Nunca me esquecerei que em 2007 a Nissan gostava mesmo de provocar todos os concorrentes. E, dentre todos os jingles automotivos, a marca japonesa é dona dos dois mais emblemáticos: ‘Pôneis Malditos’ e ‘Não tem cara de tiozão’. O primeiro foi usado pela para zuar de outras picapes, já o segundo era para o .
Na época, o Nissan Sentra deixava de ser um sedã careta e esquisitíssimo (o qual, confesso que gosto muito) para ser diretamente influenciado por minivans e pelo 350Z. Era um sopro de novidade e algo bem fora do padrão da categoria, o que ajudou muito o sedã japonês a se destacar nas ruas e vender bem mais que antes.
Só que, quando ele mudou de geração de novo, especificamente em 2014, o Nissan Sentra pegou a fila do bingo, foi na consulta com o geriatra e passou a assistir o programa do Raul Gil. Nunca o modelo da Nissan havia ficado tão preso ao estigma de carro da terceira idade. Era mais careta até que o Toyota Corolla, que sempre foi conhecido por sua caretice. Não à toa, perdeu vendas.
Só que a revolução feita com sua oitava geração, apresentada lá fora me 2019, é digna de ressuscitar a emblemática frase: não tem cara de tiozão, mas acelerou meu coração. E posso ir além. Com o Sentra, a Nissan finalmente acertará em um lugar mais do que estratégico no mercado: conquistar os donos de Civic pelo visual e os de Corolla pela dirigibilidade.
Nissan Civic
Grande parte do charme da nova geração do Nissan Sentra é seu visual esportivo. O modelo ficou 5 cm mais baixo e 5 cm mais largo que o modelo anterior, dando a ele um visual bem mais adulto. Você vê elementos de Versa e Altima nele, assim como de Civic 10, como a traseira curta e bem inclinada junto do vidro traseiro.
Há muita personalidade no estilo, com vincos fortes, linhas bem marcadas, faróis finos casando com o desenho em V da grade frontal. Além disso, a possibilidade de ter teto pintado em preto agrega muito ao estilo do carro. Vale lembrar que a pintura contrastante é um dos diferenciais da versão Exclusive com Pack Premium de R$ 174.990.
A traseira é muito parecida com a do Versa, na mesma proporção que muita gente confunde o Virtus com o Jetta ao olhar apenas a retaguarda. Mas é no interior que esse pacote premium faz a grande diferença. O sedã médio recebe couro caramelo no painel, portas e console central. É um grande diferencial perante rivais que usam bege.
A cor choca no primeiro momento, mas é elegante e chamativa o suficiente para fazer o Sentra parecer um carro premium. Junte isso ao fato de que a Nissan deu a ele um couro no volante muito superior ao usado em Versa e Kicks e entenderá onde a marca japonesa quer ir com o seu novo modelo.
Há muita superfície macia ao toque, plásticos de boa qualidade e até mesmo o cheiro do couro do Sentra faz ele parecer um produto mais refinado que o Toyota Corolla e no nível do novo Honda Civic. Destaque ainda para o conforto mais do que generoso dos bancos (algo que a Nissan é mestre em fazer) e o ótimo espaço interno. Mas ele tem mancadas.
Mudanças necessárias
É inconcebível que um carro caro como o Nissan Sentra é tenha freio de estacionamento no pé. É um sistema arcaico e horrível de ser usado, igualmente criticado no Toyota Corolla Cross. Para piorar, tanto o Sentra, quanto o Corolla Cross, possuem freio de estacionamento elétrico em outros países. Nissan e Toyota que não quiseram colocar no Brasil.
Há também a inexplicável falta de trava elétrica automática no modelo. Nem mesmo um Renault Kwid deixa de travar as portas automaticamente em determinada velocidade. A função não está disponível para ser ativada ou desativada no painel de instrumentos, como ocorre em Versa e Kicks, além da Frontier, com o qual o Sentra divide o cluster analógico.
Outra economia difícil de engolir é o fato de que os encostos de cabeça traseiros são fixos. Isso é perdoável em um Versa, um Onix Plus ou até no Virtus. Mas não em um Nissan Sentra. Alguns desses defeitos parecem ter sido resolvidos na reestilização já apresentada na China e que não deve tardar a aparecer no Sentra produzido no México e importado ao Brasil.
