Carro no Brasil está caro. Isso é fato. Afinal, chegamos ao ponto em que o carro mais barato do Brasil custa R$ 72.990. Estamos falando especificamente do Fiat Mobi Like, automóvel cujo mês sim, mês não, alterna seu posto com o Renault Kwid Zen. Mas custar menos que todos significa que leva menos? Hora de descobrir.
Não se fazem pés-de-boi como antigamente
Não há muito tempo, o carro mais barato do Brasil com toda certeza tinha vidros manuais, nenhuma amenidade tecnológica e, se tivesse sorte, para-choques pintados na cor da carroceria. Mas os tempos são outros. O Mobi Like já vem com o kit dignidade como item de série (ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas).
A lista de itens de série ainda é contemplada por controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, luz diurna halógena, airbags duplos, monitoramento de pressão dos pneus, desembaçador e limpador do vidro traseiro, luz de seta no retrovisor, banco traseiro rebatível e…só.
O Mobi Like tem uma chave tão simples quanto a do Citroën C3, mas sem comandos de abertura, sendo necessário usar o miolo na porta para trancar e destrancá-lo. As maçanetas e retrovisores não tem pintura, não há rápido nem como opcional, enquanto os pequenos pneus 175/65 R14 são cobertos por calotas.
Único quatro cilindros
Para custar pouco, a Fiat usa um motor bastante antigo no Mobi. Conhecido por sua robustez e facilidade de encontrar peças, o 1.0 Fire é o único quatro cilindros no segmento de entrada disponível hoje em dia. Só que a idade do projeto se reflete em números de torque e potência abaixo de todos os rivais.
Ao todo são 74 cv e 9,7 kgfm de torque, resultando em um tempo de 0 a 100 km/h em 14 segundos. Só não é o carro mais lento do Brasil porque o peso de 961 kg ajuda na agilidade do subcompacto. Só que é engraçado até dirigir o pequeno Mobi, já que ele parece estar no limite o tempo todo.
O acelerador é bem sensível, entregando o máximo a pouco menos de meio pedal. Isso te ajuda na sensação de que ele não é tão lento assim, mas o 1.0 Fire trabalha ali o tempo todo com tudo que tem. As saídas são relativamente fortes para um carro com baixa potência, mas é na estrada que se faz sentir a falta de cavalos.
Ultrapassar tem que ser algo bem planejado com o Fiat Mobi, enquanto retomadas vão demorar mais do que ler todo esse parágrafo. Isso deixa claro que trata-se de um carro totalmente voltado ao uso urbano. Tanto que o consumo urbano é próximo do rodoviário: 9,6 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada, ambos com etanol.
Você aqui?
Usando plataforma encurtada do Uno, o Fiat Mobi segue com alguns costumes do aposentado irmão. O câmbio, por exemplo, é o mesmo manual de cinco marchas usado a séculos pela Stellantis. Tem engates borrachudos, desnecessariamente longos, além de imprecisos.
As marchas têm relação curta, fazendo com que seja preciso trocar o tempo todo em uso urbano. Até mesmo na cidade, acima de 50 km/h, ele já pede quinta marcha. A embreagem é relativamente baixa, fazendo com que seja fácil perder o ponto, mesmo para motoristas acostumados a dirigir câmbio manual.
Dinamicamente, por conta da suspensão elevada, o Fiat Mobi se inclina bastante nas curvas. Mas, como é típico de outros modelos da Fiat mais altinhos, o carro mais barato do Brasil pode até balançar bem em uma curva mais abusada, mas segura. Outro ponto é a nítida robustez dele.
Passe em buracos, ruas ruins, caia em valetas que o pequeno hatch vai aguentar sem reclamar. Ele foi concebido para ser usado sem dó. A suspensão nunca reclama de mau uso e a direção hidráulica pesada também demonstra essa dose extra de parrudez. Pode até ser um carro pequeno, mas é casca grossa – ao contrário da sensação que o Renault Kwid passa.
Uno curto
Como o Fiat Mobi foi construído a partir do encurtamento da plataforma do Uno, ele é pequeno demais por dentro. Quem senta atrás precisa torcer para que os passageiros dianteiros sejam pequenos, pois vai enfrentar aperto. Mesmo o espaço para a cabeça é escasso e um quinto passageiro é impossível.
Na frente, a falta de ajuste de altura para o banco atrapalha no quesito ergonomia, assim como o fato de o volante ser fixo (em altura e profundidade). Eu, com 1,87 m de altura, sempre ficava com as pernas raspando na parte inferior do volante. Novamente, é o carro mais barato do Brasil, mas também é pequeno, por isso espaço não é seu forte.
O mesmo vale para o porta-malas, com 200 litros de capacidade — um dos menores à venda no país. A tampa traseira de vidro só é aberta pela chave e pode gerar leves queimaduras nos dedos caso o Mobi fique exposto ao sol e o motorista encoste no vidro para abrir o porta-malas.
Veredicto
Pense no Fiat Mobi como uma ferramenta de trabalho. O carro mais barato do Brasil é robusto, econômico e entrega o que promete, sem nenhum tipo de luxo ou regalia. Se vai usar meramente como meio de transporte e quer algo confiável para você ou que seus funcionários da empresa usem, abrace ele sem medo.
Agora, se quer algo a mais do que meramente um meio de transporte mais digno de um ônibus, melhor usar os R$ 72.990 para comprar um carro seminovo ou usado. Pelo mesmo valor, é possível achar mais equipados, refinados e maiores, que te servirão melhor e terão mais itens do que o carro mais barato do Brasil.
Você teria um Fiat Mobi? Conte nos comentários.
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