já o acabamento precisa melhorar em todas as versões, especialmente na GTS que custa tão caro.
É o hatch compacto mais caro do Brasil, não é fácil pagar R$ 143.220 (ou R$ 145.765 com cor vermelha e rodas 18) por um Polo. Mas o GTS é pura diversão ao volante e o jeito mais barato (por incrível que pareça) de se ter um esportivo hoje no Brasil.
>>Nivus prova que a Volkswagen tem que deixar o Brasil fazer | Avaliação
>>Novo motor 1.5 TSI da Volkswagen pode chegar a 272 cv
>>Volkswagen diz que seus carros ficarão ainda mais parecidos