Se uma coisa aprendi enquanto testava a RAM Classic é que só existe uma maneira de fazer uma parecer pequena: passe uma semana com uma RAM. Gigantesca, luxuosa e cheia de superlativos relacionados ao seu tamanho generoso, ela é uma alternativa real ao abarrotado segmento de caminhonetes médias.
Foi-se o tempo em que uma caminhonete média como Toyota Hilux, Volkswagen Amarok ou Ford Ranger passavam dos R$ 200 mil. A realidade é que suas versões topo de linha já convivem na faixa dos R$ 300 mil com naturalidade, custando, respectivamente, R$ 352.290, R$ 335.500 e R$ 329.990.
Por isso, foi possível ver uma movimentação de clientes para o segmento de cima, hoje só atendido pela RAM e sua linha de quatro caminhonetes. Mas, o grande atrativo da família está nas mãos da RAM Classic. Ela começa em R$ 349.990, ou seja, mais barata que a Hilux GR-S e vai até R$ 359.990 na Night Edition aqui testada. E oferece mais em alguns aspectos.
Planejamento de rota
O salto de preço até não parece muito, mas em porte é nítido. A RAM Classic tem 5,81 m de comprimento, 2,01 m de largura e 1,97 m de altura. Ou seja, 49 cm mais longa que uma Hilux, 16 cm mais larga e 16 cm também mais alta. Algo suficiente para fazer com que ela não coubesse na minha garagem e tivesse de usar o espaço para visitantes do prédio.
É inconveniente o tamanho colossal dessa picape em centros urbanos, onde é possível também praticamente entalar em um estacionamento (sim, aconteceu isso em um Burguer King) e ter de planejar sempre sua rota para saber se ela caberá no local a estacionar. Por isso, o foco da RAM não é em cidades populosas como Campinas e São Paulo.
A marca quer conquistar o público do campo, especialmente da região centro-oeste que conta com largas avenidas e rodovias extensas. Nesse momento, o porte jamantônico da RAM Classic nem se faz sentir, especialmente por conta do conforto a bordo. Na estrada ela é uma rainha.
O conjunto de suspensão pensado para o conforto faz com que a RAM Classic flutue na estrada com pouca oscilação de carroceria e mal sentindo os efeitos de deslocamento de ar vindo de caminhões. Afinal, ela não está tão longe deles em questão de porte. Na cidade, a Classic pula bastante, mas os impactos são absorvidos com bem mais competência que algumas médias.
E mesmo sendo grande, ela não é difícil de manobrar. A direção é suficientemente leve, contando com assistência elétrica, que ajuda muito na hora de procurar uma vaga. O volante é grande, mas acaba por combinar com o comportamento da RAM. Há de adicionar que o sistema de direção é surpreendentemente rápido para o porte do carro.
V8 borbulhante
Ao contrário de todas as picapes médias à venda no Brasil, a RAM Classic bebe gasolina. Isso foi obrigatório porque o Brasil exige que os modelos com caçamba levem, pelo menos, 1 tonelada na traseira para que o uso de diesel seja liberado. A picapona leva só 531 kg — menos que uma Fiat Strada cabine dupla.
Isso se dá por conta da necessidade dos norte-americanos em rebocar coisas ao invés de levar na caçamba. Por isso, o escolhido foi o motor V8 HEMI 5.7 de 400 cv e 56,7 kgfm de torque. Ela é bem mais potente que todas as médias e tem mais torque e mesmo pesando quase meia tonelada a mais que as rivais menores, ela dá um banho de performance.
A RAM Classic acelera como um legítimo muscle-car americano. O interessante é que, ao arrancar, ela parece dar um salto e vai ganhando velocidade rápido. Nas retomadas, o motor V8 só acende a partir de 2 mil giros, recebendo o motorista com uma patada, enquanto acelera borbulhando os oito cilindros de maneira que nenhum diesel faz.
Abaixo desse regime de giro, ela ronrona silenciosa e deslancha na estrada sem esforço. Para controlar a força, ela conta com uma transmissão automática de oito marchas muito bem escalonada. As marchas são trocadas rapidamente e de maneira imperceptível, baixando o giro rápido. Só demora a reagir quando o pedal do acelerador é pressionado fundo.
O conjunto mecânico moderno contrasta com o freio de estacionamento acionado no pé e desativado por uma barulhenta alavanca. Além disso, o consumo não é nada bom. Oficialmente a RAM declara que a Classic faz 5,2 km/l na cidade e 6,4 km/l na estrada. Durante nossos testes ela marcou média de 6 km/l cravado.
