Ser o segundo sedã compacto mais vendido do Brasil é um posto que o Hyundai HB20S demorou a conquistar. Com tantos elementos jogando contra ele, o mercado brasileiro aprendeu a apreciar o sedã coreano com o tempo, tal qual um vinho chique. Mas o que fez dele um sucesso que demorou a subir no ranking? É que muita gente não tinha dirigido.
Um grupo de pessoas que, inclusive, me inclui. Desde que essa geração do Hyundai HB20 foi lançada, havia testado já diversas versões do hatch, até mesmo o finado HB20X. O sedã não havia estacionado na minha garagem ainda, por isso era hora de entender como ele chegou lá em cima mesmo tudo jogando contra o Hyundai.
Questão de porte
Se o Volkswagen Voyage já tivesse se aposentado, o Hyundai HB20S seria o menor sedã compacto à venda no Brasil. E porte é algo que importa muito nessa categoria. Prova disso é que o Volkswagen Virtus tem entre-eixos espichado em relação ao Polo, o Nissan Versa sempre foi bem maior que o March e o Honda City hoje tem porte de Civic.
Só que com 4,26 m de comprimento, ele é só 10 cm maior que um Chevrolet Onix hatch e consegue ser 8 cm mais curto que um Honda City hatch. Isso implicaria diretamente em duas coisas: porta-malas pequeno e espaço interno acanhado. Só que não. O HB20S leva 475 litros no porta-malas, enquanto o espaço traseiro é suficiente.
Não é uma sala com living ampliado como o Nissan Versa, mas consegue levar dois adultos atrás com relativo conforto como um Fiat Cronos, desde que eles não sejam muito altos ou não disputem espaço com quem se senta à frente. Só que o teto alto e o interior claro da versão Platinum Plus de R$ 109.390 ajudam na sensação de amplitude.
Força cinza
A escolha de elementos em cinza no painel com preto e bancos quase brancos faz do HB20S um carro muito mais elegante que o HB20 hatch que mistura marrom com azul de maneira cafona. Parece algo de um modelo premium, numa categoria que a maior ousadia é um couro bege nos bancos e quiçá no painel, que não foge do preto.
O acabamento segue nesse tema, com plásticos bem acabados e de encaixes corretos – chega a ser uma referência na categoria que abusa de plásticos ruins. Só as portas têm couro macio, sendo o restante da cabine toda de materiais rígidos, mas de qualidade. Porém algumas coisas destoam.
Não dá para perdoar a Hyundai pelo ar-condicionado que parece digital, mas é somente um analógico com telinha. Além disso, o painel de instrumentos parcialmente digital parece que foi pego emprestado da geração antiga do Chevrolet Onix. São dois elementos que precisam urgente mudar na reestilização.
O HB20S também merecia uma nova tela para a central multimídia. Ela é opaca e reflete muito a luz do sol, além de não ter brilho suficiente. É quase impossível enxergar o mapa em um dia ensolarado. Ao menos ela é rápida, bem fácil de mexer e conta com a comodidade do Android Auto e do Apple CarPlay sem fio. Mas não há carregador de celular por indução.
Ergonomia é mais um ponto de destaque do Hyundai HB20S. Ele tem volante com ajuste de altura e profundidade, banco com diversos tipos de ajuste, além de deixar os comandos necessários na zona de visão rápida do motorista. Tudo é prático e fácil de usar, sem contar que o sedã traz alguns auxílios para facilitar a vida.
Eu que comecei
Se hoje frenagem autônoma de emergência está se tornando algo comum entre os carros compactos em suas versões topo de linha (sempre acima de R$ 100 mil), muito se deve ao Hyundai HB20 e seu irmão HB20S. Essa geração foi a primeira da categoria a contar com o sistema, que não somente alerta na eminência de uma batida, como freia completamente.
Ele ainda é equipado com alerta de mudança de faixa – diferentemente do Honda City que corrige o volante, o HB20S apenas emite um som avisando que o motorista está fora da faixa. O Hyundai traz ainda itens como assistente de partida em rampa, sensor de ré, chave presencial, câmera de ré, controle de tração, monitoramento de pressão dos pneus e rodas de liga-leve.
