Nos últimos tempos, o Hyundai Creta tem crescido bastante nas vendas e periga ser o SUV mais vendido do Brasil em 2023. Por isso, estava na hora de testar novamente o modelo para entender de onde vem toda essa preferência nacional. E, para isso, escalei o esportivado N Line e tive uma grata surpresa: é o melhor de todos os Creta.
Por R$ 171.590, o Hyundai Creta N Line entrega o motor certo em um pacote de itens de série que antes estava disponível somente para o gastão motor 2.0 aspirado. Aliás, ja vai a dica: o Creta 1.0 turbo anda igual ao 2.0 aspirado, mas gasta a metade — ainda que os dois motores não sejam nada econômicos.
Só que essa versão não escapou de algumas mancadas. A primeira é a a inexplicável ausência de piloto automático adaptativo, te obrigando a ir para o modelo 2.0 por conta desse item. A segunda é o visual. O Creta de segunda geração, definitivamente, não é um carro bonito e a versão N Line evidencia isso.
Só que uma semana convivendo com o SUV compacto me fez esquecer totalmente sua feiura. Afinal, suas qualidades passam por cima do controverso visual e, no final das contas, ele te conquista. Mas, afinal, o que o Creta tem de tão bom assim?
Opção certa
A versão N Line corrigiu um grande defeito que o Hyundai Creta com motor 1.0 tinha: falta de equipamentos. O modelo esportivado é muito recheado para sua faixa de preço. Traz itens como teto solar panorâmico, faróis full-LED, frenagem autônoma de emergência, seis airbags, controle de tração e estabilidade.
Há ainda chave presencial, farol alto automático, sistema de câmeras 360°, câmeras de auxilio a ponto cego, sistema de alerta ou manutenção de faixa, ar-condicionado digital de uma zona, bancos revestidos em couro, banco do motorista com ventilação, carregador de celular por indução e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay conectado via cabo.
Esteticamente, o N Line se diferencia de outros Creta pelos detalhes. O para-choque frontal é mais esportivo com entradas de ar maiores e friso preto conectando a grade e os faróis. Na traseira, ele recebe difusor central e saída dupla de escape. Há ainda teto preto, colunas cinza e rodas de liga-leve de 17 polegadas com desenho de esfiha.
Sensação extra
Um dos pontos que mais me surpreendeu no Creta N Line é que o visual controverso também cria um efeito diferente. Literalmente. Ele se destaca nas ruas e comumente as pessoas acham que ele é mais caro do que de fato é. Muitos chutavam preços acima de R$ 200 mil, não os R$ 171.590 que a pede por ele.
Boa parte disso está no visual do interior. A cabine parece sofisticada e refinada. Não há elementos macios ao toque como os presentes no Jeep Renegade ou no CAOA Chery Tiggo 5X. Só que os plásticos usados são de qualidade e a aparência é de um carro mais sofisticado e caro.
Na versão N Line, o SUV compacto recebeu acabamento todo em preto. O constraste entre texturas diferentes cria uma atmosfera muito agradável. Junte isso ao couro dos bancos e do volante, de muito mais qualidade que a media da categoria, e terá alguns dos motivos pelos quais o Creta custa o que custa.
A maior diferença do N Line ficou por conta do volante esportivo vindo diretamente do i20 N, que combinou com a cabine, mas ficou devendo base reta. Painel de instrumentos parcialmente digital é o mesmo das demais versões, ficando azul no modo de condução normal, verde em eco e vermelho em Sport.
Já a central multimídia merece diversos elogios. É fácil de mexer, tem tela larga e que reproduz o Apple CarPlay por completo. Além disso, é rápida e com qualidade de resolução tão boa quanto a VW Play, referencia na categoria. Curioso até é a presença de um compilado de sons da natureza (incluindo um café lotado).
Quase no andar de cima
Honda HR-V e Hyundai Creta são SUVs compactos, mas que beliscam o segmento de médios no quesito tamanho (e preço, em algumas situações). O coreano tem 4,30 m de comprimento, 1,79 m de largura, 1,63 m de altura e entre-eixos de 2,61 m. E essas medias extras são refletidas na cabine.
