Desde que o Jeep Compass passou a ser produzido no Brasil em 2017, o jogo dos SUV médios mudou completamente. Ele deixou claro que o brasileiro ansiava por esse tipo de carro, tanto que concorrentes como VW Taos e Toyota Corolla Cross só existem aqui por causa dele. E com essa mira a GWM trouxe o Haval H6 para cá.
SUV médio mais vendido da China por anos e um dos mais comercializados da categoria no mundo inteiro, o GWM Haval H6 aposta em uma abordagem diferente da do Compass. Ele já nasce híbrido, oferecendo tanto o sistema híbrido tradicional, como do Corolla Cross, quanto o plugin seguindo os passos do Compass 4xe.
Contudo, o modelo aposta em porte de Commander e Tiggo 8, a preço de Compass Limited, Taos Highline e Corolla Cross XRE Hybrid. Por R$ 214 mil redondos, será que o GWM Haval H6 HEV é a grande pechincha do ano?
Levem-me ao seu líder
Uma das partes mais interessantes da vinda da GWM ao Brasil, é que a marca chinesa quis ouvir os brasileiros. Antes mesmo de sequer cogitar produção nacional do SUV, ele passou por modificações específicas para o nosso mercado. Mas são detalhes que certeiramente miram na preferência geral da nação.
Começa pela remoção dos cromados nas laterais, substituídos por frisos em preto piano, mesmo acabamento usado na régua de placa na traseira. As rodas de liga-leve são pretas no H6 HEV, enquanto todo acabamento interno é constituído por revestimento em preto.
Além disso, o SUV recebeu calibração diferenciada de suspensão e direção para o nosso mercado. É nítido como ele tem um comportamento muito mais próximo a de modelos da Volkswagen e da Jeep do que de conterrâneos como os BYD ou os CAOA Chery.
Isso porque os chineses tendem a gostar de suspensões molengas de pudim e direções lentas e mais mortas que universitário de ressaca em aula de exatas. Já o brasileiro é o oposto, nossa tendência é por um comportamento dinâmico mais europeu e uma pegada mais ágil. E foi aí que a GWM acertou.
Azeite de dendê
Ao volante, o GWM Haval H6 mostra um ótimo comportamento. A suspensão é confortável, mas sem ser molenga. Você tem um SUV nitidamente grande, mas que se comporta como um modelo compacto, tendo agilidade nas curvas graças a um conjunto de suspensão bem trabalhado para o gosto nacional.
Ele surpreendentemente absorve bem os impactos causados pelo asfalto tenebroso do Brasil, mantendo silêncio a bordo o tempo todo. Some isso ao fato de que a direção ficou com reações rápidas e transmite de maneira necessária o feedback do asfalto e terá um carro de dinâmica apurada.
A GWM disponibiliza três modos diferentes de atuação do volante: variando entre um mais confortável, até o dito esportivo. Para a minha particular preferência, o modo sport é o que entrega a melhor relação, mantendo firmeza no conjunto e mais rapidez de reação. Só que de nenhum modo ele fica de fato pesado, vale ressaltar.
Primeiro passo
Um dos pontos mais interessantes da estratégia de eletrificação da GWM no Brasil é que a marca chinesa nunca venderá um carro no país que não seja minimamente eletrificado. Por isso, sua porta de entrada entre os SUVs é o Haval H6 HEV, que já vem com conjunto híbrido tradicional.
Contudo, diferentemente do Toyota Corolla Cross, no qual usa o motor a combustão como protagonista e o elétrico como auxiliar, no Haval H6 a lógica é invertida. É um sistema parecido com o usado no Honda Civic e:HEV, onde o motor a combustão funciona mais como gerador de energia para o sistema elétrico do que como propulsor.
Como resultado, temos um carro com consumo oficial de 13,8 km/l na cidade e 12 km/l na estrada. Contudo, na vida real, o consumo é um pouco mais alto. Durante nossos testes, o Haval H6 comumente ficava em 9,8 km/l nos dois circuitos, tendo como melhor média 13,1 km/l na cidade e 12,9 km/l na estrada.
Medindo forças
Ou seja, tanto na teoria, quanto na prática, ele é um carro mais gastão do que o Toyota Corolla Cross Hybrid. Mas na performance, a diferença é brutal. O Haval tem à disposição 171 cv e 29 kgfm de torque no motor 1.5 turbo quatro cilindros. Além disso, são mais 136 cv e 25 kgfm do sistema elétrico.
Como resultado, entrega um total de 243 cv e 54 kgfm de torque que o tornam um carro verdadeiramente forte. As saídas são bem ágeis por conta do sistema elétrico. Só que, diferentemente do Peugeot 3008 híbrido, no qual o motor elétrico faz a saída de maneira manca e depois o carro deslancha, o GWM é um canhão todo tempo.
Como o sistema elétrico é protagonista, ele está o tempo todo tracionando o carro, enquanto o combustão ajuda toda operação. Basta pisar no acelerador que o carro reage na hora. E o interessante é que a GWM colocou um inteligente medidor de força, no qual é possível ver o quanto de energia o carro está usado.
Essa medição em porcentagem mostra a atuação dos dois motores. Sendo que nos momentos que o 1.5 turbo entra em ação, é possível ver seus giros em uma segunda linha de informação. Ao regenerar bateria, o medidor de força fica negativo, mostrando o quanto é regenerado.
