Os filmes da Disney nos últimos anos mostraram uma nova faceta das princesas. Elas estão cada vez mais fortes, independentes, mas ainda mantém a elegância e a nobreza de um membro da realeza. E se fosse para procurar uma representante desse segmento nos carros, a Kia Carnival seria uma bela e nova representante.
Kia Carnival e Chevrolet Spin são as únicas minivans à venda no Brasil hoje. Só que o modelo coreano é bem maior – a ponto de ser tão difícil de achar vaga para ela quanto para uma . Além disso, leva oito pessoas, uma a mais que a Spin, e com muito mais espaço para todos. Por isso custa tão caro: R$ 544.990. E como ela surpreende.
Quero ser um SUV
Sinceramente, a Kia Carnival é uma das minivans mais bonitas à venda no mundo hoje. Ao invés de apelar para o visual de carro de família, ela tentou se inspirar nos SUVs para compor um estilo mais robusto e parrudo. Isso fica claro por conta das rodas grandes, plásticos pretos na parte inferior da cabine, carroceria musculosa e capô reto.
A dianteira chama atenção pelo desenho moderno dos faróis, em especial pela luz diurna de LED. Já a grade frontal com pontos cromados dá a ela uma cara agressiva. Na traseira, lanternas conectadas são o charme, mas a Kia colocou a seta no para-choque igual ao Hyundai HB20 – uma falha de segurança imperdoável.
O charme também está nos detalhes: o limpador traseiro fica camuflado no aerofólio e a textura de diamante usada na coluna C é repetida no interior. Além disso, o teto reto e a coluna A pintada em preto, permitem que a minivan tenha teto contrastante tal qual os SUVs que ela se inspira.
Porque meio milhão
Mas é na cabine que a Kia Carnival justifica o preço alto que se paga por ela. A cabine parece de um modelo premium, não de uma marca generalista como é a Kia. Em especial por conta do couro laranja da unidade testada, de extremo bom gosto e que ajuda a fugir do tradicional preto ou o perigoso bege que suja por qualquer coisa.
Boa parte da porção superior do painel é revestida em couro macio e costurado, enquanto as portas usam material emborrachado até na traseira. É claro que há plástico, mas os presentes são de qualidade e bem montados. Só deveria haver couro nas portas traseiras tal qual foram colocadas nas dianteiras.
Chama atenção a qualidade do couro no volante e a manopla de câmbio rotativa em metal – não em plástico como a maioria de outros carros que usam esse recurso. A montagem é muito bem feita, com poucos espaços entre as peças e materiais de qualidade. Destaque ainda para o conjunto de telas que compõem o painel de instrumentos e a central multimídia.
Ambas têm ótima qualidade, leitura fácil, pouca incidência de reflexo e são rápidas de mexer. O sistema da central é intuitivo e pouco complicado, sendo igual ao do Creta brasileiro. Tem Android Auto e Apple CarPlay, mas somente na conexão por cabo. Já o painel de instrumentos traz três visores diferentes e várias funções no computador de bordo.
Lounge
Uma minivan costuma priorizar ao máximo o espaço interno em detrimento do estilo. Se a Carnival não abriu mão de ser bonita, quer dizer que o interior é apertado? Não, muito pelo contrário. Ela é espaçosa em todas as fileiras – na dianteira, o console central é tão largo que a OMS aprovaria o distanciamento social entre motorista e passageiro.
Na fileira do meio, três pessoas grandes viajam com conforto, mesmo o passageiro central. Há controle individual do ar-condicionado para motorista, passageiro dianteiro e a terceira zona para a traseira – mas o comando foi mal posicionado no lado direito, deixando acessível somente a um dos que se sentam atrás.
Os bancos da fileira do meio podem ser virados para a traseira, produzindo um lounge. Só que para fazer isso, a operação é complicada e requer tirar o banco do lado direito e colocar ele do lado esquerdo do carro e vice-versa. O problema é que eles pesam 36 kg e têm encaixe bem difícil. Não vale à pena o esforço e trabalho que exige.
Há de considerar também que o piso da cabine é bem alto, deixando as pernas não tão confortáveis quanto poderiam ficar. Em viagens longas, pode cansar. O bom é que o banco tem diversas inclinações diferentes para aumentar o conforto. A turma do fundão também tem esse recurso, além de cortinas nas janelas.
O espaço lá atrás é o melhor que já usei em qualquer carro que tivesse sete lugares (ou oito, no caso da Carnival). Mesmo com 1,87 m de altura, meus joelhos ficam só no limite das costas do banco posterior, mesmo que esse esteja mais atrás possível. Só que o oitavo passageiro só cabe ali se for uma criança pequena. Pena que os bancos façam muito barulho quando armados.
Regalias e mimos
Ao menos o sistema para dobrar a terceira fileira é muito fácil e exige somente uma mão e dois movimentos. Com eles dobrados, a Carnival libera 2.827 litros de capacidade no porta-malas – praticamente uma van. Mas, com os oito lugares ainda há espaço – e muito: 627 litros ao todo.
O mais legal, é que a minivan traz um sistema em que o porta-malas se fecha automaticamente ao sair de perto dele com a chave no bolso. Não é preciso apertar nenhum botão para isso. As portas traseiras, com abertura elétrica, fazem o mesmo ao se aproximar delas com a chave no bolso.
