Dentro do portfólio de SUVs da Renault, os irmãos Captur e Duster sempre se entrelaçaram. O argumento de compra para o Captur era a maior lista de equipamentos e o visual mais sofisticado. Mas aí veio a segunda geração do Duster, com mais itens de série, construção melhor e até acabamento superior. Nisso, o Renault Captur caiu nas vendas.
Para dar novamente ao modelo mais caro um argumento nas vendas, a Renault trouxe o motor 1.3 TCe da Europa, combinou a um câmbio CVT, fez mudanças na cabine e no design externo. Melhorou, e muito, mas ainda é inferior ao Duster.
Para provar isso, testamos a versão topo de linha Iconic que começa em R$ 138.490. Mas avança para R$ 141.690 com a cor de lançamento Bronze Sable com teto preto (opcional de R$ 3.200).
Estrela de três pontas
O melhor do Renault Captur 2022, e nisso ele é claramente muito superior ao Duster, é o conjunto mecânico. O SUV francês conta com motor 1.3 TCe quatro cilindros turbo de 170 cv e 27,5 kgfm de torque. É um salto frente aos 120 cv e 16,2 kgfm do 1.6 SCe que ele usava antes da reestilização e que ainda está presente em seu irmão.
Letargia anterior tinha como boa parte da culpa no peso: 1.366 kg. Isso coloca o Renault no grupo dos SUVs compactos que precisam emagrecer, grupo onde está também o Jeep Renegade. O francês se arrastava e sempre parecia letárgico. Agora não, a história é completamente outra.
Casamento entre esse motor desenvolvido conjuntamente com a Mercedes-Benz e a transmissão CVT é um dos melhores do mercado. A transmissão continuamente variável costuma incomodar no uso diário, especialmente quando faz o motor gritar excessivamente em arrancadas. E isso não acontece no Captur.
Motor e câmbio se entendem perfeitamente. Ele não sobe de rotação atoa e nem segura o giro lá em cima quando acelera. A simulação das oito marchas é um tanto quanto artificial, não executando as trocas fake tão bem quanto o Toyota Corolla e Corolla Cross com motor 2.0. Mas é suficiente para evitar o chato efeito enceradeira de alguns CVT.
O Captur turbo é ágil, responde rápido ao pedal do acelerador e rapidamente eleva a rotação suficientemente para retomar. Segundo a Renault, ele precisa de 9,2 segundos para atingir os 100 km/h – número dentro da média da categoria com modelos turbinados. Já o consumo é ok: nossos testes com etanol ele não foi além de 7,2 km/l (50% cidade, 50% estrada).
Por que não?
Construído sobre a mesma plataforma B0 do Duster, o Captur não passou pelas mesmas mudanças estruturais. Compartilhamento único ficou por conta da direção elétrica com ajuste de profundidade (finalmente!). Ela tem peso adequado, não leve demais e nem pesada em excesso. Além disso, é surpreendentemente rápida, pedindo uma tocada esportiva.
Contudo, a sensação de robustez e a suspensão bem acertada do Duster não chegaram ao Captur. O novo SUV compacto francês tem acerto mais mole, fazendo com que a carroceria balance de um lado para o outro em curvas mais fortes. Dá para sentir o deslocamento de massa dele nessas situações.
A absorção de impacto das péssimas ruas brasileiras é boa, mas mais ruidosa que no Duster e também com um pouco menos de sensação de robustez. O Captur devolve com um som oco as batidas nos buracos e imperfeições. Ainda assim, a boa altura em relação ao solo (21,2 cm) faz com que ele seja valente e não raspe fácil em situações urbanas.
Vale um elogio à Renault pelo uso de pneus Michelin 215/60 R17 no Captur. Eles são pouco ruidosos e bons de curva, fazendo com que o SUV fique mais estável. O problema foi ter usado as mesmas rodas do Duster Iconic na versão topo de linha do estreante: elas não casam com o visual arredondado do modelo.
