SUVs e sedãs são categorias sólidas no mercado e com público que comumente trafega entre elas. Mas com a proximidade entre alguns modelos, será que vale a pena abrir mão da posição elevada dos SUVs pelo porta-malas gigante dos sedãs? Ou trocar o prazer ao dirigir pela robustez? Para sanar a dúvida, colocamos os Nissan Kicks e Versa para um embate.

A coincidência entre a dupla vai além da cor vermelha da carroceria. Eles usam a mesma plataforma, conjunto mecânico idêntico, lista de equipamentos praticamente espelhada e interior compartilhado. Para a disputa, o Versa aparece na versão topo de linha Exclusive de R$ 121.690, enquanto o Kicks vem na intermediária Advance de R$ 130.690.

A escolha pela versão Advance do Kicks se deu para que a disparidade de equipamentos não fosse tão grande. Afinal, no preço do Versa Advance, existe o SUV na versão Sense de R$ 121.590. Outro adendo é que o Kicks avaliado era da linha 2022, por isso não conta com o novo console central e com logotipo alterado do modelo 2023.

Gêmeos idênticos

Mecanicamente idênticos, Kicks e Versa contam com o mesmo motor 1.6 quatro cilindros aspirado de 113 cv e 15,3 kgfm de torque ligado a uma transmissão automática do tipo CVT. Míseros 5 kg separam o SUV do sedã. Por isso, o desempenho é tão parecido. Mas os dois estão a um passo de entrar na categoria dos mancos, preciso admitir.

Versa e Kicks entregam performance necessária na maioria das situações. Mas lote os dois com passageiros ou cargas que o motor 1.6 começa a sofrer. Na cidade, eles andam bem, especialmente porque o CVT gerencia bem a força e não faz o motor gritar excessivamente. Na estrada, simulam trocas para evitar o efeito enceradeira.

Até mesmo no consumo, a dupla da Nissan é parecida até demais. O Versa faz na cidade 11,5 km/l com gasolina e 7,9 km/l no etanol contra 11,4 km/l do Kicks na gasolina e 7,8 km/l com etanol. Na estrada, o sedã entrega 14,7 km/l com gasolina ou 10,2 km/l no etanol, enquanto o SUV faz 13,9 km/l com gasolina e 9,6 km/l com etanol. Ou seja, prefira gasolina com eles.

Bundômetro

Mas se eles são tão parecidos assim, existe alguma diferença na hora de dirigir? Sim e muita. É aquele tipo de diferença que se sente ao sair de um e assumir o volante do outro. Só que eles são opostos em pontos que não deveriam. O Versa tem direção bem mais leve que a do Kicks. É preciso menos força para fazer manobras e na cidade ele é mais dócil.

Em ambos a direção é leve, mas a do Kicks é mais pesadinha e direta, como a preferência do brasileiro tende a ser. Na estrada, contudo, ambos assumem firmeza necessária para a segurança. Em contrapartida, a suspensão do sedã é nitidamente mais dura. O Versa copia cada imperfeição do asfalto, enquanto o Kicks roda mais liso e confortável.

É como se o acerto de direção do Kicks fosse mais voltado à esportividade, enquanto a suspensão privilegia o conforto. Algo inversamente proporcional ao Versa, que tem direção mais confortável e suspensão mais esportiva. Talvez seja uma compensação da Nissan para que ambos se mantenham neutros no comportamento.

A leveza da carroceria acaba por contribuir para isso. Mas, por motivos óbvios, o Versa é melhor de curva. Por ser um carro mais baixo, com centro de gravidade mais próximo ao solo e menor, ele oscila menos nas curvas que o Kicks. Significa que o SUV seja desengonçado? Não, mas não é o tipo de modelo que vai amar uma estrada sinuosa.

Avanço para o Exclusivo

Entrar em Kicks e Versa é ter uma sensação de Déjà vu e também querer brincar de jogo dos sete erros. Ao primeiro olhar, a cabine é idêntica, mas o sedã tem alguns detalhes em imitação de fibra de carbono ausentes no SUV. Além disso, por ser a versão Exclusive, o Versa tem couro bege no painel, enquanto o Kicks apresenta elementos em plástico preto texturizado.

Visualmente o sedã acaba por ser mais sofisticado, especialmente porque o couro dos bancos mescla preto com bege, enquanto o tecido do Kicks é todo em preto com texturas 3D. As duas versões testadas trazem painel de instrumentos parcialmente digital, mas o do SUV é em português e o do sedã em inglês, mas tem bússola.

No quesito espaço interno, os dois são referência. A cabine é muito espaçosa, especialmente na fileira de trás. A vantagem do Kicks é que, por ter linha de cintura baixa e muita área envidraçada, além de assentos mais altos, ele parece mais espaçoso. No porta-malas, o sedã leva 482 litros contra 432 litros do SUV – ambos verdadeiramente espaçosos.

Preço de uma categoria

Na hora de analisar a lista de itens de série é que o bicho pega entre Kicks e Versa. Isso porque o sedã se apresenta na versão de topo Exclusive e o SUV na intermediária Advance e, mesmo assim, o Kicks é R$ 9 mil mais caro. Os dois trazem itens em comum, o que já mostra serem versões bem equipadas. 

A lista coincidente tem chave presencial, vidro elétrico nas quatro portas com função um toque (para o motorista no Versa, para todos no Kicks), retrovisores elétricos, ar-condicionado (digital só no sedã), painel parcialmente digital, sensor e câmera de ré, faróis com acendimento automático e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.

Em comum eles ainda contam com controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, volante revestido em couro com ajuste de altura e profundidade e banco com ajuste de altura. Só o Kicks tem luz diurna de LED, algo inexplicável no Versa, que conta com faróis full-LED, mas sem luz de condução diurna.

O sedã traz a mais revestimento de couro nos bancos e no painel, sistema de câmeras 360°, faróis de neblina, alerta de ponto cego, frenagem autônoma de emergência, carregador de celular por indução, apoio de braço central e retrovisor externo com aquecimento. Grande parte desses itens só aparecem no Kicks topo de linha.

Veredicto

Extremamente parecidos na hora de dirigir, com atributos e defeitos semelhantes, os são duas compras indicadas. Mas qual dos dois levar para casa? Se precisa de mais espaço interno e preza por mais conforto, leve o Kicks. Porém, ciente de que abrirá mão de diversos equipamentos e terá de pagar mais caro.

O Versa sai campeão do comparativo por oferecer todos os mesmos atributos do Kicks, custando menos e com muito mais itens de série, além de ser ligeiramente melhor para dirigir. Mas, como o mundo é dos SUVs, boa parte dos consumidores não vai optar pelo sedã simplesmente pelo fato de ele não ser um SUV.

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