Quando pensamos em carros japoneses, alguns modelos da Toyota fazem o coração saltar pela boca. Especialmente o AE86, o MR2 (sigla para Midship Runabout 2-Seater), o Celica e o Supra de quarta geração (MK IV), o carro de dez segundos de Brian O’Connor em Velozes e Furiosos.
Só que nessa lista de Dream Cars não poderia faltar um modelo que guardo naquelas prateleiras especiais da mente: o GT86. Ser jornalista automotivo tem seus privilégios, e há dez anos fui “proprietário” desse cupê 2+2 com tração traseira por uma semana.
Compacto e com linhas que evocam o 2000GT dos anos 1960, além da dianteira exibindo um toque do Lexus LFA, o Toyobaru, como é carinhosamente apelidado, também foi vendido pela como BRZ e pela descontinuada Scion sob a nomenclatura FR-S.
Embora tenha sido desenvolvido principalmente para o mercado japonês, o GT86 foi comercializado internacionalmente. Portanto, o Toyota pode até seguir a filosofia JDM (Japanese Domestic Market) de esportivos acessíveis e compactos, mas deu as caras internacionalmente.
Ligados pelo cordão umbilical
Neste carro, motorista e máquina convivem em perfeita harmonia, como se fossem uma extensão do outro. Para entrar na cabine é preciso flexionar as pernas, e a posição de dirigir é baixa, enquanto o corpo é abraçado pelos bancos esportivos com generosas abas laterais. Muito útil para não escorregar ao atacar as curvas ou fazer um drift.
A posição dos pedais, com pedaleiras em alumínio, facilita a realização do punta-tacco (manobra em que se acelera e freia ao mesmo tempo antes de entrar nas curvas), e o volante de três raios pequeno a 90º oferece uma excelente empunhadura.
Ou seja, você realmente veste o carro! Esse cupê 2+2 até permite dar uma carona nos bancos traseiros, desde que os ocupantes sejam crianças; afinal, assim como no Peugeot RCZ, os dois bancos traseiros são apenas figurativos.
Mimos? Esqueça no Toyota GT86
O Toyota GT86 é um carro sem frescuras. Nada de luzinhas, joguinhos ou karaokê no multimídia. Ele nasceu para ser dirigido à exaustão, como eu fiz há dez anos, por mais de oito horas sem parar para almoçar ou ir ao banheiro. Esse Toyota é viciante, e pensar que ele foi cogitado para o nosso mercado na época!
É um daqueles carros pelos quais não teríamos medo de assumir um calhamaço de prestações só para tê-lo à disposição. Sob o capô, o motor 2.0 16V Boxer (cilindros contrapostos) enviado pela Subaru entrega 200 cv e 20,9 kgfm. Esqueça dos números da ficha técnica, afinal, aqui o que vale é a experiência de condução!
O Toyota GT86 é brando nos baixos giros, mas muda radicalmente ao atingir entre 4.500 e 7.500 rpm. O câmbio manual de seis marchas transmite engates curtos e precisos, e o resultado desse matrimônio mecânico é um comportamento semelhante ao do Honda Civic Si K20. A potência específica desse Toyota é de 100 cv/litro.
Claro que a tração traseira melhora tudo, e ao desligar todos os controles eletrônicos, o Toyota GT86 escapa de uma maneira deliciosa, sendo colocado de volta à trajetória com facilidade. A distribuição de peso é de 53% no eixo dianteiro e 47% no traseiro.
As suspensões têm um acerto firme e as rodas de 17 polegadas exigem atenção aos buracos, mas nada disso compromete a usabilidade diária, permitindo até realizar tarefas cotidianas com facilidade. Claro, por ser baixo, ele enrosca nas valetas e nas lombadas…
É um cupê 2+2 que não veio para o Brasil, mas, se tivesse vindo, custaria algo em torno de R$ 150.000 à época. Puro, instigante e, principalmente, construído para ser guiado, uma filosofia seguida à risca, principalmente pela Subaru.
O que nos resta é admirar as modificações estéticas, como kits de carroceria alargados e grandes asas traseiras, ou as modificações mecânicas, com a instalação de motores mais potentes, como o 2JZ do Supra, ou até jogar com o Toyobaru em games de corrida. Sem a menor dúvida, deixou saudades!
Caso ele tivesse sido vendido no Brasil, você optaria pelo Toyota GT86? Deixe sua opinião nos comentários!