Entre os carros populares, as versões de entrada geralmente são absurdamente capadas de itens de série para custar pouco. Tanto que, vez ou outra, as próprias marcas ignoram a existência dessa variante que só frotistas compram. Mas não é exatamente assim com o Hyundai HB20 Sense.
Apesar de ser o queridinho entre os motoristas de Uber e vez ou outra ser visto com adesivos de companhia telefônica, o HB20 Sense é uma versão de entrada que não economiza em equipamentos, o que a torna atrativa ao consumidor comum. Ok, existem algumas concessões um tanto quanto inexplicáveis, mas o Hyundai entrega além do essencial.
Além do franciscano
Por R$ 50.990 ele traz basicamente o que subcompactos como Kwid e Mobi trazem na mesma faixa de preço. A vantagem é que o HB20 tem projeto mais moderno, mais espaço interno e não tem tanta cara assim de carro barato.
De série ele vem com itens surpreendentes como comandos de som no volante, quatro airbags, banco com regulagem de altura e controle de estabilidade. Traz ainda ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas e rádio com MP3 e Bluetooth com desenho nitidamente feito para você sentir falta da central multimídia.
A versão abre mão das alças de teto (os famosos PQPs), pintura nas colunas, maçanetas e retrovisores, além de contar com pneus minúsculos 175/70 com calotas de 14 polegadas. Apesar disso, não fica com aquele visual de versão basicona forçadamente pelada. Ainda mais com a nova grade preto brilhante.
Visual, aliás, continua polêmico como sempre. O HB20 não vai agradar a todos por conta de seu estilo controverso. Mas basta enxergar além disso para entender suas verdadeiras competências.
Quando menos é mais
Justamente por dentro que ele menos transparece ser uma versão de entrada. Há uma faixa prata contrastante ao plástico preto que domina a cabine – aliás, essa configuração é bem melhor que o marrom com azul do HB20 topo de linha que beira o cafona.
Os bancos contam com tecido preto com texturas internas que dão um diferencial interessante ao modelo. Outro ponto interessante é que o painel de instrumentos regular é mais elegante e tem melhor visibilidade que o digital (parecidíssimo com o do antigo Onix) que o HB20 topo de linha usa. O porém está para o computador de bordo com poucas funções.
Mesmo menor que seus concorrentes, o Hyundai HB20 tem bom aproveitamento de espaço interno. Motorista alto encontra fácil uma posição de pilotagem confortável, mesmo sem regulagem de altura e profundidade do volante. Espaço atrás é suficiente e o porta-malas de 300 litros da conta do recado.
Mais alma
Aqui no Auto+ recentemente testamos a versão topo de linha do HB20, a Diamond Plus. Ironicamente ou não, o HB20 Sense que é R$ 27 mil mais barato é mais divertido de dirigir. É claro que o motor 1.0 Kappa três cilindros aspirado de 80 cv e 10,2 kgfm de torque é mais fraco que o 1.0 T-GDi de 123 cv e 16 kgfm.
Contudo, esse modelo de entrada é mais envolvente, tem mais alma. Ele tem um comportamento mais arisco, com acelerador bem sensível e ávido a aceleradas um pouco mais animadas que o necessário. A força de verdade vem pouco acima de 2.500 rpm, quando o HB20 puxa mais forte.
Contudo, logo depois dos 3.500 giros ele começa a perder fôlego e mostrar que se trata de um modelo aspirado com menos de 100 cv. Para gerenciar melhor essa força, o HB20 Sense conta com uma excelente transmissão manual de cinco marchas que nos faz desejar ainda mais por um HB20 turbo manual.
Ela tem engates curtos, precisos e com pouco ruído de funcionamento. As relações de marcha são bem curtas para dar ao hatch compacto fôlego na cidade. O revés é que na estrada ele fica acima dos 3 mil giros e acaba por gastar bem mais combustível. Em nossos testes com etanol, ele manteve média de 10 km/l, tanto na cidade quanto na estrada.
Há também duas curiosidades sobre a transmissão. Ao engatar ré ele emite um bip como se tivesse sensor de estacionamento, algo que não tem. Além disso, só permite que o motor seja ligado caso o pedal da embreagem esteja totalmente pressionado.
Conforto que fala?
Com suspensão mais macia e voltada ao conforto, o HB20 não é do tipo de carro que vai engolir curvas. Até porque os pneus 175/70 R14 dobram bastante mesmo com pouca velocidade e têm o costume de cantar tão alto quanto Whitney Houston no refrão de I Will Always Love You.
Ao menos absorvem bem a buraqueira e transmitem pouco do asfalto para o interior do hatch compacto. Em conjunto a isso está a direção elétrica, que é bastante leve tanto nas manobras quanto no uso na cidade. Ela endurece acima de 70 km/h e mantém o HB20 em segurança na estrada.
Ele é um pouco suscetível a ventos laterais por conta dos pneus finos, mas nada que o tire de trajetória ou serem necessárias constantes correções de volante.
Veredicto
O Hyundai HB20 Sense é a prova cabal de que uma versão de entrada não precisa ser pelada ou sem graça. Ele tem boa lista de itens de série, não força a barra em elementos visuais para parecer mais barato e nem por isso deixa de ser divertido de dirigir – aliás, mais divertido que o modelo turbo.
Por R$ 50.990 ele é mais negócio que Fiat Mobi Way e Renault Kwid Outsider, ainda que não tenha tantos equipamentos ou visual aventureiro. Contudo, entrega um projeto mais moderno, bem acabado e até com mais status. Só vencer o preconceito com o design controverso, que o HB20 Sense prova uma compra campeã.
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