Dentre tantos carros que desejamos ter no Brasil, nem todos chegam. Mas o problema maior é a situação na qual se encontra o Volkswagen ID.4. Ele está entre nós, mas você não pode comprar. O único jeito de ter um na garagem é por R$ 9.990 ao mês. Um gigantesco potencial desperdiçado.
Mas por que? Nem todos querem alugar um carro, preferem tê-lo por conta própria, além de não ser financeiramente interessante em diversas situações. E isso seria uma pena se fosse um carro qualquer, mas o Volkswagen ID.4 é surpreendentemente bem melhor do que teoricamente parece.
Tiguan da SmartFit?
O Volkswagen ID.4 é mais um caso de carro que não parece tão bonito na foto quanto é ao vivo. Seu porte de Tiguan que foi à academia impressiona ao vivo. São 4,58 m de comprimento, 1,85 m de largura e 1,61 m de altura. Ou seja, ele é um carro largo, longo e baixo, dando uma aparência bem musculosa, reforçada pelas rodas 21 polegadas.
Na dianteira, os faróis finos típicos da linha ID se conectam por uma barra luminosa. Mas o mais legal é que, ao se aproximar do carro, os projetores se movimentam levemente, quase como se o ID.4 estivesse acordando e olhando aos arredores à sua procura. Na traseira, as lanternas fazem um show de luzes com duas programações diferentes.
Elas são interligadas e iluminadas na parte central, o que dá um charme extra. Mesmo tendo o mesmo tom discreto Cinza Moonstone do Nivus, o Volkswagen ID.4 chamou atenção nas ruas como nenhum outro modelo da marca alemã fazia há anos. Seu estilo diferenciado e esportivo fez até eu ser perseguido por um dono de Voyage atônito para ser que carro era.
Atenção linha nacional
Por dentro, o ID.4 deveria servir de exemplo para a linha nacional da Volkswagen, que é péssima de acabamento. As portas tem revestimento macio, assim como o painel. Já os plásticos usados são de qualidade. Não é um acabamento de carro premium, bem longe disso, mas um de uma marca generalista que sabe fazer bem.
A Volks adotou uma linguagem mais minimalista na cabine do ID.4 (lembrando que a pronúncia oficial do nome é “Ai Di Four”). Temos linhas horizontalizadas por todo painel e poucos materiais diferentes, sendo que o plástico preto piano das portas e console é muito suscetível a marcas de dedos.
Volante vindo do Nivus traz comandos touch, que são horríveis de usar. Quem achou que seria uma boa ideia colocar comandos touch no volante? A manopla de câmbio também é ruim, sendo um pequeno adendo junto do já minúsculo painel de instrumentos digital. Cluster esse que lembra dos BYD Yuan e , mas com mais qualidade.
Outro ponto inexplicável da Volkswagen foi em ter economizado nos botões. Nas portas temos apenas dois comandos dos vidros elétricos. Só que, para acionar os vidros traseiros, é preciso apertar a função rear, que os dois botões, outrora para os vidros dianteiros, comandam os traseiros. Uma economia totalmente desnecessária.
Já a central multimídia brilha pela facilidade de manuseio e menus claros. Não trava como a VW Play e tem layout muito parecido com o Apple CarPlay e com o Android Auto. Os comandos do ar-condicionado são feitos por uma faixa touch abaixo da central, mas que, sem motivo, não acende à noite e te obriga a controlar tudo pela tela.
Porte grande
Por conta do tamanho de Tiguan, o Volkswagen ID.4 é muito espaçoso. Os passageiros dianteiros contam com bancos com regulagem elétrica, memória e aquecimento. A espuma é macia, mas que segura o corpo no lugar, o te permite rodar por horas e horas sem fadiga. Atrás, o espaço é generoso mesmo para pessoas de alta estatura – apesar do piso alto.
No console central, o Volkswagen ID.4 conta com dois espaços modulares, que podem ser usados como porta-objetos ou porta-copos, a depender dos acessórios usados. A parte coberta esconde as duas entradas USB e o carregador de celular por indução. Já atrás, os passageiros têm duas entradas USB e comando de temperatura para o ar-condicionado.
Porta-malas traz abertura elétrica e capacidade para 543 litros. Mas, o mais interessante, é a volta do sistema Save, que foi trazido pelo up! e abandonado por outros Volkswagen. Trata-se do piso do porta-malas que pode ser regulado em duas alturas diferentes, a qual permite criar prateleiras internas. Há também reboque retrátil, como nos Mercedes.