A lista de itens de série traz também aplicativo com função de destrancar e trancar o carro, além de partida remota, retrovisores elétricos com rebatimento automático, piloto automático, faróis com acendimento automático (mas sem LED diurno), vidros elétricos nas quatro portas, direção elétrica e faróis de neblina.
Pimentinha
Se até agora o Hyundai HB20S parece apenas mais do mesmo, na hora de dirigir é que ele revela seu verdadeiro encanto. Que sedã gostoso de guiar! Ele traz motor 1.0 três cilindros em todas as versões, sendo que as mais caras usam turbo, como é o caso da Platinum Plus. Aqui são 120 cv e 17,5 kgfm de torque.
A potência e o torque estão pouco abaixo da média da categoria, só que o HB20S pesa só 1.120 kg na versão topo de linha. Ou seja, é um carro leve e bem esperto. Ele acelera com vontade e ímpeto, além de produzir um ronco borbulhante, rouco e bem áspero que instiga a acelerar. Mas ele só aparece em giros mais altos, fora isso é silencioso.
Ele é atrelado a um câmbio automático de seis marchas que tem complexo de CVT. Explico: as transmissões CVT costumam elevar a rotação do carro rapidamente em uma retomada e instantaneamente derrubar o conta-giros (e a força) assim que o pedal do acelerador é aliviado.
O HB20S faz exatamente isso. Na estrada para retomar, ele sai da sexta marcha direto para a quarta, ganha fôlego e embala. Mas ao tirar o pé do acelerador, já desesperadamente vai para a sexta. Quem vê, pensa que é um CVT, não um automático tradicional de seis marchas. É que isso é feito para economizar combustível, tanto que a 100 km/h ele fica pouquinho acima de 2 mil rpm.
Durante os nossos testes, o Hyundai HB20S andou mais na estrada do que na cidade, fazendo média de 11 km/l com etanol e 13,7 km/l com gasolina. São números relativamente bons para o segmento, mas que não o tornam o mais frugal da categoria. Ao menos o tanque de 50 litros garante boa autonomia, que passa fácil dos 400 km até com etanol na cidade.
Quando menos é mais
Por ser um carro pequeno e leve, o HB20S é ágil. Tem direção elétrica leve, mas direta e precisa. Tocadas mais fortes em curvas são retribuídas com um comportamento quase de hatch. No limite a traseira tende a sambar um pouco – só que menos que a maioria dos modelos de bumbum saliente.
A suspensão segue como um ponto bom e ruim do Hyundai HB20. Ela tem acerto intermediário entre o confortável e o firme: é exatamente o meio do caminho entre Fiat Cronos e Volkswagen Virtus, mais sólida e gostosa que de Nissan Versa e Honda City. Só que passar em buracos ou lombadas com mais velocidade é seu Calcanhar de Aquiles.
O HB20S bate seco a suspensão traseira, dando barulho de fim de curso. Quase como se houvesse algo no porta-malas que saísse do lugar e batesse no forro acarpetado. Faltou o cuidado que houve com o hatch na suspensão do sedã. Só um exemplo de economia que não deveria ter sido feita junto da falta de tinta no interior do capô e do porta-malas.
Veredicto
Desde que essa geração do Hyundai HB20S foi lançada, todo mundo só sabia falar sobre o visual. Que é feio, que parece um bagre ou outros termos pejorativos. O tempo passou e nos acostumamos a ver ele nas ruas e não mais ofender aos olhos. Não é o mais bonito da categoria (posto disputado por Versa e City), mas não é um carro ofensivo.
Só que bastou o público dirigir o HB20S, sentir suas qualidades ao volante, prestar atenção no acabamento mais bem cuidado que os rivais e na lista de itens de série com equipamentos verdadeiramente relevantes para perceber que ali está um sedã com fortíssimo apelo para o bolso e também para o prazer ao dirigir.
São poucas as falhas que ele precisa corrigir na reestilização para além do visual. Prova disso, é que o segundo lugar no ranking de vendas dos sedãs compactos no Brasil está mais do que justificado e justo para ele. Talvez a única coisa que o impeça de assumir a liderança depois da reestilização será o porte mais acanhado que do rei da categoria, o Chevrolet Onix Plus.
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