Na história do automóvel são poucos os carros com décadas de história e que são idolatrados a cada mudança de geração. Mas nada se equipada ao Porsche 911. Por anos a fio ele se tornou a referência de carro esportivo, mesmo indo contra todas as cartilhas dessa categoria. E não somente isso, seu desenho ainda é o que influencia todos os Porsche.
A Porsche sabe seus filhos tem que parecer visualmente e, de alguma maneira, andar como um 911. Desde o SUV de entrada Macan até o elétrico Taycan, a alma do 911 tem que estar lá obrigatoriamente. Mas e quando se trata do ponto máximo desse icônico modelo? Essa é uma resposta de R$ 1.509.000.
Absurdo dia-a-dia
Ao longo de tantos anos, o Porsche 911 ficou conhecido como um esportivo que poderia ir das pistas ao supermercado com a mesma eficiência. Contudo, as versões mais caras começam a apelar para lados diferentes da usabilidade. Os GT2 e GT3 são claramente carros de autódromos transformados em modelos de rua. Mas aí que entra o insano Turbo S.
A Porsche colocou o que há de melhor em dirigibilidade e em tecnologia na versão topo de linha de seu esportivo. Contudo, sem abrir mão do luxo e até do conforto, por incrível que pareça. Ele foi pensado para ser usado no dia-a-dia, como um carro comum, ao contrário do GT3 que vai te exigir uma coluna e joelhos novos.
Começa pelo fato de que a suspensão é dura, mas não no nível de um carro da Mini. O 911 Turbo S traz sistema ajustável de altura do conjunto e também de dureza. No dia-a-dia é possível rodar até que tranquilamente em ruas não tão lisas e asfalto irregular sem que o esportivo fique quicando ou que sua espinha sofra.
Isso significa então que ele deve na performance em curvas? Muito pelo contrário. Todos os sistemas eletrônicos estão prontos para deixar o 911 mais duro em caso de velocidade mais alta. Além disso, o eixo traseiro esterçante faz com que esse esportivo faça curvas rápido. Extremamente rápido.
É tanta força G lateral que é mais fácil seu cérebro se desloque para um lado da sua cabeça do que o Porsche 911 Turbo S desgarre na curva. Ele gruda no asfalto e vira com tanta força quanto um alemão segura sua jarra de cerveja enquanto come um salsichão. Beira o absurdo como a frente aponta e a traseira responde criteriosamente.
Tradição não se mexe
Ele não desgarra e não escorrega, algo que desafia as leis da gravidade. Afinal, o motor 3.8 seis cilindros boxer está posicionado lá na traseira do Porsche 911 – como acontecia com o Fusca e com a Kombi. Hoje todos os esportivos de elite, até o Chevrolet Corvette, usam motor central traseiro. O 911 não, e isso faz parte da sua essência.
Com 650 cv e 81,6 kgfm de torque, ele chega aos 100 km/h em apenas 2,7 segundos. É mais rápido que o que faz isso de . A diferença é que o 911 Turbo S demonstra toda sua força e velocidade com um ronco característico que ronrona bem ao pé do ouvido do motorista.
Não dá para confundir o ronco de um Porsche com motor boxer, em especial o Turbo S que conta com um toque a mais de som com o sistema de escape ativo. Admito que andei 99% do tempo com ele ligado – afinal, essa sinfonia alemã tem que ser ouvida em sua melhor e mais forte forma.
Tempestade e calmaria
Controlado pela transmissão PDK automatizada de dupla embreagem com oito marchas e pela tração integral, o 911 Turbo S dispara sem a menos cerimonia. A patada nas retomadas é tão forte que é capaz de deixar sua visão periférica afetada por alguns pequenos segundos. Ao mesmo tempo em que o coração dispara na mesma velocidade que o conta-giros sobe.
O espírito amedrontador das gerações anteriores do 911 Turbo S continua ali, mas agora com muito mais precisão e menos a sensação de que ele quer te matar – afinal a traseira não sai mais descontrolada de um lado para o outro como antes. O bólido ficou controlável até para os momentos de abuso, onde ele se mostra tão preciso quanto um relógio suíço.
Ainda assim, quando a tocada fica mais calma, ele se transforma completamente. As marchas são trocadas bem cedo, deixando o motor ronronar. Praticamente imperceptíveis, as oito marchas vão subindo rapidamente. Já em um sinal, abaixo dos 7 km/h ele já desliga o motor para economizar combustível.
É algo que não adianta muito, já que ele não ficou muito além dos 6 km/l durante nossos testes. Mas tenho certeza de que condução econômica e ecologicamente correta é a última das coisas na lista de preocupações de um dono de um Porsche 911 Turbo S.
Fazenda nas montanhas
A usabilidade do Porsche 911 Turbo S nas rotinas diárias fica ainda mais evidente dado o trato de seu interior. Enquanto as demais versões mais esportivas do modelo apostam em reduções drásticas de peso e corte de tecnologias e acabamento, por aqui o couro impera, assim como a tecnologia.
Ele não tem interior cheio de frufru ou fressuras. Chega a ser algo até simples para um carro de mais de um milhão de reais, mas a Porsche sabe que é a experiência de pilotagem que conta no final do dia. Por isso, a cabine tem que ser pensada justamente para essa atividade. Nada de excesso de botões ou de linhas: tudo é simples e fácil de mexer.
Linhas horizontalizadas dominam e trazem até certa aura retrô. A posição de dirigir é bem baixa, praticamente deitada. Mas há bastante ajuste e comandos fartos nos bancos. É possível mudar até as almofadas laterais dos assentos de acordo com a sua preferência. O volante tem ajuste elétrico e é o mesmo do Taycan, tendo comandos de fácil acesso.
Para facilitar a vida do motorista, o painel de instrumentos conta com duas telas digitais de altíssima definição configuráveis. Pena ser grande demais e os visores na extremidade serem completamente tampados pelo volante. Ainda em tecnologia, um pequeno pênalti que a Porsche insiste em não corrigir: a central multimídia.
O 911, assim como todos os outros Porsche, tem apenas Apple CarPlay, nada de Android Auto. Ou seja, a não ser que você tenha um iPhone, nada de espelhar seu celular na tela. Isso implica em usar o sistema da própria marca, que é um pouco poluído e vez ou outra confuso, sem contar o GPS ruim.
Para facilitar a vida, o Porsche 911 Turbo S ainda traz piloto automático adaptativo que funciona muito bem. Ele faz reduções e acelerações suaves, mesmo com trânsito pesado. Já a frenagem autônoma de emergência atua com precisão em momentos de pânico (ou de desavisados pedestres tentando atravessar a rua no local errado).
Veredicto
Não existe um carro como o Porsche 911 Turbo S. Ele reúne toda história da marca alemã em um desenho icônico e performance que vai além do esperado. Uma estrela automotiva que se consagra ao longo dos anos e sem a menor possibilidade de perder a coroa.
Tudo isso com a vantagem de que ele consegue ser usável no dia-a-dia da mesma maneira em que desloca todo os seus órgãos para locais errados quando acelera ou faz curva. Ele está pronto para as pistas e para o supermercado (ok, nem tanto porque o porta-malas dianteiro cabe uma mochila e pouca coisa além disso).
>>Porsche Taycan redefine tudo que você sabe sobre carros | Avaliação
>>Mercedes-Benz C 63 AMG S e a triste despedida do motor V8 | Avaliação
>>Volvo XC90 é o carro perfeito para (quase) tudo | Avaliação