Apesar de o brasileiro amar carros grandes, nosso país não foi feito para modelos com porte de imóvel como as Ram 1500, 2500 e 3500. Especialmente em centros urbanos, andar com essas caminhonetes é como levar um elefante a uma loja de cristais. Mas a marca está na moda e muitos querem uma . Só que agora com a Rampage será possível.
Não somente porque ela custa muito mais barato que a Classic de entrada, tabelada em R$ 357.990, enquanto a Rampage vai de R$ 239.990 a R$ 269.990. Mas também porque o modelo tem porte pouco maior que da Fiat Toro e se encaixa melhor no ambiente urbano inóspito.
Com a missão de levar a Ram ao status de marca de luxo mais vendida do Brasil (ainda que ela não seja uma marca de luxo, mas a Stellantis diz que é), a Rampage foi a primeira caminhonete desenvolvida pela marca fora dos EUA. Produzida em Goiana, PE, ela tem base de Fiat Toro, mas é muito mais do que isso.
Canhão de caçamba
Nesse primeiro contato, pudemos dirigir a Rampage somente nas versões R/T e Rebel, ambas equipadas com motor 2.0 quatro cilindros turbo a gasolina – a grande estrela da gama. E isso tornou a experiência ainda mais interessante, porque a Rampage é um verdadeiro canhão de caçamba.
São 272 cv e 40,8 kgfm de torque capazes de levar a picape aos 100 km/h em 6,9 segundos. Ou seja, mais rápida que um . Só que a entrega é interessante. Por ter bom isolamento acústico e ser um carro alto, ela não parece andar tão rápido quanto de fato está.
Junte isso ao funcionamento linear e sem trancos da transmissão automática de nove marchas e entenderá que a pegada da Rampage é ser rápida só por um acaso. É o mesmo espírito de suas irmãs com gigantescos motores V8 ou seis cilindros em linha. Piscou, a Rampage está mais rápida do que deveria.
Dinâmica de SUV
Durante os testes, pudemos andar em circuito fechado em que foram atingidos 190 km/h com a picape completamente estável. A carroceria não oscilava e se mantinha sólida. Nas curvas com o modelo R/T, a Ram saiu um pouco de frente e cantou bastante pneu. Faz as curvas bem para uma picape, mas menos precisa que a Ford Maverick.
Não rola pouco nas curvas e pula bem menos do que uma picape, se aproximando do comportamento de um bom SUV. Mas longe da pegada de hatch da rival da Ford. A direção é bem leve como todo modelo da Stellantis com essa base, mas que ganha firmeza e velocidade de reação mais interessante no modo Sport (ou R/T na versão de mesmo nome).
Só que o mais legal é a versão R/T pensada por verdadeiros entusiastas. Ela conta com sistema de escape mais esportivo, que produz um ronco tão forte quanto do Pulse Abarth. Além disso, produz estouros nas trocas de marcha ou quando acelerada até o talo com o câmbio no P. É incrível que uma picape faça isso.
Valente off-road
Outro ponto muito explorado pela Ram durante o lançamento da Rampage foi sua capacidade off-road. Munido da versão Rebel, levamos a picape para um off-road relativamente pesado, com direito a subir escadas com ela e rodar com 500 kg de carga na caçamba em meio a um lamaçal.
A tração nas quatro rodas tem acionamento automático, mas fica ativa em boa parte do tempo. Em momentos tensos, você sente a eletrônica atuando e a força sendo distribuída para cada roda nitidamente. O interessante é que a Stellantis tornou o off-road com a Rampage algo fácil, porque ela controla tudo quanto é eletrônica.
A robustez extra em relação à Toro é sentida nesses momentos. A Rampage roda mais sólida, torce menos a carroceria e enfrenta buracos com a mesma valentia do Renegade Trailhawk, que é um tanque. Controles eletrônicos de partida em rampa e de auxílio de declive tornam mais fácil enfrentar a buraqueira que a Ram finge não existir.
Atmosfera de Ram
Um dos pontos em que a Ram precisava prestar mais atenção em relação à Fiat Toro para imprimir sua imagem de marca premium era no interior. A cabine da caminhonete é sofisticada até certo ponto. A parte superior do painel é toda macia (e herdada do Compass e do Commander), mas há couro também em uma larga faixa.
Porta macia ao toque com couro e material emborrachado fazem parte do pacote, junto do volante com couro de ótima qualidade. Só o miolo com plástico duro que imita costuras e tem qualidade questionável que deixa a desejar. Console central alto ajuda a dar uma sensação de um carro mais refinado, especialmente por conta do rotor para marcha.
Na parte de baixo do console, há mais espaço para objetos e entradas USB. A picape conta com banco com ajuste elétrico para o motorista de série em todas as versões. E é nítida a mudança em relação aos Jeep e à Toro. É um banco maior, mais macio e refinado. Junte isso à nova tela de 10,2 polegadas no painel de instrumentos e entenderá essa subida de degrau.
Mas toda sofisticação vai por água abaixo na fileira traseira. As portas recebem acabamento em plástico duro e o espaço é apertado. Nesse quesito a Ford Maverick dá banho, acomodando três pessoas tranquilamente atrás. A Rampage, por outro lado, é apertada tal qual a Fiat Toro – incluindo o banco traseiro reto até demais.
Veredicto
Para quem buscava uma caminhonete sofisticada, era preciso apelar para as Ram 1500, 2500, 3500 ou Ford F-150. Até porque as picapes médias são todas recheadas de plásticos duros no interior e não entregam o mesmo nível de acabamento. A Ford Maverick menos ainda. Mas a Ram Rampage pega justamente esse público.
Seu preço é mais alto do que o da Fiat Toro e até belisca algumas picapes médias, mas justamente por entregar algo que ninguém até agora entregou: sofisticação no interior e de rodagem, sem apelar para um tamanho grande. Bem posicionada, muito bem equipada e com visual diferente do comum, ela vai vender muito certamente.
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