Democrática quanto à sua tecnologia, a Kia Carnival tem sistema de manutenção em faixa e sistema de correção de faixa. O primeiro te mantém ao centro da via, atuando no volante de maneira autônoma, enquanto o segundo só intervém (com som e correção da trajetória) caso o motorista invada a faixa ao lado.
Ela ainda traz câmeras nos retrovisores para cobrir os pontos cegos onde imagens são transmitidas no painel de instrumentos – é o mesmo sistema do Hyundai Creta. As câmeras ainda são completadas pelo sistema 360°. A Kia Carnival ainda conta com seis airbags, assistente de farol alto, frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo.
A lista de itens de série ainda é completada por alerta de tráfego cruzado, faróis de LED com acendimento automático, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, assistente de partida em rampa, ar-condicionado digital de três zonas, auto hold, retrovisor interno eletrocrômico, bancos dianteiros elétricos com aquecimento e resfriamento, além de chave presencial.
Tijolo veloz
Preciso confessar algo: minha expectativa quanto à dirigibilidade da Kia Carnival era bem baixa. Afinal, esse não é o foco das minivans. As proporções de jamanta com 5,15 m de comprimento, 1,99 m de largura e 1,77 m de altura também não indicavam que seria algo divertido ao volante. Mas que erro.
É claro que ela não é um esportivo ou um carro para fazer curvas como um doido, mas é muito melhor de dirigir do que deveria para um modelo essencialmente feito para carregar o máximo de gente e tralha que for possível. A posição de dirigir alta te dá o posto de comando de um SUV, enquanto a área envidraçada generosa ajuda a ver tudo que se passa em volta.
A Carnival foi muito bem acertada dinamicamente, com suspensão macia, direção no peso correto, mas bem direta e rápida, além de um conjunto mecânico primoroso. Debaixo desse grande capô, reside um motor 3.5 V6. Sim, uma minivan V6 e que ronca como um esportivo, algo que ela não deveria fazer.
São 272 cv e 33,2 kgfm de torque para empurrar os 2.099 kg dessa grande coreana. E isso é suficiente para chegar aos 100 km/h em 8,5 segundos, ou seja, praticamente no mesmo tempo de um Volkswagen Polo GTS, que é considerado esportivo. Só que você faz isso com a Carnival lotada de criança e coisas aleatórias no porta-malas.
A entrega de torque é linear, sem socos ou trancos. Por ser um motor aspirado, o V6 só acende em altas rotações. E é nesse momento em que a Kia Carnival empurra sedãs metidos a esportivo, mesmo na estrada. Quando o motor ascende, ela ganha velocidade rápido e retoma com vigor. Mas se não for necessária tanta força, fica em silêncio e entrega força suficiente.
Espertona
Grande parte da vivacidade e suavidade da minivan da Kia tem como culpa o linear V6, mas também a transmissão automática de oito marchas. Ela é bem esperta, ao contrário da desesperada caixa de seis marchas usada por seus primos Hyundai HB20 e Creta no Brasil. As trocas são imperceptíveis e no momento certo, sem segurar marcha demais ou trocar desesperadamente como se fosse um CVT.
Mas o mais interessante dela é a presença do modo de condução Smart. Nele, a Carnival alterna entre Eco, Sport e Normal de acordo com o jeito que o motorista está dirigindo. Ou seja, se pisar forte, vai entrar o Sport rapidamente – agora, se está andando no trânsito suavemente, ela entrará no modo Eco sozinha. É algo que facilita (e muito) a vida.
Há de destacar o consumo, que deveria ser alto para uma minivan V6 enorme, mas não. Durante nossos testes, ela marcou média de 8,7 km/l durante os 1.000 km rodados, com trechos feitos mais em estrada, mas também enfrentando trânsito pesado. Só nas rodovias, marcava média de 11,3 km/l, já na cidade, baixava para 7,1 km/l.
A única grande questão com a Kia Carnival na hora de dirigir é o pneu que ela usa. Seus Goodyer 235/55 R19 Runflat são duros excessivamente e ruins de curva. Por qualquer bobeira ou acelerada mais forte, a minivan canta pneu, mesmo estando bem longe de seu limite. Barulho de rodagem é nítido e os ruídos ao passar por sinalizadores estragam todo o ótimo isolamento acústico que ela tem.
Veredicto
A Kia Carnival era o tipo de carro que tinha tudo para ser somente algo funcional: levar famílias e transportar executivos. Mas, surpreende por ser um carro muito mais gostoso de dirigir do que deveria ser, mais econômica do que a teoria permitia supor e mais luxuosa do que esperava por uma marca generalista como a Kia. Sem contar o quanto é bonita.
Só precisava de um conjunto de pneus melhores e um sistema mais fácil para inverter os bancos da fileira do meio. Não seria pedir demais por limpadores automáticos, algo que ela não tem, e por mais cuidado com a terceira fileira de bancos – que range como se fosse uma Mercedes-Benz Sprinter velha que já carregou crianças em seu interior por 10 anos.
Sim, custa caro demais, invadindo o território de modelos premium. Mas nenhum SUV vai ter tanto espaço quanto ela e tanta praticidade. Além disso, chama atenção nas ruas por ser extremamente exótica, enquanto quem senta dentro nunca vai reclamar de falta de conforto. Para quem quer fugir do local comum, como as novas princesas da Disney, é o modelo ideal.
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