Estamos vivendo um momento verdadeiramente histórico com os carros no mundo. Na próxima década, todas as marcas na Europa serão obrigadas a vender só modelos elétricos, enquanto no restante do mundo a eletrificação será também implementada, mas mais lentamente. Essa transformação é bastante nítida na , em especial no EQB.
Desde que inaugurou sua linha de carros elétricos com o EQC em 2019, a Mercedes-Benz mostrou que é possível fazer a virada para a eletrificação de maneiras bem diferentes. Com EQS e EQE, a marca tem modelos totalmente independentes dos equivalentes a combustão, tanto em design, quanto em concepção.
Já com EQA e EQB, a alemã foi pelo caminho mais fácil e menos custoso: converteu carros consagrados à combustão em modelos elétricos. O EQC é um meio termo entre eles, já que difere demais do GLC para dizer que é só uma versão elétrica, mas não é uma mudança tão radical quanto o EQE em relação ao Classe E.
Para entender melhor esse segundo universo dos carros elétricos da Mercedes-Benz, testei por uma semana o EQB, o único modelo de sete lugares movido a baterias vendido pela marca alemã no Brasil. Só não é o único SUV elétrico de sete lugares por aqui por conta do BYD Tan – mas deixo isso para um comparativo que será visto em breve por aqui.
GLB na tomada
Partindo da boa base do Mercedes-Benz GLB, o EQB troca os motores turbo por um elétrico posicionado na dianteira – que não deixou espaço para um porta-malas dianteiro. Só que por R$ 502.900, ele custa pouca coisa a menos que o GLB 35 AMG (R$ 532.900) com seu motor 2.0 turbo com 306 cv. Na conta, o custo-diversão é bem mais baixo no elétrico.
O notável é que, ao contrário de todos os outros carros elétricos de luxo, a performance do Mercedes-Benz EQB não é surpreendente. Os 190 cv e 38,2 kgfm de torque não empolgam, sendo apenas suficientes para esse SUV de porte médio com 2.110 kg. A prova é que os 100 km/h são atingidos em 9,1 segundos – quase o mesmo tempo do Jeep Commander flex.
Não é o tipo de carro que você considera lento ou manco, mas não é estúpido como um Volvo XC40 ou C40, ou até como se esperaria de uma marca premium. O EQB tem torque instantâneo provido pelo motor elétrico, mas que faz mais barulho do que o normal. É possível ouvir uma sonoridade quase como de um carro a combustão CVT – e não há barulho simulado.
Na estrada, o EQB dispara aos 100 km/h sem grandes dificuldades, mas sem fazer com que o celular do passageiro voe em sua cara como acontece com o BYD Tan ou com os Volvo. Já na cidade, a agilidade do motor elétrico ajuda a ganhar terreno sem dificuldades.
Relaxe e dirija
Diferentemente de outros modelos da Mercedes-Benz, que tem pegada mais esportiva e firminha, o EQB é um carro confortável. A suspensão é relativamente macia, mas sem deixar o SUV de sete lugares bobo nas curvas ou molengão. É confortável na medida certa para ainda ter o típico tempero alemão.
Esse conforto tem também como auxílio os borrachudos pneus 235/50 R19, que ajudam a absorver o impacto nas ruas esburacadas de São Paulo. Mas ele ainda reclama (pouco) quanto cai em terreno acidentado por ter pneus run-flat e pensado para andar em ruas europeias.
A direção é bem anestesiada, passando pouco feedback do asfalto, mas é alto que combina com um modelo com pegada mais familiar e zero pretensões esportivas. Ela tem assistência que não pende nem para o peso excessivo, nem para a maciez exagerada, ficando em um ponto neutro. Novamente, sendo coerente com sua proposta.
Autonomia estendida
O que é notável é o ótimo sistema regenerativo. O Mercedes-Benz EQB possui três níveis de atuação controlados pelas borboletas atrás do volante (algo que todo carro elétrico deveria ter). No modo mais forte, ele é capaz de recuperar tanta bateria e frear tão forte, que parece que atuação do freio. É algo que ajuda muito a recuperar bateria.
Seu único porém é que, quando o freio de fato é usado, sua atuação é bruta. Parece algo on/off, o que deixa nítido o momento em que o regenerativo não é mais responsável por diminuir a velocidade do EQB e o sistema de freio entra. Falta sutileza e uma conversa melhor entre os discos e o regenerativo.
O bom é que esse sistema permite quase não usar o pedal de freio e aproveitar mais a autonomia de 291 km. Que, aliás, é outro ponto positivo do EQB. Apesar de não prometer muito, o SUV de sete lugares roda bem mais do que registra (algo raro entre os elétricos). Ele aguentou ir e voltar de Campinas a São Paulo (cerca de 100 km) e ainda sobrou mais de 120 km de autonomia.
