Se tem uma marca que está com tudo pronto para virar o jogo é a Peugeot. Desde que os grupos FCA e PSA casaram, formando a Stellantis, a marca do leão foi a mais beneficiada aqui no Brasil. E justamente o SUV elétrico Peugeot e-2008 mostra isso.
Não, ele não foi desenvolvido depois da chegada da Stellantis, mas ele aponta para um futuro no qual a Peugeot precisa trilhar para fazer sucesso. Os SUVs estão vendendo como água no Brasil e o 2008 a combustão (ainda na primeira geração), já tem muitas rugas.
A situação do modelo piorou, e muito, com a reestilização leve e com a chegada do e-2008. Mas um flagra exclusivo feito pelo Auto+ revelou que a Peugeot prepara a nova geração do SUV compacto com motor a combustão para cá. E ainda bem, porque o carro é ótimo.
Marca premium?
A grande questão do Peugeot e-2008 é como ele parece um carro de marca premium em diversos aspectos: rodagem, visual, mas especialmente acabamento. Curiosamente, o carro que será avaliado na semana que vem é um modelo de porte semelhante e de montadoras de luxo. Mas que toma uma surra em acabamento para o Peugeot.
O interior é sofisticado e moderno, com a parte de cima do painel feita em material emborrachado de alta densidade. As portas dianteiras são totalmente rebatidas de material emborrachado ou couro, salvo a parte inferior de plástico.
Os encaixes são muito bons e os plásticos preto piano são de qualidade. Há de destacar o centro de comando com botões físicos em metal e partes touch. Além disso, a manopla de câmbio é feita em metal rígido pesado, que passa uma sensação de qualidade.
O couro do volante e dos bancos faz o Mercedes-Benz CLA 250, testado na semana passada, parecer um modelo generalista. O assento é confortável, com abas laterais bem pronunciadas e toque aveludado do couro.
Sinceramente, não esperava esse tipo de cuidado de acabamento e materiais em uma marca que não é de luxo. Especialmente pelo preço que a Peugeot cobra no e-2008: R$ 259.990.
Pecados e virtudes do 208
Mas nem tudo é perfeito. O espaço interno, assim com o do 208, é acanhado. Claro que por ser um SUV maior e mais largo, ele é mais espaçoso que o hatch compacto. O e-2008, aliás, com seus 4,30 m de comprimento, é um dos maiores da categoria e, sem dúvida, o mais bonito.
Contudo, como a posição de dirigir é baixa e a cabine privilegia o espaço para quem senta na frente, a segunda fileira sofre. Área para as pernas é próxima a do Jeep Renegade, que é bem menor. Já o porta-malas de 405 litros é bom, largo e com divisória de cargas que facilita a vida.
Por compartilhar muito do 208, o Peugeot e-2008 também traz alguns de seus truques. E exemplo é o painel de instrumentos digital 3D genial e o mais bem resolvido entre os modelos da categoria. Tem gráficos claros, diversos tipos de personalização e é fácil de usar.
Pena que a Peugeot ainda não usa a central multimídia de nova geração que já está no 208 e no Citröen C3 para o nosso mercado. A do e-2008 é boa, mas mais antiga, um pouco lenta e deixa parte do Android Auto e do Apple CarPlay cortados e ainda conectados por fio. Além de ser irritante ter que sair do espelhamento toda vez que se faz necessário mexer no ar-condicionado.
Servidos?
Por falar em ar-condicionado, que é de uma zona, a lista de itens de série do Peugeot e-2008 é bem recheada e reforça essa ideia premium que ele passa. Ele conta com direção elétrica com ajuste de altura e profundidade, chave presencial que tranca o carro e destranca por aproximação, carregador de celular por indução, bancos dianteiros aquecidos e câmera de ré com qualidade horrível.
Há ainda piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego, sistema de manutenção em faixa (de excelente operação e que deveria servir de lição para os Fiat e Jeep), seis airbags, assistente de partida em rampa, teto solar panorâmico (que abre, ao contrário do 2008 nacional), faróis full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta.