Pé direito
O ID.4 é o primeiro carro 100% elétrico que a Volkswagen oferece no Brasil – ainda que não o venda. Só que não é de hoje que a marca já se arrisca nesse mundo. A alemã já produziu o Golf elétrico e oferece há um tempo o ID.3 na Europa. Só que a história da VW com elétricos começou em 1970 com a conversão da Kombi em elétrica para estudos.
Como não havia referencial do que seria um Volkswagen elétrico, tinha percepções mistas com o ID.4. Especialmente porque o comportamento de um carro elétrico de uma marca é bem diferente do que um modelo a combustão passa. Só que logo nos primeiros quilômetros ficou claro que a marca sabia o que estava fazendo.
Um dos itens mais impressionantes, e que havia visto até então, é o sistema regenerativo adaptativo. Através dos radares, o ID.4 capta a distância do carro da frente e automaticamente determina o nível de regeneração as baterias assim que o motorista tira o pé do acelerador.
Em uma estrada, sem carros à frente, ele roda totalmente solto. Já em uma avenida movimentada, se o carro que roda em frente está parando, ele automaticamente ajusta a regeneração a níveis mais fortes para aproveitar ao máximo a situação e garantir alguns quilômetros extras na bateria.
Tocada de Volks
Com 204 cv e 31,6 kgfm de torque providos pelo motor elétrico traseiro, o ID.4 está longe do patamar de elétricos com performance estúpida. São 8,5 segundos para chegar aos 100 km/h, o que o coloca em uma situação de carro rápido, mas nada surpreendente para um elétrico. Só que performance não falta.
Ninguém vai se assustar em uma saída de sinal com o pé cravado, mas uma ultrapassagem rápida é algo bastante tranquilo para o ID.4, mesmo já em alta velocidade. A máxima é limitada a 160 km/h por segurança, mas ele atinge essa velocidade sem dificuldades. Mas o interessante é que ele segue com a pegada gostosa de dirigir de um Volkswagen.
A direção é mais pesadinha, entregando bastante feedback do asfalto e permitindo manobras rápidas sem esforço. Como o motor está na traseira, as rodas dianteiras podem se movimentar mais, exigindo menos trabalho do motorista. Já a suspensão, pende para o conforto como o Taos, mas sem perder a tocada boa em curvas.
Além do freio regenerativo adaptativo, ele também conta com piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego e outras babás eletrônicas. Mas a mais legal é o park assist, que aprende onde é sua vaga, a memoriza e passa a estacionar totalmente sozinho ao aprender como fazer isso.
Economia de energia
Com baterias grandes de 52 kWh, o Volkswagen ID.4 garante uma autonomia de 522 km no ciclo WLTP ou 370 km no ciclo inmetro. Como um é otimista demais e o outro mais pessimista do que deveria, na vida real o ID.4 passou de 430 km a cada carga que foi feita. E, surpreendentemente, ele é econômico na estrada.
Seu computador de bordo marcou média de 18 kWh a cada 100 km rodados na rodovia. Ou seja, como ele tem bateria de 77 kWh, significa que na estrada ele seria capaz de rodar 427 km com bateria cheia – lembrando que a estrada faz o carro elétrico gastar muito mais. O sistema regenerativo ajuda bastante nesses momentos.
Pro
Trazido ao Brasil só na versão topo Pro, o Volkswagen ID.4 é lotado de itens de série: sistema de câmeras 360°, teto panorâmico fixo com cortina, faróis full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta adaptativa, chave presencial, Android Auto e Apple CarPlay sem fio, ar-condicionado digital de três zonas e indicador de fadiga.
Há ainda sete airbags, controle de tração e estabilidade, alerta de tráfego cruzado, desembaçador invisível no para-brisa dianteiro, retrovisor interno fotocrômico, aquecimento nos bancos dianteiros e volante, porta-malas com abertura elétrica, volante com ajuste de altura e profundidade.
Veredicto
Em um mercado de SUVs elétricos por aí, ao mesmo tempo não faz sentido e faz que a Volkswagen não venda o ID.4 por aqui. Primeiro que a quantidade massiva de concorrentes poderia fazer com que o modelo perdesse seu potencial de mercado. Ao mesmo tempo que é a categoria que mais absorve esse tipo de eletrificação.
E tem a questão maior: não compensa alugar um carro como ele por R$ 10 mil mensais para que, no final, você não tenha a posse do veículo. Uma pena, pois o Volkswagen ID.4 é excelente, talvez um dos melhores SUVs elétricos que estão à venda no nosso mercado.
Você acha que a Volkswagen deveria vender o ID.4 no Brasil? Conte nos comentários.
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