A morte de Gil de Ferran, que aconteceu na última sexta-feira (29), deixou um gosto amargo no fim do ano do mundo do automobilismo. Como eu estava de férias, não foi possível escrever sobre o ocorrido antes, mas a perda de um dos maiores pilotos da história do automobilismo brasileiro merece esta homenagem.
Nascido na França, Gil veio para o Brasil ainda criança e escolheu o país para ser a sua bandeira no automobilismo. Disputou campeonatos de kart por aqui e venceu a Fórmula Ford, em 1987. Com isso, o piloto mudou para a Europa e seguiu ganhando campeonatos, como a Fórmula 3 inglesa em 1992, entrando para a F3000 em seguida, categoria que ficava um degrau abaixo da Fórmula 1 naquela época.
A não chance na Fórmula 1
Antes de se tornar o piloto que foi nos Estados Unidos, Gil de Ferran teve a chance de entrar para o mundo da Fórmula 1. Em 1993, ele fez um teste pela Footwork, mas um incidente atrapalhou o desempenho do piloto. Antes de entrar no carro, Gil machucou a cabeça em uma porta do motorhome da equipe. Seu teste não teve um bom desempenho, e o piloto não entrou para a F1.
Gil também chegou a testar, em 1992, o Williams FW14B, que deu o título de 1992 para Nigel Mansell, porém quis o destino que o brasileiro parasse nos Estados Unidos. Sua estreia na Indy foi em 1995, no belo carro amarelo da equipe de Jim Hall. Sua primeira vitória na categoria veio na última corrida daquele ano, em Las Vegas, sendo eleito o melhor piloto novato do ano.
Títulos e 500 milhas
No entanto, a consagração de Gil na Indy ainda demoraria alguns anos. Após passar pela Walker Racing, que também tinha uma pintura icônica, o brasileiro foi contratado pela Penske a partir de 2000. Finalmente, com uma equipe de ponta e um carro à altura de seu talento, o piloto atingiu seu ápice.
Companheiro do também brasileiro Hélio Castroneves, Gil venceu as temporadas de 2000 e 2001 da CART, que ainda era a principal competição monoposto dos EUA, em uma época que a Indy estava dividida em duas categorias. A partir de 2001, a Penske começou a correr também na IndyCar, a outra categoria da Indy e que tinha ficado com as 500 milhas de Indianápolis.
Em 2002, a Penske já havia mudado completamente de lado, e Gil ficou em terceiro lugar no campeonato da IndyCar. Porém, a glória eterna viria no ano seguinte. O Brasil vivia uma grande fase nas 500 milhas de Indianápolis, a maior corrida do mundo, com Hélio Castroneves tendo vencido em 2001 e 2002.
Pois Gil conseguiu vencer a prova de 2003, após se aproveitar de um vacilo de Hélio com um retardatário, não saindo mais da ponta mesmo com algumas bandeiras amarelas. Essa edição foi histórica para o Brasil, já que além da vitória de Gil, Hélio foi o segundo e Tony Kanaan fechou o pódio 100% brasileiro, um feito inédito para o país.
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Naquela temporada da IndyCar, Gil de Ferran foi o vice-campeão, encerrando sua participação na categoria no final do calendário daquele ano.
Legado de Gil de Ferran
Além de ser um vitorioso nas pistas, o piloto brasileiro tinha algumas características únicas. Extremamente técnico, Gil de Ferran também conseguia ter uma leitura ímpar do carro e das corridas. Ele era reconhecido por ser um grande estrategista, sem contar a capacidade de relatar exatamente o que se passava com o carro.
O piloto, em uma entrevista nos anos 2000, declarou que era apaixonado pelo lado técnico dos bólidos, tanto que chegou a cursar engenharia mecânica por três anos. Ele sempre gostou de estudar os veículos, conhecer profundamente seu funcionamento, o que ajudou ele a ter essa característica tão rara.
Tanto que esse seu talento despertou a atenção da Honda, que chamou Gil de Ferran para integrar a equipe de Fórmula 1 em 2005, que no início ainda era a BAR. Gil saiu do time em 2007, quando a administração já era totalmente da Honda.
Porém, o brasileiro retornou à categoria em 2018, assumindo o cargo de diretor esportivo da McLaren. No ano seguinte, ele passou a se dedicar à equipe de Indy da McLaren, tendo ajudado, inclusive, Fernando Alonso durante seu projeto de correr as 500 milhas de Indianápolis.
Em 2023, Gil de Ferran havia voltado para a McLaren, como consultor. Ele ajudou a equipe a encontrar uma evolução durante a temporada, após um péssimo início na Fórmula 1. Ou seja, o conhecimento do brasileiro foi essencial para a virada na temporada da equipe.
Eterno
Infelizmente, quis o destino que o coração de Gil parasse de bater justamente em uma pista de corrida. Após passar mal no circuito privado em Opa-Locka, na Flórida, o brasileiro não resistiu e morreu aos 56 anos. A notícia causou uma grande comoção no automobilismo, com inúmeros pilotos, chefes de equipe e até dirigentes da Fórmula 1 e da Indy se solidarizando com a morte do brasileiro.
Assim, perdemos um dos grandes nomes do automobilismo do Brasil. Entretanto, embora ele não esteja mais por aqui, seus feitos e o seu legado são eternos. Obrigado, Gil, por tanto. Que você esteja em paz e junto com os deuses do automobilismo.
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