Para se chamar de premium, fica devendo banco com regulagem elétrica e porta-malas com abertura elétrica. Mas como a Peugeot é uma marca generalista, a lista de itens de série não dá para reclamar.
Acerto de base
O que também não dá para reclamar é da dirigibilidade do e-2008. A Peugeot vem investindo forte no visual de seus modelos, mas tambémprazer ao dirigir. E esses dois pontos ficam bem claro ms no SUV elétrico. Mas a dirigibilidade é reforçada especialmente por dois fatores: posição de dirigir baixa e plataforma bem acertada.
A base modular CMP, que será usada por carros da Fiat e da Jeep em breve, permite ao e-2008 ter muito chão em curvas. Além disso, o centro de gravidade mais baixo, por conta do peso das baterias, faz ele se comportar tão bem quanto o 208, mesmo sendo mais alto.
A direção mais firminha contribui para isso. Tal qual a Jeep, a Peugeot deixa o volante extremamente leve mas manobras, enquanto na estrada e em alta velocidade, ele assume um peso mais acentuado e nítido. Como o volante é pequeno, torna o e-2008 um carro mais direto e na mão. A sensação de controle é nítida.
Junte isso à suspensão bem calibrada do Peugeot e-2008 e terá o SUV compacto com o melhor handling da categoria. Diferentemente de antes, em que os Peugeot e Citröen tinham pavor de buracos, agora ele os encara sem muito medo. Claro que não é um Jeep, mas não bate seco como antes. Já nas curvas, a suspensão segura bem o e-2008.
O único ponto é a falta de isolamento acústico na roda traseira. Em chuvas fortes, como tem sido recorrente no estado de São Paulo nos últimos meses, o Peugeot faz muito barulho. É nítido o som da água batendo ali, lembrando até do Volkswagen up! TSI que tive e que sofria do mesmo mal.
Sem dívidas
Confesso que carros elétricos me deixaram mimado. Os primeiros modelos nessa categoria apresentaram performance estúpida. Mesmo modelos que não são pensados para andar demais, como os Volvo C40 e XC40, são elétricos brutos. Mas não é o caso do Peugeot e-2008.
Ele não é o carro que vai te fazer grudar no banco ou falar ‘uau’ em uma aceleração. Especialmente porque faz de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos — tempo normal para a categoria, mesmo considerando modelos a combustão. Mas não significa que ele seja lento.
Ao contrário do Mercedes-Benz EQB em que a performance decepciona, o Peugeot e-2008 é justo. Acelera bem, faz retomadas instantâneas sem negar força, mesmo lotado em seu interior. Afinal, são 136 cv e 26,5 kgfm de torque disponíveis instantaneamente. Anda bem, mas não excepcionalmente como alguns elétricos que me acostumaram mal.
Já a autonomia é ok. No ciclo de medição brasileiro que entrou em vigor recentemente, bem mais realista que o WLTP, o Peugeot e-2008 promete fazer 234 km. Ao carregar 100%, seu painel exibe otimistas 275 km. Mas em diversas situações ele “consumiu” 2 km ao rodar 1 km.
Surpreendente na estrada ele drena menos a bateria do que a maioria dos elétricos. Seu sistema regenerativo é um tanto quanto forte, exigindo uma posição bem específica do acelerador para deixar o e-2008 totalmente solto. Durante os testes, ele rodou pouco mais de 220 km, com estrada sempre envolvida, antes de pedir arrego para a tomada.
Veredicto
Pensando como carro elétrico, o Peugeot e-2008 é um dos melhores custo-benefício hoje disponíveis no Brasil. Pelo preço de um hatch compacto, você leva um SUV. Além disso, o valor é de marca generalista, mas ele entrega acabamento e dirigibilidade de premium.
Só que vou além: o Peugeot e-2008 mostra o gigantesco potencial que a segunda geração do SUV compacto da marca francesa tem. Se a Stellantis acertar no preço e trouxer somente versões turbo, ele tem chance de vender bem mais que o 208 e se tornar o campeão de vendas da marca por aqui.
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