O bom é que o tanque (que é quase uma piscina) de 98 litros permite autonomia acima de 500 km em qualquer situação.
Tenho porte
Basicamente uma RAM 1500 de geração anterior, a Classic é bem equipada, mas deve muito em tecnologia. Um carro desse porte descomunal deveria ter sensor de estacionamento na dianteira, mas conta apenas na traseira junto de uma câmera de ré. Além disso, não há qualquer tipo de sistema de auxilio de condução ou de segurança ativa.
Ela vem com itens de luxo, mas não muito tecnológicos como central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay via cabo, faróis com LED diurno e projetor (onde é impossível ver a seta funcionando durante o dia), seis airbags, assistente de partida em rampa, controle de tração e estabilidade, ar-condicionado digital de duas zonas e tração 4×4.
A picapona ainda traz bancos elétricos para o motorista e passageiro, aquecimento para os quatro assentos e volante, resfriamento para os bancos dianteiros, piso elevado para crianças na traseira, chave presencial, monitoramento de pressão dos pneus, piloto automático simples, retrovisores elétricos com rebatimento e pedais com ajuste elétrico.
O volante regula em inclinação, não em altura, muito menos em profundidade. Além disso, a caçamba não traz capota marítima, algo que suas primas Fiat Toro e Strada, que custam menos da metade, já incorporaram na lista de equipamentos padrão. Ao menos a caçamba tem protetor no piso, ao contrário de algumas médias.
Pé direito duplo
A grande (literalmente) vantagem de ter o porte que tem é que a RAM Classic é muito espaçosa. Motorista e passageiro ficam tão longe um do outro que a OMS aprovaria o distanciamento social entre eles mesmo nos tempos mais tensos da pandemia. Essa lonjura permitiu a instalação de um console central com mais espaço que uma kitnet em São Paulo.
O console é dividido em dois andares, com a parte superior rasa com duas entradas USB, porta moedas e espaço para itens pequenos. Já a parte inferior consegue abrigar até uma mochila. O console ainda traz dois porta-copos grandes, um espaço vazado para objetos maiores e dois bolsões nas laterais.
Porta-luvas duplo traz mais espaço para quinquilharias junto das portas que trazem duas sessões para objetos e mais dois porta-copos cada. Na traseira, o espaço para as pernas é digno de uma limusine, garantindo espaço para todos. Só é estranho o local para o porta-copos: À frente do assento central.
Para as crianças, o piso traseiro pode ser elevado usando uma plataforma que fica dobrada debaixo do banco. Ao elevar o assento, uma pequena luz marca presença para iluminar o interior e ajudar a ajeitar o acessório. Além disso, há um compartimento secreto no piso, que fica camuflado pelo tapete.
Marca premium
O preço alto da RAM Classic também pode ser traduzido no refinamento que a caminhonete apresenta em seu interior. A Stellantis já deixou claro que a marca do carneiro será premium no Brasil e isso fica evidente até no modelo mais barato da marca. Toda porção superior do painel é forrada em couro com costuras, assim como sessões da porta.
O volante tem couro acolchoado, enquanto os bancos apresentam uma textura de qualidade no couro. O único ponto que destoa é o console central que traz material emborrachado um tanto quanto áspero. Há plástico duro em alguns elementos, mas de qualidade. Para dar um ar a mais de refinamento, ela traz ainda imitação de madeira nas portas e painel.
Por se tratar de um carro antigo, a RAM Classic traz os mesmos botões de comando no volante que o Uno tinha. Já a central multimídia é a que o Renegade e o Compass usavam antes da reestilização – eficiente, mas que mostra sinais de idade. Além disso, o painel de instrumentos analógico já não transpira modernidade.
Veredicto
A proximidade de preço entre a RAM Classic e as caminhonetes médias topo de linha faz com que a compra da gigantesca seja mais do que justificada. Afinal, um picapeiro valoriza porte e conforto, algo que ela entrega de sobra. Além disso, tem performance que nenhuma rival do segmento inferior consegue equiparar.
Abre-se mão de modernidade de equipamentos de segurança e comodidade, além do consumo baixo do diesel, para ter um muscle-car com caçamba construído com acabamento digno de uma marca de luxo. Só meça sua garagem antes de comprar uma RAM Classic, pois não é em todo lugar que ela cabe. Eu, por exemplo, teria de me mudar.
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