Se existe uma unanimidade gastronômica é o sorvete de creme. Provavelmente não é o sabor preferido de todos, mas é o único que é capaz de evitar brigas e que com certeza agradará a cada membro da família em um almoço de domingo. E assim é o Chevrolet Tracker LT, como um sorvete de creme, mas daqueles bem feitos, tipo Haagen-Dazs.
Mas o que um sorvete de creme, ou baunilha se preferir, tem a ver com um dos SUVs mais vendidos no Brasil e também uma das novidades mais quentes de 2020? Calma que tudo fará mais sentido do que parece.
Efeito Onix
A evolução da antiga geração do Tracker para o novo modelo é gigantesca. Apesar de antes também compartilhar a plataforma com o Onix, ele seguia por um caminho independente e tentava ser um mini Captiva. A nova geração entendeu o mercado e os consumidores, valorizando o que o público realmente quer em um SUV: espaço.
O novo Chevrolet Tracker parece e é maior que seu antecessor em todas as medidas. Por dentro ele entrega uma cabine mais arejada com um ótimo aproveitamento de espaço, contrastando com o antigo modelo, apertado e claustrofóbico.
Com 393 litros, o porta-malas é um dos maiores da categoria e ainda traz um prático divisor que deixa o espaço em dois patamares diferentes, permitindo dividir cargas menores no primeiro andar e itens mais volumosos e pesados na segunda parte. Ponto para a Chevrolet em praticidade.
E se antes Onix e Tracker não tinham qualquer tipo de relação visual, agora os modelos compartilham praticamente todo o interior. Algumas peças são diferentes, mas o visual e a qualidade de montagem é totalmente Onix. Isso inclui os mesmos plásticos rígidos, sem nenhuma superfície macia, mas de textura agradável e sem falhas ou rebarbas.
Por R$ 95.890 admito que esperava um pouco mais de esmero em alguns detalhes, como no caso do volante que tem aspecto bastante simples e textura áspera, carecendo de um revestimento de couro. Mas a preferiu dar atenção à tecnologia e itens de série e poupar firulas na segunda versão mais barata do novo Tracker.
Recheio doce
De série, o Tracker LT vem bastante recheado. A lista é composta por vidros elétricos nas quatro portas com acionamento de um toque, chave presencial, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, Wi-Fi a bordo, luzes diurnas de LED, retrovisores elétricos e ar-condicionado analógico.
A central multimídia merece elogios por sua velocidade, facilidade no uso e boa quantidade de recursos. A tela não tem a mesma qualidade de definição de alguns de seus rivais ou de modelos mais caros da Chevrolet, mas não é nada que faça enorme diferença.
Constância invejável
Ao volante o Chevrolet Tracker mostra competência. O motor 1.0 três cilindros turbo entrega 116 cv e 16,3 kgfm de torque. Não tem injeção direta como o motor 1.0 TSI da Volkswagen, mas entrega bons números de performance e uma vivacidade elogiável.
O Tracker não vacila em acelerações, tem pedal sensível, mas de maneira modulada e que ajuda a dar a sensação de que ele é um carro esperto e ágil, como de fato é. Destaque para o ótimo trabalho de isolamento acústico na região do motor, fazendo com que praticamente ele não seja ouvido, mesmo em acelerações mais vigorosas.
Em harmonia com o silêncio está a transmissão automática de seis marchas. Com trocas suaves e praticamente imperceptíveis, ela sabe aproveitar bem a potência e o torque em baixa do motor turbo. Só incomoda o fato de a segunda ser tão curta que o Tracker praticamente pula de primeira para terceira marcha.
Além disso, vez ou outra, o SUV se perde na hora de escolher uma marcha em subidas ou no trânsito, o que faz com que haja um pequeno engasgo. Ainda assim, o Tracker entende rápido o momento de uma ultrapassagem e reduz marcha sem hesitar.
Suavidade da baunilha
Quem busca um SUV geralmente preza mais pelo conforto do que por uma tocada mais esportiva. E é nesse público que mirou o Tracker. Ele tem direção extremamente leve e ágil, tornando a tarefa de manobrar o SUV tão suave quanto o gosto da baunilha. Só poderia ser um pouco mais firme em estradas para passar mais confiança.
Nessa mesma tocada, o SUV compacto da Chevrolet apresenta suspensão macia e bem calibrada para o nosso asfalto tipo queijo suíço. Ela absorve bem os buracos e imperfeições sem deixar que o Tracker balance excessivamente como outros SUVs da mesma categoria.
Mas é justamente nesse ponto em que o Tracker LT comete uma pequena ironia. Enquanto o motor recebeu pesado tratamento acústico para não transmitir ruído para a cabine, a suspensão ficou sem o mesmo carinho, se tornando uma fonte constante de ruídos e barulhos, especialmente em ruas de conservação ruim.
Veredicto
Como um sorvete de creme, o Chevrolet Tracker é do tipo de carro que não tem nenhuma grande qualidade que o destaque do restante do segmento, mas também não é aquele tipo de SUV com defeitos aparentes. Ele, aliás, faz de tudo um pouco e no que se propõe a fazer, faz muito bem.
O problema é quando você olha na geladeira do supermercado e vê que existem outros sabores de sorvete com um pouco mais de emoção, como um sofisticado chocolate meio amargo como o VW Nivus, ou um ardente menta com chocolate como o Citroën C4 Cactus THP, ou algo mais parrudo e pesado como um sorvete de caramelo tipo Jeep Renegade.
São sabores e SUV que vão se destacar por alguma característica específica, mas não serão capazes de ser uma unanimidade de público e de crítica e entregar uma constância sem erro como faz o Chevrolet Tracker LT. Só não espere pagar barato nem em um Tracker LT que belisca os R$ 100 mil, nem em um pote de sorvete da Haagen-Dazs.
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