Bela viola
E é justamente o visual o grande ponto chave do Renault Captur. Ele é inegavelmente bonito e a reestilização fez muito bem a ele. Ganhou nova grade frontal mais quadrada e robusta – exclusiva para o Brasil. Além de para-choque com estilo modificado e novo LED diurno em C.
A traseira tem somente a régua da placa na cor da carroceria e o escrito TCe como novidades. Por dentro também foram feitas mudanças importantes, mas com vários poréns. Acabamento do Captur sempre foi ruim, com plásticos de qualidade questionável e montagem aquém do esperado.
Na tentativa de melhorar a imagem do modelo, a Renault deu parte superior do painel com material macio ao toque na cor marrom. Tiras de couro no console central acompanham uma bela plaqueta metálica onde está o botão de partida e alguns comandos do carro logo abaixo. Volante do Duster tem couro de ótima qualidade, boa empunhadura e botões de fácil acesso.
Entretanto, onde o acabamento do antigo Captur restou, continua ruim. As portas tem qualidade e peças desalinhadas com o painel. É um plástico pobre, bem inferior ao usado no Duster – isso porque o Captur é R$ 28.600 mais caro que o SUV de entrada da Renault.
Os bancos dianteiros são confortáveis e trazem revestimento de couro com boa qualidade. Mas são excessivamente altos. Motorista tem regulagem de altura, mas parece sentado em um cadeirão. Já o passageiro, mesmo alguém de estatura mediana, chega a raspar a cabeça no teto.
Atrás, o espaço é acanhado. Algo surpreendente, visto que o Captur flerta com os SUVs médios em questão de porte. Ele tem 4,37 m de comprimento, 2,67 m de entre-eixos, 1,81 m de largura e 1,61 m de altura. Era de se esperar que devido ao seu porte, o espaço traseiro fosse mais farto. Com passageiros altos na dianteira, quem senta atrás sofre aperto.
Em compensação, o porta-malas é bastante generoso: são 437 litros e só não é maior que o do seu irmão Duster. Superfície plana e tampa do porta-malas bem baixa fazem com que seja fácil colocar cargas mais pesadas ali dentro.
Quatro lados
Se antes o Duster Iconic tinha vantagem sobre o Captur Bose na lista de itens de série, agora o modelo 2022 traz alguns truques a mais. Herdou do irmão mais barato seu sistema de quatro câmeras, uma na dianteira, uma na traseira e uma em cada lateral. Não formam uma visão 360° como no Nissan Kicks, mas já é algo que ajuda muito nas manobras.
O Captur Iconic também tem chave presencial com abertura e travamento por aproximação, mas com a possibilidade de ligar o motor remotamente – recurso ausente no Duster. Ademais eles seguem com lista semelhante: ar-condicionado automático (mesma peça do Sandero RS), sensor de ponto cego, quatro airbags, câmera de ré e bancos revestidos em couro.
Há ainda vidros elétricos nas quatro portas, comandos de som satélite, luzes de neblina, monitoramento de pressão dos pneus, sistema de som Bose, retrovisores elétricos com rebatimento, start-stop, sensor de chuva e de farol. A central multimídia traz Android Auto e Apple CarPlay com conexão por fio.
Ela tem tela de definição relativamente boa, é fácil de mexer e bem ágil. Tem menus claros e elegantes, além de usabilidade amigável. Ela contrasta com o painel de instrumentos com velocímetro digital grande e computador de bordo simples até demais e com definição baixa que parece ter vindo de 2003.
Veredicto
O evoluiu muito em pontos cruciais e necessários. Acerto entre motor e câmbio é um dos melhores da categoria, enquanto o consumo é ok, mas melhor que o do 1.6 aspirado. O acabamento melhorou, porém continua com alguns pontos ainda ruins e bem abaixo da categoria.
Em suma, se está de olho em um SUV da Renault, fique com o Duster Iconic de R$ 109.890, que é R$ 28.600 mais barato que o Captur. O motor turbo e o câmbio CVT novo são verdadeiramente superiores ao conjunto do Duster, mas que não justificam os quase R$ 30 mil a mais. E há outra questão: em breve o Duster também terá motor 1.3 turbo.
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