Já fui dono de um Volkswagen up! TSI e quando a marca anunciou sua morte em abril de 2021, achei que seria o fim do hatch compacto turbo manual divertido. Tudo bem que existe o Onix turbo manual, mas ele é mais voltado ao conforto. Por sorte, a Hyundai lançou o HB20 turbo manual, mas faltava algo vindo da Volkswagen. A solução chegou com o novo Polo TSI manual.
O modelo é a grande novidade da linha 2023, que vem acompanhada das já tradicionais versões MPI, Comfortline e Highline. Na prática, o Polo TSI manual substitui as versões MSI com o antigo motor 1.6 e opções de transmissão automática ou manual. Só que o espírito do saudoso up! TSI está lá…quase que literalmente.
Na mudança de ano modelo e junto da reestilização, o Polo ganhou o mesmo acerto de potência e torque que o up! TSI tinha. Antes eram 128 cv, agora são 116 cv. O torque caiu de 20,4 kgfm para 16,8 kgfm. E, sinceramente, você não vai sentir falta desses pocotós a mais. Por mais que sejam 12 cv e 3,6 kgfm, na prática real, nada diferente.
Aliás, o fato de que essa versão de entrada de R$ 92.990 trocou o lento e perdido câmbio automático de seis marchas por um delicioso manual de cinco marchas, já deu um novo tempero ao Polo. Aquela vivacidade e acelerações surpreendentemente fortes do up! TSI estão de volta no Polo manual.
Maior, mais chão
O subcompacto sempre foi um carro gostoso de dirigir forte, mas bastava chegar uma curva que seus pneus finos e a carroceria mais estreita e alta denunciavam um comportamento pouco afiado. O up! adorava sair com a traseira quicando e fazer curvas com velocidade mostrava um lado desengonçado e um pouco perigoso dele.
Como o Polo TSI é maior, mais largo, ele naturalmente já se comporta bem melhor. Além disso, ele conta com recursos interessantes de eletrônica como vetorização de torque por meio de um sistema que freia a roda mais interna na curva, resultando em um carro muito mais no chão e com melhor aptidão para as curvas.
O up! TSI era como um muscle-car: ótimo nas retas, mas uma negação nas curvas. Já o Polo se comporta de maneira exemplar nas duas situações. Mesmo pesando bem mais que o subcompacto, ele tem o comportamento alegre e muito divertido que ele tinha. A vantagem é que a suspensão também é melhor trabalhada no Polo.
O hatch compacto recém reestilizado é firminho, mas não desconfortável. Se comporta muito bem nas curvas com carroceria sólida, algo que o up! já tinha. O problema é que o subcompacto trazia suspensão excessivamente dura, especialmente na traseira, que também era barulhenta. Mas o Polo poderia ter herdado algo que o up! tinha: a manopla de câmbio.
A Volkswagen trouxe a excelente caixa MQ200 que tem trocas precisas, bem calibradas e curtas – ótimas para uma tocada esportiva. Só que a manopla de câmbio é muito grande e alta, atrapalhando uma condução mais rápida. Ela força a barra ao tentar replicar o visual da manopla do Polo automático, vale ressaltar.
Conta precisa fechar
A direção é bem acertada, com peso ideal e levemente mais pesadinha: como se espera de um Volkswagen. Contudo, notadamente mais leve que a direção do up! na hora de estacionar. Só que a marca economizou no volante. Ele é o antigo, mas com logotipo novo. Além disso, não tem ajuste de altura, nem de profundidade – um pênalti gravíssimo.
Soma-se isso ao fato de que ele tem material de baixa qualidade, áspero e visual bem simplório. O Polo TSI manual merecia mais. Esse é um dos pontos em que é visível que a Volkswagen começou a economizar para baixar o preço do carro. O freio a tambor traseiro foi um deles, ainda que na prática não sinta diferença e ele até freie em menor distância que antes.
Outro ponto, esse herdado do up!, mas que não deveria, são os encostos inteiriços dos bancos. A Volks foi tão muquirana na versão turbo manual que até o encosto traseiro é fixo, algo que não acontece no Highline, por exemplo. Atrapalha a visão em manobras de ré e ao usar o retrovisor. Os dianteiros também são fixos.
O acabamento continua simples, sendo que o TSI manual tem apenas uma nova textura 3D na porta, enquanto os modelos mais caros ganharam tecido. A vantagem, porém, é que o ponto de destaque do painel é no mesmo preto brilhante texturizado do Highline, o que disfarça um pouco a simplicidade da cabine.
Pelo lado da modernidade, ele tem painel de instrumentos digital de 8 polegadas. Mas é inadmissível não ter conta-giros. Algo que é mais do que essencial em um carro manual. Além disso, ele tem central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay onde a entrada USB da tela é que conecta o celular, não as duas modernas USB-C que ficam no console onde se apoia o smartphone.
Sem mimos, mas justo
Sendo a versão mais barata do Polo com motor TSI, não espere por mimos. Ele tem uma lista justa de itens de série com quatro airbags, ar-condicionado analógico, painel digital, chave canivete, sensor de ré, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, rodas de liga-leve de 15 polegadas, faróis full-LED, luz diurna de LED.
Há ainda vidros elétricos nas quatro rodas, retrovisores elétricos, banco traseiro rebatível, vetorização de torque, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, repetidor de seta no retrovisor, monitoramento de pressão dos pneus e banco do motorista com ajuste de altura.
Veredicto
Se você tinha um up! TSI (como eu tive) e achou que ficou sem opções depois que ele morreu, pode comemorar a chegada do Polo TSI manual. Ele é um carro muito bom de dirigir, alegre, esperto e justinho. Faz curvas muito melhor que o subcompacto e entrega mais diversão ao volante do que deveria ao se tratar de uma versão de entrada. Só o acabamento continua ruim.
A grande questão dessa versão é o bom custo-benefício e a economia de combustível, que chega a 16,5 km/l na cidade com gasolina. Se não faz questão de câmbio automático, abrace o manual sem medo, pois esse câmbio sim aproveita verdadeiramente o potencial do motor 1.0 TSI da Volkswagen. E, tal qual o up! TSI, até uma ida à padaria te tira um sorriso no rosto.
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