Quando você escolhe um carro para habitar sua garagem, é preciso abrir mão de algo. Um modelo mais esportivo não vai ser confortável no dia-a-dia e vai beber muito combustível. Já um carro confortável pode ser bem sem graça para dirigir. Em um hatch falta porta-malas, enquanto um SUV pode ser grande demais. Mas e o Volvo S60 Polestar?
Ele é um raro caso de carro que se encaixa aos mais diversos perfis ao mesmo tempo. Ele é esportivo na medida certa. Mas também é esportivo ao apertar de um botão e ao girar de algumas roscas. Ao mesmo tempo, entrega boa potência enquanto tem consumo de VW up! TSI. Tudo isso com espaço interno de sobra e a elegância de um Volvo.
Mudança de hábitos
O Volvo S60 é vendido no Brasil sempre com o mesmo conjunto mecânico: independentemente se é a versão R-Design (R$ 334.950) ou a testada Polestar Engineered (R$ 371.950). Na dianteira, um motor 2.0 quatro cilindros turbo de 320 cv e 40,8 kgfm de torque. Já na traseira, o elétrico conta com 87 cv e 24,5 kgfm.
Combinados, os motores do S60 Polestar entregam 407 cv e 65,3 kgfm de torque. Números suficientes para catapultar o sedã aos 100 km/h em 4,4 segundos ao mesmo tempo em que faz 21,9 km/l na cidade ou 22,5 km/l na estrada. Uma pena que o computador de bordo do sedã em litros a cada 100 km, não km/l como nosso padrão.
Traduzindo, o Volvo S60 Polestar é capaz de andar como um sedã verdadeiramente esportivo. Ele acelera com força, fazendo o corpo grudar no banco. Uma cortesia do torque instantâneo do motor elétrico. Pena que o ronco, apesar de interessante, seja bastante contido e baixo para um modelo assinado pela Polestar que outrora foi a AMG da Volvo.
Ele traz transmissão automática de oito marchas com trocas extremamente suaves, mesmo em uma tocada mais esportiva. Além disso, a transição entre o uso do motor a combustão e o elétrico é tão bem acertada que o motorista só notará que isso aconteceu ao olhar o gráfico de força (caso esteja usando o modo Hybrid).
Suspensão personalizável
Se em questão de desempenho o S60 Polestar anda igual ao R-Design, é na hora das curvas que a coisa muda. O sedã preparado ganha suspensão Öhlins com válvulas de fluxo duplo. Ela permite que você altere a dureza do conjunto a fim de deixar o modelo mais firme ou mais confortável. Há também barras estabilizadoras na dianteira e traseira.
Combine isso á tração nas quatro rodas provida pelos dois motores e espere por um carro verdadeiramente engolidor de curvas. O S60 Polestar agarra no asfalto com unhas e dentes e se mantém extremamente estável. Em modo mais duro, ele parece preparado para as pistas, enquanto no mais macio, encara a cidade sem grandes solavancos.
A questão é que, para uma proposta mais esportiva, a direção fica devendo. Ela é excessivamente leve, mesmo em modo Polestar (o mais esportivo de todos). Não é tão direta quanto poderia, o que acaba por comprometer a ideia de esportividade que o conjunto híbrido bem acertado trás.
Calmaria
Mas para os dias em que não há tanta pressa assim, o Volvo S60 Polestar traz modo de condução 100% elétrico. Ele roda até 45 km com carga total no maior silêncio. Fica devendo um pouco de força nessas horas, mas é mais que suficiente para os deslocamentos diários a caminho do trabalho.
Em modo Hybrid, ele gerencia a força entre os dois motores a fim de ter o melhor comprometimento entre força e economia. O motor elétrico é usado em 80% do tempo, salvo momentos em que o pé fica mais pesado no acelerador. Assim, o motor a combustão só entra em ação para carregar as baterias, caso o motorista assim deseje.
Até mesmo na estrada, o S60 força o uso do motor elétrico para ser usado ao máximo a fim de economizar o que puder de gasolina. Mas basta o motorista precisar de mais força que o 2.0 entra em ação. Ou quando as baterias acabam, a gasolina começa a ser usada para movimentar o S60 e carrega-lo levemente.
Um truque usado pela Volvo para ganhar mais alguns quilômetros de bateria é o inteligente trabalho feito com a transmissão. Ao tirar o pé do acelerador com o câmbio em D, o motor é desconectado e o S60 anda apensa com ajuda da inércia. Já em B, o motor elétrico inverte o fluxo para carregar as baterias e funcionar como uma espécie de freio motor.
Pronto para o futuro
A Volvo tem como política desde 2020 que nenhum passageiro morra a bordo de um de seus carros. Por isso, o S60 Polestar já vem recheadíssimo de itens de segurança. A lista de equipamentos de série tem seis airbags, frenagem autônoma de emergência, leitor de ponto cego, alerta de tráfego cruzado e indicador de fadiga.
O piloto automático é do tipo adaptativo e conta com sistema de manutenção em faixa. Na prática, o Volvo S60 praticamente dirige sozinho. Inteligente, o sistema consegue lidar bem com faixas apagadas ou transições em ruas onde a marcação das linhas muda de direção. As frenagens e acelerações são suaves, o que torna o processo autônomo bastante natural.
O que não está tão pronto assim para o futuro é sua central multimídia. Ela tem tela de excelente definição, menus mais do que claros e usabilidade facilitada. É a grande referência entre as marcas premium. O problema é que o Android Auto e o Apple CarPlay ocupam só uma parte da tela e não tem conexão sem fio como muitos concorrentes.
Já o painel de instrumentos tem boa tela e gráficos claros, mas um notável delay. Quando o carro é ligado, os mostradores se arrastam como em um Windows 98. Há uma taxa de atualização dos números do velocímetro e do conta-giros insatisfatoriamente lenta. Pode ser um problema específico desse Polestar, pois foi algo não aparente em outros Volvo testados.
Refinamento amarelo
A cabine de um Volvo é sofisticada e acima da média da categoria, algo que o S60 Polestar honra. Há muito couro por diversas superfícies, materiais macios ao toque e metais de qualidade espalhados por pontos específicos. O sedã ainda tem bancos esportivos que misturam couro e tecido, mas que são idênticos aos do R-Design.
Esse, talvez, seja o único pênalti do Polestar: não há diferenciação suficiente em relação ao modelo de entrada. Fora os cintos amarelos, não há nada de diferente quando comparado ao R-Design. Só seria um demérito se a cabine do S60 não fosse suficientemente boa.
Veredicto
O Volvo S60 Polestar surpreende por entregar esportividade com economia de combustível no mesmo nível. Ainda assim, tem entrega de conforto, luxo e dirigibilidade apurada em igualdade. Tecnologia sobra, assim como recursos de segurança. Entre os rivais diretos, talvez seja o único que consegue tão bem esse equilíbrio entre os dois possíveis lados de um sedã.
Contudo, a não ser que faça extrema questão da suspensão Öhlins, os R$ 37 mil que separam o Volvo S60 Polestar do R-Design não se justificam. O S60 é uma das melhores escolhas na categoria, basta apenas optar pela versão certa.
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