Em 1993, o VW Fusca estava aposentado no Brasil havia sete anos. O mercado nacional passava por mudanças importantes, já que a abertura das importações, em 1990, fez com que diversas novas marcas chegassem ao país, além de veículos bem mais modernos do que os produzidos por aqui naquela época.
O que ninguém imaginava é que um dos carros mais clássicos do país, e fora de linha desde 1986, iria voltar a ser produzido, indo na contramão dessa onda de modernidade que o mercado brasileiro vivia. O reinício da produção do Fusca pode ter agradado os fãs do besouro, mas ao analisarmos friamente seu retorno, é possível dizer que foi um baita retrocesso no processo de modernização da indústria nacional.
Saga do carro popular
Itamar Franco era vice-presidente do Brasil até o final de 1992. Quando Fernando Collor foi deposto, coube ao mineiro assumir o posto de comandante da nação. Collor queria ser moderno de qualquer forma, adorava se exibir andando de moto aquática e até em caças da aeronáutica, e partiu dele a iniciativa de abertura do mercado brasileiro.
Itamar, por sua vez, era uma figura mais contida, quase invisível. E, do dia para a noite, se viu com a missão de comandar o país. Ele adorava andar de Chevrolet Opala, e achava que faltavam carros populares no Brasil. Vale lembrar que o país vivia uma interminável crise econômica, com inflação nas alturas e dívidas imensas.
Como a indústria não sabe perder oportunidades, os líderes das grandes fabricantes foram buzinar no ouvido de Itamar pedindo mais benefícios fiscais. Itamar então lançou um programa de carros populares, com IPI quase zerado para carros 1.0, ou então com motor de 1.600 cc refrigerado a ar. Estava pronta a brecha para a Volkswagen trazer o Fusca de volta.
VW Fusca Itamar
Como o Fusca saiu de linha em 1986, a VW tinha vendido todo o ferramental para empresas de autopeças. Ou seja, foi preciso comprar de volta parte desses equipamentos, para que a produção do besouro fosse retomada.
Assim, o Fusca renasceu em agosto de 1993, em um evento na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), com direito a um modelo conversível utilizado para um desfile de Itamar Franco. Por conta da influência do presidente na volta do modelo mais icônico da VW, o povo logo apelidou o carro como Fusca Itamar.
Melhorias
Vale lembrar que o projeto do Fusca é da década de 1930, executado por Ferdinand Porsche a mando de um certo bigodudo líder da Alemanha. Portanto, mesmo em 1993, o besouro já era bastante obsoleto. Por isso, a engenharia da Volkswagen precisou se esforçar para fazer algumas melhorias no carro, mas sem gastar muito.
No começo, o Fusca Itamar só tinha motor a etanol. Seu propulsor 1.600 a ar recebeu catalisador e dupla carburação. Dessa forma, ele entregava 58 cv e 11,9 kgfm de torque, com a tração traseira (mesma posição do motor) e câmbio manual de quatro marchas.
Na cabine, a Volks pegou peças emprestadas do Gol, como os bancos e volante, e um cinto de segurança retrátil foi instalado para os ocupantes da frente. O Fusca Itamar tinha freios a disco na dianteira com acionamento hidráulico, além de barras estabilizadoras na frente e atrás, para melhorar a dinâmica do carro.
Concorrência matadora e o fim definitivo do Fusca
A VW queria fabricar 20 mil unidades do Fusca Itamar por ano, mas a realidade do mercado havia mudado radicalmente. Na época, o VW Gol 1000 não custava tanto a mais que o besouro renascido, além de ser um projeto bem mais moderno. Sem contar que em 1994 surgiu o Chevrolet Corsa, transformando todos os concorrentes em velharia de uma hora para a outra.
O próprio Gol ganhou uma nova geração em 1994. A Ford, na época casada com a VW na Autolatina, trouxe o Fiesta no mesmo ano, e a Fiat seguia tendo o Uno como seu principal veículo popular. Ou seja, a vida do Fusca não foi fácil e o fim definitivo do modelo aconteceu em 1996.
Ao todo, foram quase 48 mil unidades fabricadas nos três anos de produção, número inferior à meta anual da VW. Porém, o Fusca Itamar agora é um clássico cobiçado, e o preço de unidades conservadas disparou nos últimos anos. Mesmo sendo obsoleto na época, o besouro conseguiu ter uma sobrevida no Brasil, além de ter ajudado a irmã Kombi a se beneficiar dos incentivos fiscais, por conta do motor 1.600 a ar.
Durou pouco, mas o Fusca Itamar entrou para a história como o carro que saiu de linha, com série especial e tudo, e depois voltou triunfante por causa de um presidente que nem imaginava que assumiria o comando do país, e que no fim teve seu nome associado ao besouro e ao plano Real.
Tem alguma história com o VW Fusca Itamar? Ou com algum outro modelo do besouro? Deixe nos comentários a sua lembrança.
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