Começo este texto com uma confissão: eu havia decidido não comprar mais nenhuma versão do game F1, por ter a impressão de que, desde que me conheço por gente, ele entrega ‘mais do mesmo’. Gráficos melhores aqui e ali acompanham a curva natural da tecnologia dos games – e a mudança de carros, pilotos e regras complementam um pacote bem basicão.
Me parece bem desnecessário comprar um mesmo jogo todo ano só porque o Kimi Räikkönen saiu da Ferrari e foi pra Alfa Romeo, ou algo equivalente. Neste sentido, o game Nascar Heat 3, por exemplo, dá um show, oferecendo uma simples atualização dos carros e pilotos via download, a um preço bem mais acessível.
Mas eu quebrei minha própria promessa e comprei o F1 2019. E o que me motivou a fazer isso foram as anunciadas mudanças no modo ‘Carreira’, que sempre foi meu favorito no jogo. Agora, você começa pela Fórmula 2 (último degrau entre as categorias de base), enfrentando pilotos reais e adversários criados pelo sistema (que mais tarde chegam à Fórmula 1 junto com você, gerando uma rivalidade). Isso é bem bacana, preciso admitir.
A outra mudança que me interessou foi a possibilidade da ‘dança das cadeiras’ ao longo do jogo, como já acontece em games de futebol. Finalmente, os pilotos de verdade mudam de equipe ao longo do jogo. Pra vocês terem uma ideia, ainda na minha primeira temporada, o Pierre Gasly já é piloto da Ferrari e o Valtteri Bottas está na Renault. Charles Leclerc corre na McLaren, Lando Norris na Force India e assim por diante. Essa foi uma melhoria e tanto e deixou o jogo menos previsível e mais próximo do que pode acontecer na vida real. Os pilotos vão mesmo trocando de lugar ao longo da carreira. Legal, né? Pois é. Mas se eu não fosse criticar nada, poderia terminar este texto exatamente aqui.
Porque de resto, o F1 2019 é o mesmo de sempre, derrapando em erros bem básicos (ou será que ele só não atende minhas preferências?. Minha plataforma atual é o Playstation 4, então não sei como ele se comporta no PC ou no Xbox, ok? Mas imagino que não seja muito diferente do que vi.
A primeira coisa que me desagrada profundamente é que a versão brasileira é inteiramente dublada na nossa língua, sem a opção de colocar o áudio em inglês (mesmo havendo a possibilidade de ativar legendas em português). Ou seja: o jogo é em português com legendas em… português. Se vocês entenderem, me expliquem, por favor.
Pra quem realmente curte F-1, isso é uma decepção que tira o realismo do jogo (todo mundo sabe que o universo da categoria é todo em inglês). Fica bizarro o narrador chamar o comentarista Anthony Davidson, ex-piloto britânico de Fórmula 1, e entrar uma voz falando português do Brasil fluente, como se fosse o seu brother da faculdade.
O mesmo acontece com a sua agente e seu chefe de equipe. Apenas o rádio pode ser ativado em inglês. Mas adivinhe? São as mesmas frases repetidas e repetitivas do jogo de 2017, o último que havia comprado. Detalhe: seu engenheiro Jeff (a voz) é sempre o mesmo, ainda que você mude de equipe. Mais um ponto negativo que reduz a curtição do realismo do jogo.
Não estou dizendo que um jogo vendido no Brasil tenha de ser em inglês, muito pelo contrário. É natural que seja na nossa língua. Mas pelo menos esta opção (de áudio original) ele deveria oferecer nas configurações, como qualquer desenho animado da Netflix. Uma informação aqui. Logo depois de comprar o F1 2017, eu cheguei a escrever para os desenvolvedores gringos (Codemasters), sugerindo que contratassem narradores e comentaristas locais para o jogo, se desejavam tanto que ele só tivesse a opção em português.
Eles chegaram a fazer isso no passado (acredito que inclusive com o narrador Milton Leite) e era bem razoável. Acho que fui bem pretensioso e evidentemente meu e-mail aguarda resposta até hoje. Quem dera eles tivessem lido! Em outro ponto, o F1 2019 quis caprichar no realismo e, na minha opinião, exagerou. As corridas com chuva têm visibilidade muito, muito precária e guiar o carro na pista molhada torna-se bem complicado para quem não é fanático por jogos de corrida. Acho que nesse sentido até traduz bem o que acontece na pista, mas pode irritar quem não domina a arte.
Uma novidade da nova versão é também o retorno das entrevistas para a imprensa, que podem aumentar ou diminuir a sua reputação e dificultar ou facilitar negociações de contratos. A proposta é interessante, mas na prática vira uma chatice, com perguntas repetidas e você tendo de escolher entre três ou quatro respostas prontas (sempre as mesmas!). Será que é assim que os pilotos se sentem com nossas perguntas repetitivas também? Foi mal, pessoal, vamos melhorar isso do lado de cá.
Por fim: tudo isso significa que o jogo é ruim? De forma alguma! O jogo é ótimo, divertido, traz modo online para jogar com amigos ou desconhecidos, conta com carros clássicos maravilhosos e garante bons momentos. Para quem comprou a edição especial ‘F1 2019 Legends Edition’ é possível até reviver o duelo Senna versus Prost de 1990 com seus carros da época, o que, em tese, deve animar os fãs de corridas.
O problema é que, para quem já possui uma versão anterior recente, como era meu caso, ele entrega muito pouco a mais. Especialmente porque, no meio do ano que vem, já chega a nova versão 2020. E aí a gente entra naquele espiral esquisito de um mercado que envelhece seu jogo depois de apenas alguns meses a troco de alguns carrinhos e nomes diferentes. Para mim, não serve.
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