Um dos modelos mais famosos da Europa, e mais admirado pelos brasileiros, veio ao mundo com a importante missão de substituir o Uno na Europa, e inaugurar uma nova categoria, a dos compactos premium. Estamos falando do Fiat Punto, que nasceu na Europa em 1993, e por aqui chegou em 2007. Vamos agora contar da história desse hatch memorável.
Punto decisivo
Substituir um ícone italiano não é uma tarefa muito fácil. Com quase 30 anos de existência e com claros sinais de que o projeto assinado pelo estúdio Giorgetto Giugiaro já mostrava sinais da idade, a Fiat precisava se mexer e começar a esboçar um novo hatch para substituir o longevo Uno.
Foi assim que a marca italiana recorreu novamente ao renomado estúdio de design para encomendar um novo modelo que atendesse os requisitos de segurança e design dos anos 1990. Com isso em mente, o projeto 176 começou a ganhar forma. O resultado final foi apresentado durante o Salão de Frankfurt na Alemanha em 1993.
O novo modelo tinha um design simples, mas moderno com alguns cantos mais arredondados – um dos itens mais presentes em modelos feitos nos anos 1990 – além de trazer uma novidade na gama Fiat – as lanternas em posição elevada. A grade era fechada e o ar entrava pelo para-choque, assim como no Honda Civic, Ford Escort e no Volkswagen Passat.
O estilo externo em muito lembrava uma minivan por conta das grandes janelas e pelas lanternas elevadas, que ajudavam a compor um visual moderno e elegante. Alias, o estilo da primeira geração do Fiat Punto influenciaria e muito o nosso Fiat Palio que foi apresentado em 1996. A primeira geração contava com versões de duas ou quatro portas, e acomodava bem quatro passageiros com suas respectivas bagagens.
No quesito motorização, o Fiat Punto podia vir com motores a gasolina ou diesel. As opções com motor a gasolina começavam com o 1.1 litro de 54 cv e iam até o potente 1.4 litro turbo com injeção multiponto que entregava 136 cv e 20,4 kgfm de torque. Já as versões a diesel, começavam com o 1.7 litro que vinha com opção de turbo – e 71 cv – ou sem turbo que entregava 57 cv. O câmbio podia ser automático do tipo CVT ou manual de 5 velocidades.
Em seu primeiro ano de vida, o Fiat Punto já ganhava o título de Carro do Ano na Europa e uma inédita versão conversível, que tinha 4 lugares e tinha capota de lona com acionamento manual ou elétrico. Além dessa versão, o Fiat Punto ganhou uma versão esportiva – o GT – que fazia o 0 a 100 km/h em apenas 7,9 segundos. Uma versão mais mansa – a Sporting – foi apresentada tempos depois.
Segunda geração
Assim como ocorre atualmente, a segunda geração do Fiat Punto deu as caras em 1999, e ainda lembrava muito a primeira geração. Agora a dianteira estava mais baixa, e os faróis mais finos e estreitos. O logo da Fiat também mudava, e agora utilizava o brasão redondo de fundo azul, muito parecido com o que era usado nos anos 1920.
A traseira ganhava um desenho inédito com as lanternas que agora se estendiam do topo até quase perto da base do porta malas. Eram mais esguias e triangulares e menos atraentes do que as anteriores. O hatch ainda apostava nas configurações de 2 ou 4 portas e uma inédita versão HGT era incluída na gama de versões.
A segunda geração também ficava levemente maior do que a primeira, privilegiando o espaço interno. A versão GT era substituída pela HGT que agora trazia o motor 1.75 litro aspirado, com variação do tempo de abertura das válvulas que entregava 133 cv e 16,7 kgfm de torque.
Um facelift seria aplicado ao modelo em 2003, o que garantiria uma sobrevida ao modelo. Agora os faróis eram maiores e arredondados, e a grade finalmente ganhava uma entrada de ar. O estilo dianteiro em muito se assemelha no estilo do facelift do nosso Palio de 2004 – que foi feito pelo estúdio Italdesign.
Essa segunda geração permaneceu em linha por muito tempo, mesmo com a nova geração do Punto em vigor. A ideia da Fiat era criar uma espécie de “Punto Fire” aos moldes do que ocorreu por aqui com o Palio e suas versões antigas e atuais.
Grande Punto
A terceira geração do Fiat Punto apareceu na Europa em setembro de 2005 com um novo design, uma nova plataforma e um novo prefixo no nome. Agora a terceira geração seria conhecida como Grande Punto – em decorrência que a geração anterior ainda continuaria em vigor por mais algum tempo.
O design ficou a cargo da ItalDesign, que conferiu ao hatch um visual moderno, inspirado nas Maserati – principalmente nos faróis. As lanternas continuavam elevadas, e agora tinham um desenho mais moderno e jovial, combinando com a proposta do modelo. Já a plataforma, era compartilhada com a GM/Opel, a Gamma II que também deu vida ao Opel Corsa – e Chevrolet Onix – além de ser bastante versátil e utilizada em alguns modelos atuais.
Além do design exterior, e interior inteiramente novos, o Grande Punto também estreava um novo câmbio automatizado feito em parceria com a Magneti Marelli, que batizou o sistema de Dualogic. Com essa plataforma, o Fiat Grande Punto também estreou novos equipamentos de segurança como controle eletrônico de estabilidade e tração, e assistência adicional em frenagens de emergência. O hatch ainda contava com 6 air bags – frontais, laterais dianteiras e cortinas – e opções de rodas que iam de 15 a 17 polegadas.
