Por mais estranho que possa parecer, a Jeep não é uma marca só de SUVs. Há anos eles produzem picapes, mas desde o final dos anos 1990 elas estão ausentes. O Brasil jamais viu uma caminhonete Jeep. A não ser agora com a chegada da Gladiator por R$ 499.990.
E já é preciso deixar claro que ela não é para o picadeiro típico: aquele que compra Toyota Hilux, Mitsubishi L200 Triton, Ford Ranger, Nissan Frontier ou Chevrolet S10. A real é que a Jeep Gladiator não faz o que essas caminhonetes fazem. Mas elas não fazem o que a Jeep faz.
Picape aranha
Tal qual o Wrangler, ela simplesmente sobe parede. Trilhamos rumo ao Leageado de Pai Matheus no interior da Paraíba onde poucos carros conseguem chegar. A Gladiator passava pelas pedras, rochedos e depressões como um sobe a rampa do shopping.
Algo que só é possível graças ao seu sofisticado sistema de tração nas quatro rodas. Ela tem opções 4×2 com tração traseira, 4×4 para alta velocidade (inclusive com modo específico para rodar mas dunas), 4×4 parcial, 4×4 com reduzida e neutro.
Para ajudar ainda mais no off-road pesado, a Gladiator tem bloqueio do diferencial dianteiro e do traseiro. Além disso, a barra estabilizadora dianteira pode ser desacoplada para aumentar 30% do curso da suspensão e manter a roda em contato com o solo. Na prática, tudo isso significa que ela vai enfrentar uma buraqueira terrível sem esforço algum.
Ronco em V
Outro ponto no qual ela se difere muito das demais picapes médias está no motor. Aqui no Brasil o diesel é regra para toda caminhonete maior que uma Toro. Mas a Gladiator segue uma receita semelhante à RAM 1500 Rebel: usa gasolina em um motor grande.
Especificamente, a Jeep Gladiator traz motor 3.6 V6 Pentastar a gasolina. São 284 cv, ou seja acima da barreira padrão de 200 cv do segmento. Mas o torque fica em 35,4 kgfm, abaixo dos 50 kgfm das rivais diesel. Mas nada se compara ao delicioso ronco de um motor V6 a gasolina.
A Gladiator ruge alto e ganha velocidade fácil, mas por ser uma picapona de 5,59 m de comprimento, não parece andar tão rápido quanto de fato está. Isso também é trunfo do ótimo trabalho de suspensão e isolamento acústico. Ela roda silenciosa, serene e esperta.
O que mais se houve de barulho é das borrachas e vedações das três partes removíveis do teto quando a carroceria torce em trilhas. No asfalto, ela vai silenciosa. Aliás, por usa pneus mais urbanos que os do Wrangler, a Gladiator roda mais macia, sem barulho de rodagem e exigindo menos correções de volante.
A direção é pesadinha, o que combina com o tamanho e robustez dela. Já a transmissão automática de oito marchas está em estado de arte: muito rápida nas trocas e retomadas, mas com trocas suaves e quase imperceptíveis. É um câmbio que faria maravilhas na linha nacional da Jeep.
Mas a Gladiator tem seus poréns. Começa pela caçamba que, apesar de levar 1.000 litros de carga, não pode exceder 674 kg – capacidade de carga inferior a uma Fiat Strada. Até por isso que a Jeep não usou diesel na caminhonete. Outro ponto é o consumo: 6,5 km/l na cidade e 7,4 km/l na estrada. O ponteiro digital vai descendo rápido.
Mimo bruto
Um dos pontos mais interessante da Jeep Gladiator é o fato de que o acabamento dela fica em um meio termo entre o “quero ser uma marca premium” e o “tenho que ser bruta como um Wrangler”. A cabine dela e do SUV são idênticas, vale ressaltar.
Há couro na parte superior do painel e toda a porta é revestida em material macio. Mas há partidos expostos e superfícies nitidamente rígidas para dar a sensação de parrudez. Volante e manopla são todas em couro de ótima qualidade.
Ela tem mimos como drenagem de água na base dos tapetes para permitir a lavagem do interior. Além disso, vem equipada com Android Auto e Apple CarPlay, ar-condicionado digital de duas zonas, frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, alerta de ponto cego e chave presencial.
Mas o item mais legal de todos é o sistema de som. Além de ser assinado pela Alpine e ter excelente acústica, com caixas de som no teto da picape, ela conta com um presente. O subwoofer atrás do banco traseiro é destacável e se transforma em uma caixa de som Bluetooth estilo JBL com volume suficiente para irritar seu vizinho.
Veredicto
Donos de Hilux, L200, Ranger, S10, Frontier e Amarok, essa picape não é para vocês. Ela não vai carregar o que duas caminhonetes conseguem e passa longe do diesel, adorando frequentar o posto de gasolina.
Mas, por R$ XXX.XXX ela entrega a experiência do Wrangler com uma caçamba para lotar de tralha. É versátil, um monstro no off-road e tem um belo ronco de um V6 a gasolina. É um tipo diferente de caminhonete, mas muito mais divertida que qualquer outra na categoria.
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