Embora nunca tenha tido um ‘pra chamar de meu’, posso dizer que tenho uma relação especial com os carros da Peugeot. Eu diria que é uma ‘memória afetiva’, porque por volta dos meus 18 anos, tirando habilitação, eu era um apaixonado pelo design do 206. Para mim, era o carro que se destacava na multidão – e o sucesso dele mostra que eu não estava sozinho neste desejo.
Mas o único Peugeot 206 que vi na minha garagem foi o da minha irmã. Primeiro, porque ele não cabia no meu orçamento de jovem estudante; depois, porque perdi o timing mesmo. Carpe diem, garotos. Não deixem para amanhã o carro que vocês querem ter hoje. Bom, seguindo: é desde aqueles tempos que espero ser fisgado de novo por algum modelo da marca.
A chance veio no início de novembro, quando alinhei com meu editor Benê Gomes a escalação do novo Peugeot 3008 para esta coluna, que tem por objetivo provar em viagens os carros já estabelecidos no mercado. Com ele, eu faria um ‘bate e volta’ ao interior de São Paulo, rodando por um total de 500 km.
First things first: se o que me ganhou no 206 foi o design, tenho de ser honesto ao dizer que, embora seja mesmo bem atraente (percebi pelos olhares na rua), o desenho do 3008 não faz(ia) meu coração bater tão forte assim. É que sou viúvo assumido dos hatches e, pra gostar de um SUV, preciso necessariamente esquecer que ele é um SUV.
Isso é possível? Cara, por incrível que pareça, sim. Quando assumi o carro pela primeira vez, ali na Avenida das Nações Unidas, já abri um sorriso enorme, porque o volante pequeno dá a sensação de que você tem nas mãos um verdadeiro manche (e não um volante de caminhão, diferente de c-e-r-t-a-s-S-U-V-s).
Essa percepção de ‘nave’ é ampliada por toda a cabine. O painel digital personalizável permite que você escolha o que quer ver ali: o velocímetro digital, os marcadores tradicionais incluindo RPM, as informações de navegação etc. O acabamento interno é um dos melhores da categoria, simulando fibra de carbono.
Para comandar esse carro, você se acomoda em bancos de couro com estilo bastante esportivo. Na versão top, a Griffe Pack, ele vem até com massageadores – eu não testei porque estava com a versão Allure com teto solar, um degrau abaixo da Griffe Pack. A Allure também não vem com faróis Full LED nem rebatedores elétricos de retrovisores.
Dos faróis e dos massageadores nem senti falta, mas talvez você queira prestar atenção na utilidade dos rebatedores elétricos. Eu particularmente acho um saco o rebatimento manual e certamente investiria mais por este conforto. Mas enfim, voltando à sensação da cabine, ela se completa com mídia central touch screen que vem com Apple Car Play e Android Auto.
Ok, parado parece ótimo, não é? Mas e andando? Bom, aí vem a parte realmente divertida. Equipado com motor 1.6 turbo de 165 CV e câmbio automático de 6 marchas (com possibilidade de trocas manuais via paddle-shift), o Peugeot 3008 é um parceiro de estrada, não só pelo conforto, mas pelo desempenho.
As retomadas para ultrapassagens eram bem sensíveis, especialmente no modo sport (claro!), o que garante muito mais segurança nas manobras. A velocidade máxima é de 206 km/h, o que serve para dar uma ideia da força do carro. Terminei o bate e volta feliz pelo rendimento na estrada, mas já com uma certa sensação de tristeza por ter de devolver o carro dois dias depois.
Fazendo aqui uma confissão: já há quatro anos eu e minha esposa dividimos o mesmo carro. Como faço home office, rodo muito pouco, não há necessidade de um veículo só para mim. Isso nunca me incomodou. Nunca mesmo! Mas a companhia do Peugeot 3008 me fez parar para pensar pela primeira vez se não é hora de mudar essa história.
Nem a vaga do prédio, que é mal iluminada, apertadíssima e fica entre uma coluna e dois exemplares de c-e-r-t-a-s-S-U-V-s, me incomodou no período. Fiquei impressionado com os sensores e as câmeras de estacionamento, que faziam um mapeamento completo, inclusive de cima, me permitindo parar sem ter medo de ralar metade da SUV do vizinho.
Outra coisa que sempre me enche a paciência – procurar a trava da porta para crianças – é facilitada no Peugeot 3008. Um simples clique em um botão na lateral esquerda inferior do volante e pronto: crianças seguras. O painel indica se ao clicar você ativou ou desativou a trava, o que ajuda pais com TOC, que precisam se certificar de terem feito a coisa certa a cada 5 minutos.
Para desligar o carro, só apertar o start stop (como vivemos tantos anos sem isso?) e clicar no botão do freio de estacionamento elétrico. Assim terminará sua jornada com o Peugeot 3008.
A minha, terminou logo depois de passar por um lava-rápido de um posto de gasolina da Avenida Jorge João Saad. No setor de acabamento, enquanto eu assistia a tudo naqueles banquinhos de praça, dois lavadores entraram no carro pelo banco da frente, para limpar o para-brisa. Esses homens estão habituados a ver de tudo ali no Morumbi, inclusive superesportivos.
Mesmo assim, na posição de motorista e passageiro, pararam por um instante, passando as mãos sobre o volante e o painel. ‘Olha o volante, mano! Se liga… Pequenininho… Muito daora. Cê é loko!’. Concordo! É mesmo de cair o queixo.
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