O Creta é muito espaçoso. Motorista conta com uma boa quantidade de regulagens, o que o permite sentar bem alto ou baixo, de acordo com a preferência. Já os passageiros traseiros ficam altos, mas as pernas esticadas permitem aproveitar melhor a área e o espaço, tornando a vida tranquila la atrás.
O porta-malas conta com 422 litros muito bom aproveitados. Como a tampa é baixa, o piso do porta-malas fica completamente plano em relação à entrada de cargas, sem degrau. Já o estepe de tamanho padrão ocupa um bom espaço, que poderia ter suas laterais aproveitadas com porta objeto.
Ronquinho de esportivo ele tem
Debaixo do capô temos um motor 1.0 três cilindros turbo flex de 120 cv e 17,5 kgfm de torque que dá conta suficientemente do Creta. É um motor que vibra bastante e ronca mais alto do que deveria para um modelo como ele. Mesmo com pegada esportivada, o ronco áspero e estridente não combina com o SUV.
Nas saídas, o motor demora a acordar, sendo irritantemente letárgico em uma rampa de estacionamento. Parece faltar fôlego ou necessitar reduzir uma marcha para que ganhe vida — mesmo estando em primeira. Mas, fora isso, é um carro esperto o restante do tempo.
Saídas fortes soa fácies para ele, assim como renomadas mais animadas. É um motor com bastante torque e energia, lidando bem com o peso extra do Creta em relação ao HB20. Problema só que não é econômico. Durante a semana de testes, o Creta fez 5,3 km/l na cidade e 10,7 km/ na estrada com etanol.
Oficialmente a Hyundai declara 8,2 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada. Mas o resultado foi bem diferente. Isso porque o câmbio automático de seis marchas tenta a todo tempo priorizar consumo, até no modo Sport. Ele tem complexo de CVT, ou seja, derruba a rotação do motor sempre que julgar necessário.
Isso faz com que o Creta rode com giro baixo o tempo todo, trocando de marcha desesperadamente a fim de atingir um consumo mais moderado. Ao menos, ao pisar forte no acelerador, o cambio acorda rápido e reduz quantas marchas forem necessárias sem medo.
Conforto é o nome do meio
Apesar da pompa de esportivo vinda da versão N Line, a pegada do Hyundai Creta segue sendo o conforto. O modelo foi pensado para carregar famílias por horas em sua cabine sem que ninguém reclame de nada. A suspensão absorve muito bem os impactos e relevos do solo, trabalhando em silencio.
Mas não espere qualquer tipo de aptidão off-road vinda do Hyundai Creta. O máximo que ele encara é uma estrada de terra batida com algumas reclamações. Sua maior aventura é o shopping. E nesse ambiente inóspito, a direção mostra uma característica curiosa.
Ela trabalha com uma interessante firmeza o tempo todo, privilegiando uma tocada mais parecida com os Volkswagen e próxima ao que o brasileiro tende a preferir em geral. Mas, ao engatar a ré para fazer uma manobra, a direção instantaneamente fica muito mais leve: mais um auxilio junto das excelentes câmeras 360°.
Por falar em tecnologia, o sistema de manutenção em faixa merece elogio. A Hyundai permite manter o alerta sonoro ou a correção de volante de fato. Ambos trabalham com suavidade sem irritar o motorista, mostrando que esse tipo de tecnologia precisa auxiliar, não punir. Mas faltou o piloto automático adaptativo…
Veredicto
O Hyundai Creta N Line é um grande paradigma sobre rodas. Ao mesmo tempo em que é o SUV compacto mais feio à venda no Brasil, é um dos melhores modelos em sua categoria. Com dirigibilidade agradável, sensação de ser um carro mais caro do que é, bom conjunto mecânico e boa lista de itens de serie, ele é uma compra certa.
É o tipo de carro que vai te fazer feliz na hora de dirigir e agradar aos que viajam com você. Só é preciso engolir o visual controverso. Mas, como você não olhará para a frente ou traseira dele enquanto estiver dirigindo, é só ignorar esse detalhe. Porque o Creta N Line é tão bom, que me fez esquecer disso.
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