O ano de 2022 será marcado por duas tristes despedidas de carros populares extremamente icônicos. Ford Fiesta e Volkswagen Gol terão nesse ano seu último de vida. Só que o caso da Ford é ainda mais emblemático: a morte do Fiesta marca o fim do trio de maior importância que a marca já teve no Brasil.
Apesar de ter vendido modelos de gigantesca importância global como Modelo T, Maverick (o muscle-car, não a picape) e Ranger, o trio Ka, Fiesta e EcoSport foi o responsável por uma gigantesca virada da Ford no Brasil. Com os três, ela se solidificou nas posições mais altas do ranking dos mais vendidos por anos e até redefiniu categorias.
Quem nunca teve uma história com um Ka, Fiesta ou EcoSport? Esse mesmo que vos escreve teve como primeiro carro um Fiesta. Só que agora, a morte do último desse trio de ouro da Ford é a cereja do bolo de uma melancólica e forte decadência da marca do oval azul, que agora tenta se ressignificar no Brasil com modelos importados e mais refinados, enquanto na Europa vira a chave para os elétricos.
Filhos de Fiesta
É emblemático o Fiesta ter sido o último dos três modelos a morrer, ainda que no Brasil tenha sido o contrário. Nascido em 1976, o compacto só chegou ao nosso mercado na terceira geração, ainda importado da Espanha. Ganhou produção nacional em 1995, ainda em São Bernardo do Campo, na quarta geração (conhecido como tristonho).
Ele ganhou a companhia do Ka em 1996. Derivado da mesma plataforma, o Ka era menor, tinha apenas duas portas e visual mais simpático. Tanto que a reestilização do Fiesta de quarta geração, tratada por muitos como quinta geração (ou mk5), ganhou influências diretas do Ka graças ao estilo New Edge.
A sexta geração foi a grande responsável por quebrar paradigmas e até gerar uma má fama inicial ao Fiesta. Até então, Europa e Brasil eram alinhados em design e qualidade de acabamento. Mas, quando o Ford Fiesta passou a ser feito em Camaçari, na Bahia, tudo mudou.
O estilo era bem diferente do modelo europeu, assim como a qualidade de acabamento – bem inferior. Na Europa, essa geração foi reestilizada apenas uma vez, enquanto aqui ele mudou em duas ocasiões. Isso também explicou o motivo pelo qual os filhos dos Fiestas eram tão diferentes na Europa e no Brasil.
Lá fora foi lançado um Fiesta gigante para brigar com as minivans, mas que usava o nome Fusion. Já aqui, a moda dos aventureiros fez com que esse derivado ganhasse estepe na traseira e visual parrudo: nascia assim o EcoSport. O considerado criador do segmento de SUVs compactos e que hoje dominam o mercado.
Kinect
Ka, Fiesta e EcoSport sempre foram intimamente ligados, mas isso se tornou de fato forte na sétima geração do Fiesta, terceira do Ka e segunda do EcoSport. Lançado em 2008 na Europa e só em 2011 nas Américas, o New Fiesta trazia visual bem mais ousado, nova plataforma e pegada mais premium.
Prova disso é que ele conviveu junto do Fiesta antigo, rebatizado de Fiesta RoCam, por alguns anos. O velho modelo só saiu de linha quando o novo Ka chegou. Maior e com cara de Fiestinha, tomou o lugar de modelo de entrada da Ford globalmente, tendo até versão sedã normal e encurtada para a Índia, onde era vendido como Figo.
O EcoSport também se tornou global e passou a ser produzido na Europa e na Índia, além de rodar nas ruas dos EUA pela primeira vez. Esse foi o auge do trio de modelos, em que tinham presença mundial e vendiam muito bem no Brasil. Mas depois do auge, vem a queda.
Um por um
Quando a Ford apresentou a oitava geração do Fiesta na Europa, ela já não estava bem no Brasil. Ameaçava falência, fechar fábricas ou reduzir a gama. Até tentou dar um novo tapa no visual do New Fiesta, mas as vendas não animaram. Tanto que ele saiu de linha rapidamente assim que a fábrica de São Bernardo foi fechada em 2019.
O Ka assumiu seu lugar, ganhando transição automática e acabamento melhor. Mas a crise batia feio na Ford, que aos poucos foi capando o Ka e piorando seu acabamento, movimento que também aconteceu com o EcoSport em seus últimos anos. Quando a planta de Camaçari fechou no fim de 2020, o começo do fim do trio de modelos foi iniciado.
O Brasil havia sido o berço do desenvolvimento de Ka e EcoSport, com as fábricas brasileiras fechadas, restava apenas a produção internacional para sustentar. A Europa já havia desistido de vender o Ka, mantendo o modelo em produção apenas para abastecer a Índia. Só que a Ford também não estava bem por lá.
Em setembro de 2021, a Ford fechou as fábricas na Índia e declarou o fim da vida do Ka oficialmente depois de 25 anos de vida e três gerações (sendo a segunda diferente no Brasil e na Europa). Já o EcoSport morreu em março de 2022, sendo que as últimas unidades foram feitas na Romênia. Foram duas gerações, ambas desenvolvidas no Brasil e 19 anos de vida.
Por fim, o Fiesta está a caminho da morte. A Ford anunciou que junho de 2023 será seu último mês de vida. Tanto que a marca já divulgou de despedida bastante emocionante, anunciando a morte do compacto aos 47 anos de vida. Ele hoje é feito somente na Alemanha, na planta de Cologne e será substituído pelo Puma elétrico, feito sobre a mesma plataforma.
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