Daimler Chrysler
No interior do Mercedes-Benz EQB existe uma sensação retrô, mas não pelo visual. Antes do grupo Chrysler ser comprado pela Fiat e depois se juntar à Peugeot com a Stellantis, eles faziam parte do que foi chamado de Daimler Chrysler. Nessa época, os modelos das marcas americanas eram um verdadeiro desastre em termos de acabamento.
E isso passou ao EQB em um ponto específico: a terceira fileira. Os plásticos usados na coluna C e D são finos, frágeis e fonte constante de ruído – algo que é perdoável em um carro de R$ 100 mil, mas não em um Mercedes, muito menos um modelo de meio milhão. As áreas de contato dos passageiros da terceira fileira também não são das melhores.
A situação acalma na fileira do meio, mas principalmente na frente. Alí, o EQB volta a ser um Mercedes-Benz. Toda parte superior do painel é macia ao toque e tem costuras vermelhas – isso porque o modelo vendido no Brasil traz pacote AMG. Isso significa também que os bancos são revestidos em couro e alcântara e o volante recebe base reta.
Há plástico brilhante no painel e outro texturizado em aço escovado que também aparece nas portas. Mas a montagem é de qualidade e os materiais escolhidos para essas áreas são bem feitos. Há de apontar também as luzes no interior, que são vistosas e interessantes, mas estão a um passo do exagero. Um LED a mais e pareceria Las Vegas à noite.
Um, dois e três
Para quem se senta na frente, o Mercedes-Benz EQB recebe com uma posição alta de dirigir típica de SUV. Só que o layout da cabine convida a um estilo de condução mais baixo. Demorei alguns dias até encontrar a melhor posição para pilotar o SUV elétrico, mesmo com uma grande quantidade de regulagens elétricas.
Na segunda fileira, as baterias colocadas no piso comprometeram o espaço, fazendo com que as pernas dos passageiros tenham de ficar mais altas que o confortável. Isso faz com que seja necessário esticar as pernas, mas como o espaço da segunda fileira é farto, não é tanta preocupação com isso.
Já a terceira fileira é apertada. Como o Mercedes-Benz EQB é praticamente um SUV compacto com sete lugares, o espaço lá atrás é acanhado e não recomendado para adultos. Porta-malas leva bons 495 litros com cinco lugares em uso ou 130 litros com sete assentos. O problema é que não há onde colocar o tampão do porta-malas com todos os bancos armados.
Brilho da estrela
Um ponto em que a Mercedes-Benz acertou muito bem no EQB é na parte tecnológica. A central multimídia e o painel de instrumentos formam uma peça só e ambas as telas tem qualidade excelente, respostas rápidas e gráficos bonitos. Cada uma delas pode ser controlada por botões específicos no volante, mas a central vai além.
Junto da função de torque na tela normal, há um touchpad no console que controla algumas funções. São itens redundantes, mas que ajudam bastante a operar o SUV elétrico no trânsito. O sistema MBUX é intuitivo, fácil de usar e conta com assistente de voz verdadeiramente útil.
O modelo ainda é equipado com itens importantes como frenagem autônoma de emergência, seis airbags, alerta de ponto cego, piloto automático adaptativo, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, farol alto automático, ar-condicionado digital de duas zonas, bancos elétricos dianteiros e porta-malas elétrico.
Há ainda controle de tração e estabilidade, faróis full-LED acendimento automático, chave presencial, retrovisor esquerdo e interno fotocrômico, autohold, teto solar panorâmico, freio de estacionamento elétrico, capô com molas a gás, alerta de tráfego cruzado, monitoramento de pressão dos pneus e assistente de mudança de faixa.
Veredicto
Por R$ 502.900, o Mercedes-Benz EQB custa pouco a menos que a versão AMG (R$ 530.900) e substancialmente a mais que o GLB (R$ 378.900) do qual ele se baseia. É um território de preço perigoso, visto que o coloca no mesmo patamar de BYD Tan, Volvo XC40 e C40, além dos BMW iX3 e i4 – todos mais potentes, mas com menos lugares.
É um carro que cumpre com sua função de levar sete pessoas com relativo conforto, tem o luxo esperado de um Mercedes-Benz (salvo uma falha grave de acabamento na traseira), uma boa lista de itens de série, mas a performance fica aquém do costume na categoria.
A compra do Mercedes-Benz EQB acaba por se justificar só por dois motivos: você precisa de um carro elétrico de sete lugares e acha o BYD Tan grande demais ou é muito fã da marca alemã. Se não precisar da terceira fileira, existem outras opções mais interessantes, de marcas renomadas de luxo, que custam menos e entregam mais.
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