Aliás, esse é outro ponto interessantíssimo no Haval H6. Em geral, são poucos os híbridos que possuem diferentes níveis de regeneração para o sistema elétrico, mais raros ainda os casos de modelos não plugin que fazem isso. Ele tem três modos ao todo, mas também permite conduzir no modo one pedal como em um elétrico.
Impressiona também o ótimo isolamento acústico do SUV. O motor a combustão, que às vezes roda com giro mais alto, mal invade a cabine, enquanto os ruídos de rodagem raramente se fazem presentes no interior do Haval H6. Mas tudo é interrompido pelo festival de pim pim pim e alertas.
Desespero de série
Não sei ao certo se os motoristas chineses são desatentos, ruins ou a GWM que é precavida demais. Mas nunca vi um carro ter tantos alertas escandalosos e constantes como o Haval H6. Se a distância para o carro da frente é pouca na estrada, ele apita. Também apita se algum carro passa por trás de você.
A seta muda de barulho quando há um carro no ponto cego. Ele também apita (de novo) e liga o pisca alerta se um carro se aproximar rápido demais da traseira ou uma moto passar voando pelo corredor lateral. E, claro, a central multimídia faz barulho a cada toque em botões físicos ou digitais. Um festival.
Contudo, a parte tecnológica do Haval H6 é muito bem feita. O piloto automático adaptativo trabalha de maneira bem orgânica e natural, junto ao sistema de manutenção em faixa, ele faz correções de volante discretas, sem fazer o motorista achar que está sendo controlado.
Apesar da quantidade de avisos, barulhos e luzes, a atuação de fato dos sistemas de emergência só acontece quando a situação é de iminente tragédia. Por isso, mostra que houve uma calibração mais correta para o brasileiro, apesar do excesso de barulhos e luzes fortes de seus alertas.
Inspirado na referência
Por falar em luz forte, a central multimídia e o painel de instrumentos totalmente digital precisam de uma opção de brilho mais baixo, além de funcionar de fato o brilho automático. Durante o dia a tela ficava escura demais, enquanto de noite, era mais clara do que deveria. Necessitando ajuste o tempo todo.
A GWM não nega que inspirou suas telas na Volkswagen, especialmente por conta do sucesso da VW Play. E, de fato, se inspirou pelo bem e pelo mal. A tela tem ótima qualidade, é rápida e tem menus fáceis de serem operados. O modo escuro é o que mais mostra a qualidade do sistema com um preto profundo.
Só que a inspiração ruim da VW Play é que, tal qual a central do concorrente, a da GWM ama travar. Durante os testes, era rotineiro que o Apple CarPlay parecesse conectado pelo celular, mas inativo na tela. Congelamentos de Google Maps ou tela preta eram comuns. E o pior: não há botão para reiniciar a tela do Haval H6.
Outro problema é que o sistema de ar-condicionado é controlado pela central. Há até um super útil atalho na barra lateral esquerda. Mas que some quando o CarPlay ou o Android Auto está ativo. É preciso sair do espelhamento para controlar o ar ou usar comandos de voz (que nem sempre te entende).
Elevação de percepção
Um dos pontos que a GWM mais caprichou no Haval H6 é no interior. O acabamento é lotado de partes macias e revestimento de couro. Inclusive, o material usado nos bancos, volante e parte das portas é nitidamente artificial, mas de qualidade e toque agradável.
Pena que o volante seja tão grande e tenha aro fino. Além disso, a presença de elementos em preto piano em áreas de contato constante nas portas levam a riscos fáceis, além de melequeira de dedo. Em uma semana testando o carro, já estava feio. O acabamento também está presente em parte do console central e do painel.
O estilo horizontalizado e limpo deixa a cabine arejada e bonita no Haval H6. Enquanto pontos discretos de luz jogam contra a exagerada tendência das marcas chinesas (e de forte presença na China) em transformar o interior de seus carros em uma Times Square.
Há ainda um console central bem alto, com espaço para uma bolsa na parte inferior e diversos cacarecos abaixo do descanso de braço. Há um gancho para pendurar bolsas do lado do passageiro e também um porta-copos modular, o qual permite utilizá-lo como porta-objetos.
Privilégio chinês
Um dos costumes dos chineses é de ter motoristas particulares, mesmo que pertencendo à classe média. Por isso, sempre esses modelos têm espaço interno privilegiado. Esse é o caso do GWM Haval H6. Como ele tem porte de Commader e Tiggo 8, o espaço traseiro é enorme.
Os bancos são inclinados de maneira confortável, enquanto o piso praticamente plano, permite que um terceiro passageiro central viage tranquilamente. Mesmo com teto solar panorâmico grande, uma pessoa alta como eu (com 1,87 m de altura) fica muito longe de raspar a cabeça no teto.
No porta-malas temos 560 litros de capacidade. A abertura é elétrica e conta com controle por gestos, aquele que você passa o pé em baixo do para-choque e ele abre. O piso é plano e o carpete usado na tampa é de qualidade muito acima do esperado.
Veredicto
Muito mais espaçoso que seus rivais diretos com preço semelhante, refinado na construção e no acabamento, além de bem precificado, o GWM Haval H6 HEV é um SUV médio com conjunto matador. A visão da marca chinesa em ler o mercado brasileiro e o estudar a fundo antes de lançar um carro foi o que fez a diferença.
Hoje na faixa dos R$ 200 mil, é difícil recomendar outro SUV médio que não seja o GWM Haval H6. A única questão é o preconceito do brasileiro com marcas chinesas, em especial iniciantes. Mas, como produto, o Haval H6 provou que está no mesmo nível dos melhores rivais e bem acima da média da categoria.
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