Existe uma máxima dos tempos do carburador que diz “não há substituto para deslocamento”. Em alusão ao fato de que motores grandes são os que produzem mais potência e, consequentemente, diversão. Mas a tecnologia avançou tanto que temos esportivos como o Jaguar F-Type equipados com motor 2.0 quatro cilindros.
Se isso parece uma heresia da Jaguar, saiba que Ford Mustang e Chevrolet Camaro contam também com motores quatro cilindros turbo lá nos EUA. Com 2.3 litro no caso do Ford e o 2.0 no caso do Chevrolet – exatamente o motor usado no Chevrolet Equinox aqui no Brasil.
É obvio que o som de um motor V6 é inigualável, ainda mais em um Jaguar. Só que na hora de fazer as contas, a situação não compensa. Pelo F-Type P300 com motor 2.0 turbo a Jaguar pede R$ 404.166, enquanto o modelo V6 começa em R$ 537.351. São R$ 133.185 a mais, ou o equivalente a um Jeep Compass Sport.
A diferença é considerável pro si só, mas não há compensação tão grande assim nos números dos motores. O F-Type P350 V6 tem 380 cv e 46,9 kgfm de torque contra 300 cv e 40,8 kgfm de torque do 2.0 turbo.
A velocidade final do V6 é de 25 km/h a mais (250 km/h contra 275 km/h). Já na prova de 0 a 100 km/h, o F-Type P300 chega nessa velocidade em 5,7 segundos contra 5,1 segundos do irmão P350. Facilmente uma preparação no modelo 2.0 equivalerá aos números do V6.
Pé no acelerador
Mas e na prática? Esse motor 2.0 dá conta? De bate e pronto afirmo que sim. É suficiente para o esportivo e para suas pretensões, mesmo na pista. Colocamos o Jaguar F-Type P300 na pista de testes da Pirelli no interior de São Paulo para provar isso.
O F-Type tem uma sonoridade instigante que não faz parecer ser somente 2.0 quatro cilindros. Grande parte disso se deve ao sistema de escape ativo que deixa o ronco mais encorpado quando você quer.
Ele acelera com força e disposição, muito em virtude do torque farto provido pelo turbo. A transmissão automática com oito marchas só acompanha uma tocada mais esportiva em modo Sport.
Nessa situação ele mantém as rotações mais altas e tem trocas mais espertas e nos momentos certos. Caso prefira deixa-la no modo Normal, o F-Type fica mais pacato e faz as trocas cedo demais, atrapalhando a condução mais esportiva.
Curioso fato é que, ao deixar a alavanca no modo manual e apertar o botão P para estacionar o F-Type, ela retorna sozinha à posição central.
Equilíbrio traseiro
Apesar de ter tração traseira e um capô quilométrico, o Jaguar F-Type é bastante equilibrado. O esportivo tende a sair de traseira naturalmente, mas tudo de maneira controlada. Com o pé fundo no acelerador, ele senta no chão e permanece firme e controlado, mesmo em curvas de velocidade alta.
A direção é direta e com pouca firmeza, permitindo uma agilidade notável em curvas fechadas. Não é tão kart quanto um Porsche 718 Cayman, mas certamente muito mais ágil e dinâmico que um Ford Mustang e um Chevrolet Camaro – mesmo compartilhando com eles as medidas embanheiradas.
Veredicto
Por falar nos muscle-cars norte-americanos, a versão 2.0 do Jaguar F-Type chega próxima a eles em termos de preço. Não tem o apelo do motor V8, que a marca britânica esqueceu de trazer nesse primeiro momento, mas tem muito mais refinamento em acabamento e também na dinâmica.
É um esportivo puro, divertido de dirigir, refinado e muito bonito. O Jaguar F-Type P300 é mais uma prova de que o deslocamento e o formato de um motor importam cada vez menos hoje em dia. É um 2.0 quatro cilindros sim, mas tão divertido e quase tão potente quanto o V6 que custa mais de R$ 130 mil extras.
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