Ficamos um ano sem o Honda Accord no Brasil e pouca gente lembrou que isso aconteceu. E é uma pena, porque esse sedã japonês é simplesmente incrível. E já abro esse texto com uma declaração tão enfática pois é a realidade sobre ele. Só que, por melhor que ele seja, o brasileiro pouco liga e nem lembra que o Accord existe.
Por R$ 332.400, o Accord é o Honda mais caro do Brasil e invade o território de modelos como BMW Série 3, Mercedes-Benz Classe C e de SUVs médios bem refinados. O preço alto e a baixa quantidade de unidades que são importadas para o Brasil são seu grande problema. Mas, honestamente, existe R$ 300 mil de carro ali.
Eletrificação do jeito certo
Dentre as marcas não de luxo, a Toyota foi a primeira a apostar forte nos sistemas híbridos. Os atuais modelos da marca são eficientes, mas longe de serem extremamente econômicos, mas sempre muito mais fracos do que a categoria pede. Quem hoje domina essa eletrificação parcial são os chineses…e a Honda.
Lançado na geração passada do Accord, o sistema e:HEV passou por mudanças no Civic e foi aprimorado na nova geração do sedã grande. Trata-se de um motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 146 cv e 19,2 kgfm de torque que trabalha como gerador de energia elétrica para o motor elétrico de 184 cv e 34,1 kgfm.
Na vida real, o 2.0 trabalha a maior parte do tempo gerando energia, mas ele pode ser conectado às rodas no momento que o sistema elétrico é menos eficiente (na estrada) ou quando precisa de ajuda. Assim, ele pode chegar a 207 cv no total. Só que essa mudança entre os sistemas é totalmente imperceptível.
A entrega de força do Honda Accord é linear e presente, tanto que faz de 0 a 100 km/h em 8,8 segundos. Ultrapassagens são feitas sem grande esforço por parte do Accord, que ainda simula marcha e finalmente coloca fim ao chatíssimo efeito enceradeira típico de todo Honda com transmissão CVT.
Resultado desse conjunto? Consumo declarado de 17,8 km/l na cidade e 16,1 km/l na cidade. Mas, na vida real, ele vai bem melhor. Durante nossos testes com mais de 1.000 km rodados, o Accord fez 20,3 km/l na cidade e 19,5 km/l na estrada. Um consumo absurdo para um carro de quase 5 m de comprimento!
Ajustes diários
Para ajudar nesse consumo extremamente baixo, o Honda Accord conta com um sistema regenerativo bem eficiente. São seis estágios de regeneração controlados pelas borboletas atrás do volante. Só faltou um modo totalmente solto para ser usado em estradas ou avenidas de velocidade constante.
Em uma descida de serra, é possível não tocar em nenhum dos pedais, controlando o Honda só pelo regenerativo. O interessante é que, no momento em que as baterias ficam cheias (e isso acontece rápido), ele passa a usar o freio motor do 2.0 aspirado para criar o mesmo efeito do regenerativo do sistema elétrico.
E mesmo nessa situação, o silêncio no interior do Accord o faz tranquilamente ficar no mesmo patamar do Série 3 e do Classe C. É possível ouvir o ruído do motor, mas muito sutilmente. Ele só se faz presente no modo Sport por conta da simulação e ainda assim é bem educado.
Suntuosidade
Um dos pontos nos quais um verdadeiro carro de luxo se destaca é o conforto. E não é exagero dizer que, novamente, esse Honda está no mesmo patamar de um Mercedes ou BMW de preço semelhante. O Accord engole quilômetros de asfalto no mais absoluto conforto e serenidade.
É um rodar macio, mas sem ser molenga. Afinal, é um Honda e ele precisa ser bom em curvas. A direção direta junto da suspensão mais firminha, fazem com que ele lembre bastante o comportamento do Civic, mas adicionado ao fato de ser um carro mais americano, ou seja, mais confortável.
