Por dia, milhares de pessoas viajam de Campinas a São Paulo (e vice-versa) de carro ou de ônibus (fretados ou rodoviários). Cerca de 100 km separam a capital da maior cidade do interior paulista com dois, e caros, pedágios entre elas. Sem outra alternativa de transporte público, como reduzir esse custo?
O Auto+ topou o desafio de fazer essa viagem sem gastar um real. Para isso, convocamos o híbrido Volvo S60 T8 R-Design recentemente avaliado por aqui para rodar somente no modo elétrico, evitando os dois únicos pedágios nas rodovias Bandeirantes e Anhanguera. A dificuldade maior dessa missão era que o Volvo roda apenas 45 km com uma carga completa de bateria e sempre com o ar-condicionado ligado.
Sem pular os pedágios, o trecho entre o local em que retiramos o Volvo S60 e Campinas tem 89 km e pode ser percorrido tranquilamente em uma hora. Mas, para não gastar R$ 19,10 com pedágio, é preciso despender de uma hora e cinquenta minutos e rodar por 97 km.
Para poder dar conta desse trajeto saindo da Vila Madalena em São Paulo, era necessário planejar ao menos duas paradas ao longo do caminho onde as baterias do S60 seriam totalmente recarregadas. Assim, a viagem foi dividia em quatro trechos, por garantia.
De São Paulo a Alphaville
O primeiro percurso seria quase que totalmente urbano, saindo de São Paulo em direção a Alphaville, a exatos 21 km do ponto de partida. O local escolhido foi o Pão de Açúcar, supermercado que conta com carregadores instalados em parceria com a Volvo, o que garantiria compatibilidade com o nosso S60.
Esse seria, em tese, a parte mais tranquila da viagem, mas não contávamos com o inesperado (e com o erro humano). O trânsito estava fluindo durante todo o percurso, permitindo que o Volvo S60 economizasse as baterias sem o anda e para típico da capital paulistana.
Ironicamente, o único trecho em que enfrentamos trânsito foi já fora de São Paulo, especificamente na entrada de Osasco por conta de um caminhão quebrado. Nesse momento o S60 mostrava silêncio total a bordo e bom aproveitamento da carga. Ele praticamente gastava 1 km de autonomia a cada dois percorridos.
O problema foi um pequeno trecho de estrada que consumiu uma parte de sua autonomia. Ao olhar para o GPS, o mapa indicava mais 8 km até a primeira parada para carregar o S60, enquanto o painel revela mais de 16 km de autonomia. Até aí tudo bem.
Havia uma obra na pista que provocava um desvio de dois km extras, mas algo que seria tranquilamente superado pelo S60. O problema é que ao final de um retorno era preciso atravessar quatro faixas para pegar uma saída bastante camuflada pelos tapumes da obra.
A tranquilidade se transformou em desespero quando perdi a entrada e fui obrigado a fazer novamente um trecho de 8 km – não havia retorno antes disso. Resultado, com o retorno a autonomia chegaria ao limite. O problema é que boa parte desse trecho era em uma severa subida a qual engolia a carga do Volvo sem dó.
Com apenas 2km de autonomia sobrando, chegamos à primeira parada e o Volvo poderia descansar. Aliás, por muito tempo, afinal foram precisas pouco mais de três horas até que toda a carga fosse recuperada. Mas o pior estava por vir.
De Alphaville a Jundiai
Depois de tediosas três horas em um supermercado, o Volvo S60 e eu estávamos prontos para o segundo e pior trecho da viagem. Com 42 km, sendo boa parte deles percorridos pela rodovia Anhanguera, a expectativa era de que o S60 chegaria com uma sobra ínfima de apenas 3 km, que poderia facilmente ser dizimada em subidas ou na estrada.
O percurso entre Alphaville e Cajamar foi o mais peculiar de todos. O contraste entre a riqueza do bairro nobre de Santana de Parnaíba e a pobreza da periferia de Cajamar era vista com uma proximidade inimaginável, com trechos de descampados e pequenas florestas entre eles. Era também o percurso com mais subidas e descidas.
Nessa hora era preciso dosar bem a força e planejar. Em subidas, usar o acelerador com delicadeza e manter uma velocidade constante próxima a 50 km/h. Já nas descidas, aproveitar a função de regeneração ativada pela função B do câmbio automático para ganhar alguns quilômetros de autonomia.
Sempre utilizando o modo Pure do S60 para que o motor a combustão não entrasse em ação, o sedã conseguiu manter um bom nível de baterias nos trechos sinuosos e chegou à rodovia Anhanguera com carga exatamente suficiente para chegar ao destino final dessa parte, no Pão de Açúcar de Jundiaí.
Aproveitar o vácuo de outros carros e caminhões para diminuir o arrasto aerodinâmico poupou a bateria e permitiu acelerações mais suaves. Além disso, manter velocidade pouco acima de 80 km/h fez com que o consumo do motor elétrico fosse mais comedido. Como resultado a segunda parada foi vencida com uma boa folga na autonomia.
Uma curiosidade de bastidores para você leitor: o Volvo S60 R-Design é um carro que chama atenção nas ruas, especialmente quando está carregando em um estabelecimento. Nessa parada em Jundiaí, dois policiais e dois funcionários do mercado cercaram o sedã vermelho enquanto ele estava parado carregando.
Pensei eu tratar-se de algum problema, mas era mera curiosidade do quarteto em entender que carro era aquele e como funcionava o sistema de carregamento. Situação explicada, baterias carregadas e, depois de pouco menos de três horas plugado, era hora do último trecho.
De Jundiai a Campinas
Por segurança a viagem havia sido dividia em quatro trechos com três paradas. A última sessão seria entre Jundiaí e Valinhos, cidade vizinha a Campinas, para uma parada rápida para carregamento caso a autonomia elétrica do Volvo não fosse suficiente. Sem essa parada emergencial, o último percurso seria de 39 km com pouco mais da metade dele percorrido pela rodovia Anhanguera.
Partimos no final da tarde com 45 km de autonomia pela rodovia mantendo velocidades mais altas do que antes. Agora mais habituado ao S60 e com maior domínio das técnicas para economizar bateria, foi possível manter os 100 km/h de velocidade máxima da rodovia. Esse trecho conta com bastante descida, o que ajudou a recuperar carga.
Ao entrar em Vinhedo para desviar do último pedágio, o Volvo apresentava autonomia mais do que suficiente para dispensar a parada em Valinhos, permitindo caminho reto até Campinas. A cidade das uvas conta com muitos radares e avenidas com velocidade controlada a 50 km/h e outras a 40 km/h, logo após sair da estrada.
Isso permitiu manter o Volvo em velocidades mais constantes que economizam bateria, mas o asfalto castigado da entrada da cidade colocou à prova a suspensão mais firme do sedã. Foi aí que ele se mostrou surpreendentemente confortável para o que era esperado na categoria e por um modelo com pneus run-flat e pegada esportiva.
Com o sol se pondo e o trânsito crescente na saída de Vinhedo, o trecho foi o mais tranquilo de todos para a autonomia elétrica do S60. Ele percorreu as estradas secundárias que ligam as três cidades sem dificuldade e com o auxílio dos faróis de LED adaptativos, que criam zonas escuras para não ofuscar os motoristas na direção contrária.
Com autonomia sobrando, o Volvo S60 T8 R-Design chegou a Campinas com mais de 10 km de autonomia restantes depois de uma viagem de cerca de 7 horas de duração. Ele provou que é possível sim ir de Campinas a São Paulo sem gastar um real, mas é preciso a paciência de um monge para aguentar as três horas (ou mais) de carregamento a cada parada.
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