Antigamente as versões de entrada dos carros brasileiros eram bastante básicas e econômicas em equipamentos. Entre os SUVs compactos isso ainda acontece com muita frequência. Basta ver o Volkswagen T-Cross 200 TSI que economiza até em acabamento. Mas seu irmão Nivus Comfortline não faz isso.
Pelo contrário, apesar de ser a versão mais barata (R$ 89.150 contra R$ 102.050 do Highline), ele vem bem equipado e não parece tanto assim um modelo de entrada. Então a diferença de pouco mais de R$ 10 mil para o Highline compensa?
O que interessa
Como custo-benefício é o grande mote do Nivus Comfortline, a lista de equipamentos é a parte mais importante. Ele abre mão de algumas firulas e itens interessantes do Highline, contudo não deixa faltar nada que é verdadeiramente essencial.
De série traz direção com ajuste de altura e profundidade, ar-condicionado analógico, faróis full-LED com acendimento automático, sensor e câmera de ré, vidros e retrovisores elétricos, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, além de seis airbags.
Visualmente as rodas de liga-leve de 16 polegadas impactam no visual por parecerem pequenas demais. Além de comprometerem um pouco na performance em curvas – mas isso falaremos mais tarde. Além disso, não há farol de neblina e o rack de teto é preto.
Nada que na realidade atrapalhe o belo visual do Nivus. Aliás, essa é uma de suas características mais marcantes. O desenho é harmonioso, esportivo por conta do teto inclinado e aventureiro suficiente para se diferenciar do Polo e ser chamado de SUV.
Por dentro a versão de entrada traz painel com detalhe em prata, no mesmo esquema de Virtus e Polo Highline. Isso ajuda a não parecer uma versão de entrada. Em contraste, o tecido usado nos bancos é de qualidade muito aquém do esperado. Algo que seria ruim até se visto em um Gol dos mais básicos.
Um dos ponto nos quais ele se destaca perante seus parente de plataforma é o porta-malas. O Nivus tem 415 litros de capacidade – menor apenas que o do sedã Virtus. É um espaço muito bem aproveitável e amplo, apesar do degrau alto entre a tampa e o fim do espaço de carga.
A Volks deixou pronto um espaço para um divisor de cargas como tem no up! e nas versões com sistema de som Beats do Polo. Mas, por algum motivo, esqueceu de colocar no Nivus, deixando apenas parte da estrutura para isso. Há até uma trava na parte superior para segurar a divisória, que se tornou inútil.
Pormenores de sempre
Crítica ao Polo, Virtus e ao T-Cross, o acabamento continua com toda a sua simplicidade no Nivus. Plásticos duros e pouco tecido nas portas são notáveis. Ao menos a coloração preto escuro dos plásticos do SUV cupê faz com que haja uma sensação de mais refinamento que Polo e Virtus, que adotam tom acinzentado.
Na versão avaliada, o Nivus Comfortline contava com o kit VW Play & Tech de R$ 3.680. Ele adiciona piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, volante novo e central multimídia VW Play. O valor se faz válido em especial pelo requinte extra que o volante traz.
A central multimídia VW Play traz mais recursos que a tela tradicional do SUV cupê, como loja de aplicativos e até Waze embutido. Mas ela costumeiramente trava e apresenta problemas de compatibilidade com alguns smartphones. Tem tela de excelente definição, além de ser rápida e fácil de mexer.
Ainda sobre a cabine, o Nivus tem bom espaço na traseira, mesmo com o teto inclinado. As saídas de ar para os passageiros que ali sentam ajudam a refrescar a cabine. Já na frente, a posição de dirigir baixa convida a uma condução mais esportiva como um hatch, não como um SUV como ele parece ser.
Mais hatch do que SUV
Dinamicamente o Volkswagen Nivus está mais próximo ao Polo do que ao T-Cross. Isso talvez justifique o fato de ele não ter nome começado com a letra T como todo utilitário da Volks. Ele, aliás, tem dirigibilidade mais parecida com a do finado Golf que o Polo, que por tempos a marca vendeu como mini Golf.
O Nivus é bom de curva, mantendo a carroceria estável e controlada mesmo em velocidades mais altas. Os pneus 205/60 R16 sofrem mais em uma condução mais esportiva que o conjunto com roda 17 do Highline. Cantam mais e dobram mais nas curvas.
Em compensação, deixam o Nivus um pouco mais confortável e menos suscetível a pancadas secas na típica buraqueira das ruas brasileiras. A suspensão, por outro lado, continua a ser um dos melhores pontos do SUV cupê. Ela trabalha silenciosa, absorve bem os impactos e controla bem a carroceria.
Não é dura como o típico da Volkswagen, mas é sólida e transmite sensação de ser um carro mais caro e bem cuidado. Tem calibragem mais voltada para a firmeza, evidentemente, mas ainda assim pode ser dita como confortável. O mesmo acontece com a direção, que é pesada em velocidades mais altas, e bastante leve nas manobras urbanas.
Fórmula vencedora
Nessa mesma pegada fica a transmissão automática de seis marchas. Ela entrega engates rápidos e no tempo preciso, além de praticamente imperceptíveis. A única questão é a demora incômoda para acoplar a primeira marcha quando o Nivus parte da imobilidade. Ele parece relutar e se arrastar por uns segundos antes de ganhar velocidade. Além disso, o creeping (aceleração automática ao engatar D ou R) continua desesperado.
Há, no entanto, um inexplicável porém. As aletas para troca de marcha no volante funcionam de maneira instantânea, tanto para redução quanto para aumento. Até aí tudo bem. Mas as trocas na alavanca possuem um delay notável e incômodo. Como pouca gente vai usar essa função, não é algo que tire o brilho do conjunto.
Grande parte do atrativo do Nivus frente aos seus concorrentes está no motor 1.0 TSI três cilindros turbo. Com 128 cv e 20,4 kgfm de torque, o SUV cupê tem temperamento apimentado. Acelera com vigor e com facilidade com pouca força no pedal do acelerador.
Além disso, ele é econômico. Durante nossos testes o Nivus manteve média de 13 km/l em circuito misto de cidade e estrada com etanol. Mesmo quando colocado em situações de maior velocidade e pé pesado, as médias de consumo não baixaram perigosamente.
Vale lembrar que o Nivus é vendido somente com essa combinação entre motor 1.0 TSI e câmbio automático. Não há outras variantes mais potentes ou com motor aspirado. A Volks cogitou uma versão manual (que seria incrível, preciso dizer), mas desistiu pela potencial baixa demanda.
Veredicto
O Volkswagen Nivus Comfortline é o SUV com melhor custo-benefício dentro da gama da marca alemã. Entrega uma ótima lista de itens de série, dirigibilidade que é referência e visual que não transparece ser de uma versão de entrada.
Se puder, opte pelo pacote opcional por conta do volante mais refinado e do piloto automático adaptativo. Aliás, o Nivus Comfortline é o carro mais barato do Brasil com esse item, sabia? A versão Highline é mais atraente no visual e nos itens de série, mas se pensar racionalmente, a diferença de R$ 10 mil pode pesar no bolso.
>>Comparativo: Nivus Highline e Tracker LT são tão iguais e tão diferentes
>>Avaliação: VW Nivus supre os órfãos do Golf que não gostam de SUV?
>>Avaliação: Duster é o melhor Renault feito nos últimos anos