Mesmo tendo 4,97 m de comprimento, 1,86 m de largura e 1,45 m de altura, não parece uma barca gigantesca. Como a direção é comunicativa e relativamente direta, o Accord se comporta como um sedã menor. Ele é mil vezes mais instigante e responsivo do que o City, mostrando o potencial da marca em fazer um sedã divertido quase que sem querer.
Referência japonesa
Outro ponto no qual a Honda tem se destacado fortemente perante suas rivais é no nível de tecnologia nos carros. O Accord tem piloto automático adaptativo e sistema de manutenção em faixa que funcionam de maneira sublime e muito bem calibrada. As ações de acelerador e volante são naturais como se um humano as fizesse.
Ele ainda conta com frenagem autônoma de emergência e alerta de colisão frontal que não são exagerados ou funcionam sem motivo como alguns rivais. Há ainda equipamentos como controle de tração e estabilidade, alerta de tráfego cruzado, câmera no retrovisor direito que diminui pontos cegos, vetorização de torque e farol alto automático.
O Honda Accord ainda traz bancos dianteiros elétricos, ar-condicionado digital de duas zonas, chave presencial com sensor de proximidade, teto solar, partida remota, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, painel de instrumentos totalmente digital, câmera de ré e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
Civiquização
Parte importante da nova identidade visual da Honda é a horizontalização do interior. Basta olhar para City, Civic e Accord para perceber um interior com muitos elementos em comum. No caso dos dois maiores, comuns até demais. Faltou personalidade ao modelo mais caro, que parece só uma versão mais sofisticada do Civic.
A qualidade dos materiais internos é muito boa, com material emborrachado em toda porção superior do painel, acompanhado por faixas em couro. O mesmo vale para as portas, que ainda trazem um apoio bem macio para o braço. O couro dos bancos e do volante é de alta qualidade, superior ao do .
É notável o esforço da Honda em tornar o carro acessível. Por isso, o Accord traz comandos físicos para o ar-condicionado e até um rotor para controlar o volume do rádio. Em tempos em que tudo é touch, esse tipo de abordagem é mais do que elogiável e deveria se tornar exemplo para muitas montadoras.
O painel de instrumentos é totalmente digital com o típico layout da Honda. Tem instrumentos claros de serem lidos e um belo visual. Já a central multimídia deveria ser o padrão para todos os modelos nacionais da marca. Ela é rápida, fácil de usar e a qualidade da tela é ótima. Só que a conexão com Apple CarPlay sempre falha via cabo ou sem fio.
Casarão japonês
Agora, se é para falar de espaço, nada nessa faixa de preço se compara com o Honda Accord. Ele é gigantesco por dentro, especialmente no banco traseiro. Mesmo o teto em queda acentuada não atrapalha. Quem senta atrás ainda tem entradas USB do tipo C para carregamento e também saída dupla de ar.
No porta-malas, que carece de uma abertura elétrica, a Honda disponibiliza 574 litros de capacidade. É interessante que ele conta com porta-sacolas dos dois lados com dois ganchos. Assim, ao fazer compras, não verá sua salada ou latinhas rolando por toda a imensidão do porta-malas.
Veredicto
O Honda Accord é o tipo de carro que todos que andam ou tem falam bem, mas ninguém se lembra de sua existência. A culpa é a falta de divulgação sobre o modelo, importação em lotes minúsculos e o fato de ele custar tanto quanto um BMW e um Mercedes. Mesmo sendo melhor do que eles em vários aspecto, o peso do status é enorme no Brasil.
Absurdamente econômico, refinado como um modelo premium, gigantesco por dentro e ainda assim prazeroso de dirigir, o Accord é um dos melhores carros que a Honda já trouxe para o nosso país. É uma pena apenas que nem tudo que é bom faz sucesso. E baseado no histórico de vida do modelo por aqui, será um sucesso de crítica, só não de vendas.
Você acha que o Honda Accord é melhor que um BMW ou um Mercedes? Conte nos comentários.
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