Na mudança, também é bem vinda a alteração do painel de instrumentos. Não que ele seja ruim, mas falta aquele charme provido pelas telas digitais maiores – até mesmo o sistema meio digital de Versa e Kicks seria mais interessante que o usado no modelo. A central multimídia também merece atualização – é apenas ok, mas melhor que de Honda e Toyota.
Contudo, falta conexão sem fio com Android Auto e Apple CarPlay, visto que o carregador de celular por indução está lá. Além disso, os gráficos são um tanto quanto datados e, vez ou outra, confusos de entender. Fora isso, a ergonomia do Sentra é ótima e os comandos físicos de ar-condicionado e volume são mais do que bem vindos.
Nissan Corolla
Se o lado Civic do Nissan Sentra está no visual, a alma de Toyota Corolla reside em sua dirigibilidade. Diferentemente do modelo da Honda, e do que o visual do Sentra sugere, ele não tem pegada esportiva na dirigibilidade. E está tudo bem nisso, afinal, nem todos querem um carro nessa pegada. E se o Corolla faz tanto sucesso, é esse o caminho a seguir.
Dinamicamente o Sentra preza pelo conforto. É um carro que absorve muito bem os impactos da rua e roda com uma maciez notável, mas muito mais sólido que o modelo da geração anterior. É o tipo de rodagem de um carro que teve a grana da montadora investida em isolamento acústico, de suspensão e em fazer uma carroceria firme.
O motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 150 cv e 20 kgfm de torque vai bem no Sentra. Ele agora só bebe gasolina, mas compensa em um consumo excelente. Durante a semana de testes com o Sentra, ele chegou a fazer 19,2 km/l na estrada e 12,3 km/l na cidade – médias bem melhores que os 11 km/l e 13,9 km/l divulgados.
Inclusive em diversas situações de rodovia, sempre andando no limite da via, ele passou de 19 km/l. Uma maneira de compensar o tanque minúsculo de 47 litros – um problema compartilhado com Versa e Kicks. Outro ponto que deixa a desejar é o porta-malas de 466 litros: menor que o do Versa e pouco maior que o do Kicks.
O Sentra tem direção bem calibrada, puxada mais para o lado do conforto. Mas o grande destaque do modelo é a transmissão CVT. Ela é muito superior à que a Honda usou no Civic que era produzido no Brasil e manda tão bem quanto a do Corolla. Faz trocas simuladas a meio pedal e mantém o motor ronronando em baixo giro quando necessário.
É verdadeiramente um carro muito gostoso de dirigir, mas em uma pegada mais confortável e serena, como do Corolla. Não é aquele sedã médio que vai te fazer querer pegar a estrada sinuosa para curtir as curvas, como Honda Civic e VW Jetta pedem. Mas será um ótimo companheiro de longas viagens em rodovias de alta velocidade.
Equilíbrio de formas
Na lista de itens de série, o Nissan Sentra se destaca pelo equilíbrio no funcionamento dos sistemas ADAS. A manutenção em faixa é feita por meio de vibrações no volante e correções usando o freio (de maneira mais sutil que a Frontier). Há frenagem autônoma de emergência, faróis de LED com facho alto automático e piloto automático adaptativo.
O sedã médio na versão Exclusive ainda traz chave presencial, vidros elétricos nas quatro portas (inexplicavelmente com função um toque só para o motorista), retrovisores elétricos, teto solar elétrico, sensor de estacionamento traseiro, câmeras 360°, indicador de fadiga, ar-condicionado digital de duas zonas e banco do motorista com ajuste elétrico.
Há ainda aquecimento para os bancos dianteiros, assistente de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus, controle de tração e estabilidade, vetorização de torque, retrovisores com rebatimento automático, retrovisor interno fotocrômico e sistema de som premium da Bose.
Veredicto
Definitivamente sem cara de tiozão, o novo Nissan Sentra é para aqueles compradores que apreciam a confiabilidade e dirigibilidade confortável do Toyota Corolla, mas amam o estilo esportivo do Honda Civic. A real, é que o Sentra está pronto para roubar o lugar do Honda como segundo sedã médio mais vendido do Brasil.
Vai vender menos que o Corolla? Sim por conta da excelente fama que o rival da Toyota tem, assim como pelo fato de não ser produzido no Brasil (ele vem do México). Mas traz tantos pontos positivos que fazem esquecer completamente a geração anterior, que era apagada e, sinceramente, extremamente sem graça.
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