Siglas e sobrenomes nos carros servem para separar modelos dentro de categorias. Muitas dessas designações se tornam universais como usar a letra E no nome de um carro para deixar claro tratar-se de um elétrico ou SW para uma perua. Mas Sport, nos últimos anos, tem sido usado de maneira quase blasfêmica pelas fabricantes de SUVs.
O primeiro registro de um SUV com sobrenome Sport aconteceu em 1991 quando a Ford lançou o Explorer Sport. Ele nada mais era do que a versão de duas portas do SUV grande que a marca havia acabado de lançar. O curioso é que a terceira geração lançada em 2003 manteve o sobrenome Sport, mas usava a frente da picape Explorer Sport Trac.
Para nós brasileiros, o primeiro contato com um SUV de sobrenome Sport aconteceu com o Mitsubishi Pajero Sport. Quando a marca japonesa decidiu expandir a linha de SUVs Pajero, lançou em 1994 o Pajero Mini em forma de kei car off-road com porte de Suzuki Jimny. Mas ele era restrito ao Japão, diferentemente do Pajero Sport lançado em 1996.
Enquanto o Pajero Full era um modelo gigantesco com sete lugares, o Pajero Sport funcionava como SUV da L200. Trazia também construção de chassi sob carroceria e toda aptidão off-road que o nome Pajero significa. Por isso o sobrenome Sport acabou se tornando somente um mínimo de que era um Pajero menor.
Efeito Land Rover
O que a Mitsubishi fez foi abrir a caixa de Pandora para que outras montadoras adotassem a mesma estratégia. Afinal, Sport era um nome bastante genérico e que, para o consumidor, evocava algo diferente do modelo original. Dizer Mini, Junior ou outro nome que denomina algo menor que o original poderia soar pejorativo. Mas Sport não, pelo contrário.
A Land Rover também ajudou a popularizar essa designação ao lançar o Range Rover Sport em 2005. Quando a marca percebeu que poderia ter um segundo modelo mais luxuoso em sua linha convivendo com o Range Rover, transformou o nome em uma família de produtos e lançou o Sport.
Assim, ele pode ter toda referência visual do Range Rover, mas sem a necessidade de carregar sete pessoas. Manter elementos visuais do modelo original era importante e ajudaria a economizar custos. Ele passou só a ser mais esportivo de fato com o passar das gerações, porque antes era só um Range Rover menor e com vidro traseiro um pouco mais deitado.
Menos é Sport
Assim, surgiram diversos outros SUVs com a mesma designação. O Chevrolet Captiva, por exemplo, tinha o sobrenome Sport na traseira no Brasil e ninguém notou. Afinal, por aqui tínhamos somente o modelo Sport, enquanto o Captiva regular tinha sete lugares e um desenho mais próximo de modelos da Opel.
Essa diferenciação entre modelos de sete e cinco lugares também aconteceu com o Hyundai Santa Fé em sua terceira geração. O modelo longo de sete lugares recebia o nome de Grand Santa Fé, enquanto o cinco lugares adotava o nome de Santa Fé Sport. No fim da vida, o Sport foi abandonado e, curiosamente, o Sport tinha motores mais fracos que o Grand.
Só que enquanto Captiva e Santa Fé compartilhavam plataforma e diversos componentes entre seus modelos regulares e os Sport, dois modelos forjados pelo mercado americano decidiram não fazer isso. Globalmente vendido como ASX (incluindo no Brasil), o SUV de entrada da Mitsubishi decidiu adotar o nome Outlander Sport nos EUA logo no lançamento.
A designação passou a ser usada no Brasil na última reestilização porque a Mitsubishi tentou manter o velho ASX e o novo em linha ao mesmo tempo. Só que não deu certo e só o modelo novo permaneceu em linha. Mas o que o Outlander Sport e o Outlander têm em comum? Nada além do logotipo da Mitsubishi e a base, mas são modelos absolutamente opostos.
O Outander lançado em 2005 tinha plataforma compartilhada com o grupo Chrysler e que foi usado por Peugeot e Citroën antes da Stellantis. O ASX usou a mesma base quando foi lançado em 2010. Mas a Mitsubishi manteve a plataforma na terceira geração do Outlander. A quarta, recentemente lançada, já tem base de Renault.
É parecido com o que ocorre com os Nissan Rogue e Rogue Sport. O Rogue é um SUV grande de sete lugares, vendido em alguns mercados como X-Trail. Já o Rogue Sport é a oferecida nos EUA com outro nome porque os americanos não conseguiram falar o nome do SUV com o sotaque de português de Portugal como exigido.
Ambos usam a mesma plataforma, mas são modelos completamente diferentes, tal qual os Jeep Renegade e Compass ou os Volkswagen T-Cross e Nivus. Mas nem a Jeep chama o Compass de Commander Sport e muito menos a Volkswagen adotou T-Cross Sport para o Nivus.
E quando não tem relação?
Se os exemplos anteriores mostravam modelos com plataforma igual, mas posicionamento de mercado totalmente diferente, há um tempo as marcas usam o sobrenome Sport em modelos absurdamente diferentes. A ideia é passar o mesmo conceito do modelo maior, ainda que não compartilhem sequer um painel de porta ou parafuso.
O exemplo mais caro disso são os irmãos Bronco e Bronco Sport. O Broncão, como é apelidado o modelo maior, é rival do Jeep Wrangler e usa construção chassi sob carroceria na mesma base da Ranger. Já o Bronco Sport é um SUV monobloco com base no Escape. Carros completamente diferentes.
E a coisa vai além dos SUVs: por duas gerações a Subaru vendeu uma versão aventureira do Impreza como Outback Sport antes de mudar para XV ou Crosstrek. Vale lembrar que Outback sempre foi o nome da perua off-road da Subaru, enquanto Outback Sport foi usado pela perua aventuereira do Impreza e depois pelo hatch.
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