As motorizações dessa geração eram bem variadas – com opções a gasolina, diesel e uma com gás natural, a Natural Power. A versão mais interessante a princípio era a T-Jet que usava o motor 1.4 turbo que entregava 120 cv e 21 kgfm de torque. Que mais tarde daria lugar a versão Abarth – que modificava o motor 1.4 turbo para render 155 cv e 21 kgfm de torque.
Essa geração ganhou um facelift leve de meia vida em 2009, que dividiu algumas opiniões. A dianteira ganhava um friso cromado que sustentava o logo – agora um escudo de fundo vermelho – enquanto que o para choque ganhava um desenho novo – tanto na dianteira quanto na traseira. Por conta dessas modificações, a Fiat adicionou um sufixo – Evo – para mostrar que as mudanças eram mais profundas, mas sem trocar de geração.
Uma leve correção de estilo foi feita em 2012, retirando o “bigode” da dianteira, e adicionando uma entrada de ar, com o logo flutuando logo acima dele. O hatch acabou por encerrar seus dias na Europa em meados de 2018, quando deixou seu lugar vago. Mas existe uma velha promessa de uma quarta geração estrear com uma possível parceria com a PSA.
Punto com cachaça
Já por aqui, tivemos acesso apenas a terceira geração do modelo que permaneceu entre nós por 10 anos. A estreia do modelo aconteceu por aqui em agosto de 2007, e apesar de trazer o mesmo visual do modelo europeu, a plataforma era diferente. Ao invés de apostar na moderna plataforma Gamma II, a Fiat resolveu utilizar alguns componentes de sua prateleira.
A plataforma tem partes do Palio – que também foi utilizada na minivan Idea – e alguns toques da suspensão do hatch médio, o Fiat Stilo. Fora essas mudanças, o modelo seguia o mesmo padrão de design do modelo europeu.
Ele foi o responsável por estrear o sistema Blue & Me, que foi produzido em parceria com a Microsoft que dava mais autonomia ao motorista por poder utilizar comandos de voz para fazer algumas tarefas, como acionar agenda telefônica, atender chamadas telefônicas por meio de bluetooth, ouvir através do sistema de áudio do veículo as mensagens SMS, escutar músicas em MP3 que tinha entrada USB para pen-drive e MP3 player.
Por aqui, o Fiat Punto a princípio chegou com 4 versões de acabamento: Básica, ELX – com motor 1.4 – e HLX e Sporting que usavam o motor 1.8 de origem GM. A ideia da Fiat era ter um modelo mais equipado e moderno que o já longevo Palio, e mais barato que o médio Stilo. Com o motor 1.4 o Punto nacional entregava 85 cv e 12,4 kgfm de torque, enquanto que o motor 1.8 de origem GM entregava 113 cv com gasolina e 115 com etanol e 18,5 kgfm de torque.
Ele foi durante muito tempo referência em qualidade de acabamento e design, perante os rivais da época, como o Citroën C3, Honda Fit e Volkswagen Fox. Ao contrário da versão europeia que tinha uma opção nervosa com o Abarth, nós pegamos apenas o visual da versão mais esportiva, e a Fiat o batizou de T-Jet, com o motor 1.4 turbo a gasolina que entregava 152 cv e 21,1 kgfm de torque.
O visual do Punto T-Jet era bem invocado, por conta do novo para choque com as entradas de ar mais proeminentes, rodas maiores e molduras nas caixas de roda. Além disso, o Punto ganhou por aqui a companhia do irmão sedã Linea – que a Fiat erroneamente classificou como sedã médio, ao invés de compacto premium.
Em meados de 2010 a Fiat introduziu uma nova linha de motores – e abandonou o motor 1.8 de origem GM – adquirindo uma fábrica de motores no Paraná que pertenceu ao Grupo BMW. O motor quer antes atendia pelo nome de Tritec, agora se chamava E.torQ. Os motores podiam ser o 1.6 16v ou 1.8 16v tinham comando único no cabeçote, herança da Tritec, que chegou a ser usado em alguns modelos chineses, como os carros da Chery.
Com isso, agora o motor 1.6 rendia 115 cv com gasolina e 117 cv com etanol e 16,2 kgfm de torque, enquanto que o 1.8 agora rendia 130 cv com gasolina e 132 cv com etanol – esse motor é utilizado ainda hoje na versão mais cara do Argo e Cronos, mas com potência reprogramada – e 18,9 kgfm de torque.
Já em 2011, a Fiat aplicava o mesmo visual da versão europeia – com direito ao bigodinho – e mudanças no interior. Mas por conta de mudanças drásticas que estavam acontecendo com o mercado nacional, e as crises financeiras que o país estava passando – e ainda passa – o Fiat Punto acabou por ter versões minguadas, e conseguiu se manter ativo em nosso mercado até 2017, quando foi substituído pelo Fiat Argo – que também matou o longevo Fiat Palio, numa tacada só.
Argo deu certo
Após a saída do Punto, a Fiat precisava de um modelo que cumprisse a premissa de ter design atraente e plataforma moderna para substituir o Punto e Palio de uma vez só. Foi assim que nasceu o Argo, que atualmente já o carro mais vendido da marca, e que inclusive constituiu família com a chegada do sedã Cronos e da versão “aventureira” Trekking.
Agora cabe ao Argo repetir o sucesso do Punto, e inovar mais uma vez com tecnologia de ponta e novos motores – que em breve devem chegar ao nosso mercado com opção de turbo e câmbio CVT – e trazer de volta a vitalidade necessária a Fiat por aqui.
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