Vamos cortar a choradeira e a conversa fiada sobre o futuro dos carros ser a eletricidade. Todo mundo já sabe disso e está mais do que batido. Por isso não me surpreendi quando a Mercedes-Benz anunciou que seus modelos AMG também seriam elétricos. O que me chamou atenção foi o que o EQS 53 AMG se propõe a ser e fazer.
Ele é o Classe S dos elétricos, ou seja, tem nas costas o peso de ser a referência máxima de luxo, sofisticação e, no caso, performance por culpa da sigla AMG. Por isso ele é exagerado em todos os sentidos. Começa pelo preço colossal de R$ 1.399.900 cobrados pelo modelo sem qualquer tipo de opcional.
Temos também as proporções. Entre os sedãs elétricos como Porsche Taycan, BYD Han e Audi RS e-tron GT, o Mercedes-Benz EQS é o maior. São 5,22 m de comprimento, exatos 3 cm a menos que uma Volkswagen Amarok, que é uma picape média. Largura 1,92 m registra 5 cm a mais que um , já os 1,51 m de altura são 4 cm a mais que um .
Ou seja, é um carro de proporções bem generosas e que só não te darão dor de cabeça para estacionar o grande sedã porque o eixo traseiro é esterçante e ele possui sensores para todos os lados. Aliás, o sensor de estacionamento cria, através da câmera 360°, um gráfico bem orgânico de distância para objetos em torno do EQS.
Classe S dos elétricos
Grande por fora, reflete também no espaço interno. É tão enorme que parece um apartamento de luxo na cobertura com living ampliado e sacada gourmet. Especialmente na traseira, onde mesmo um passageiro bem alto consegue cruzar as pernas e se sentir na primeira classe do avião. E há airbags de cinto para os passageiros traseiros.
O acabamento é esmerado como se esperaria de um carro de mais de um milhão e de um Mercedes com o S em seu nome. Couro para tudo quanto é canto (e couro de verdade) arrematado com Alcântara, costuras aparentes elegantes, metais e materiais acolchoados. Plásticos são raros e em sua maioria no volante e nas superfícies de comando.
Mas o que impressiona ao entrar no Mercedes é o conjunto formado por três telas e que forma uma superfície plana de 55”. A televisão de muita gente em casa não tem esse tamanho ou qualidade das telas aqui mostraras. A da esquerda é o painel de instrumentos, totalmente configurável e cheio de recursos.
Depois temos a central multimídia no meio do carro, a maior tela de todas e a com mais recursos. O mapa, por exemplo, tem função de realidade aumentada e os modos de condução podem ser configurados ali. Por fim, o passageiro conta com uma central multimídia própria que o faz servir verdadeiramente como co-piloto.
No modo arrancada, por exemplo, somente o passageiro pode acionar e as luzes de largada são mostradas para ele, assim como a telemetria dessa arrancada e os tempos para atingir determinados patamares de velocidade. Sobre o modo de arrancada, volto a falar depois, mas já dou um spoiler: é o mais divertido que usei na vida.
E vale lembrar que quem senta na frente tem à disposição bancos com aquecimento, resfriamento e massagem. Além disso, há um modo que de tempos em tempos troca a posição do banco sutilmente para te obrigar a realinhar a postura. Até mesmo o quanto as abas laterais do banco prendem o corpo podem ser reguladas.
Exageros futuros
Apesar de extremamente vistosa, a profusão de telas torna algumas operações mais complicadas e distrativas do que o necessário. Operar o ar-condicionado é possível somente na tela e parte dele fica coberto pelo volante, atrapalhando no uso rápido. Mesmo o sistema da Mercedes sendo muito fácil de usar e intuitivo, a tela deixa algumas operações mais lentas.
O problema maior está à noite. O interior do Mercedes-Benz EQS brilha mais que Las Vegas. Temos as luzes das três telas, mais fitas de LED por todo painel e portas, além das saídas de ar. Há luz em cada canto do carro – até no teto – para dar uma sensação de modernidade e luxo. Só que passou do limite e já fica com um pequeno pé no cafona.
O volante também tenta complicar as coisas ao usar alguns botões como sensíveis ao toque, como o de volume, por exemplo. Além disso, não há um singelo comando para troca de músicas, o que atrapalha no dia a dia. Os botões com telas do volante para comandos rápidos são práticos, mas você vai mudar o atalho constantemente sem querer, garanto.
Mas há uma grande questão e que prejudica bastante o Mercedes-Benz EQS: a posição de dirigir. Ela é uma das piores, se não a pior, entre os carros à venda hoje no Brasil. O painel é alto demais, assim como o volante. Porém, todo o carro é baixo e pensado para ser dirigido baixo. Ele te obriga a dirigir com o quadril perto do chão e os braços para cima.
Pessoas de baixa estatura simplesmente não conseguem dirigir o carro, enquanto motoristas mais altos se obrigarão a adotar uma posição de dirigir de SUV em um sedã baixo e esportivo. Na hora de acelerar, isso não ajuda a dar confiança. E não venha culpar o EQS por ser elétrico porque , e Audi RS e-tron GT tem posição perto do chão ao dirigir.
Foguete propulsor
O que há de mais legal em um carro elétrico é a força absurda que esses carros têm. Como o EQS 53 AMG é a ponta mais alta da Mercedes-Benz nesse mundo eletrificado, ele não poderia ser diferente. Entrega 658 cv e 96,9 kgfm de torque distribuídos por dois motores. O dianteiro vem com 238 cv e 42,3 kgfm de torque, enquanto o traseiro empata em torque mas conta com 455 cv.
Isso resulta em um mamute com tamanho de Amarok e 45 kg mais pesado que uma RAM 1500 Rebel com seus voluptuosos 2.655 kg disparando aos 100 km/h em 3,8 segundos. O o deixa para trás, enquanto o quase empata. Mas como o EQS faz essa façanha é que deixa tudo bem mais legal.
Ao ativar o modo Sport+, basta pisar no acelerador e freio ao mesmo tempo. Assim, ele ativa o modo de largada em que o show acontece. O EQS treme, como se fosse um gato prestes a atacar um inseto na janela. Ao mesmo tempo em que um som de turbina cresce na cabine e o painel pista. Tire o pé do freio e o soco no estômago é forte, capaz de fazer o almoço voltar.
Ele ganha velocidade muito rápido e faz isso te instigando com um ronco artificial. É uma mistura de barulho de V8, com som metalizado de um elétrico tocado por uma orquestra de computadores regida por um extraterreste. Sim, sei que é artificial, mas é um dos sons mais legais que os carros possuem hoje. Divertidíssimo.
Anjo AMG
Se fosse um muscle-car, esperaríamos do EQS 53 AMG somente boa performance em retas. Mas o sedã é alemão, e se essa terra sabe fazer algo bom além de salsichão, é um carro que faz curvas bem. Com o eixo traseiro esterçante, rodas grandes de 21 polegadas e suspensão a ar bem firme, o grandalhão engole curvas como se fosse um Classe A.
Vira rápido, tem pouca torção de carroceria e se mantém extremamente firme. A vantagem da suspensão a ar é que ele se torna um carro quase confortável nas ruas esburacadas, até porque ele tem acerto firme o tempo todo. Além disso, é baixo demais, ou seja, raspar em lombadas ou entradas de prédio se tornará uma rotina – mais que com o .
Já a direção é perfeita: direta, rápida e pesadinha como pede um esportivo. Se estivéssemos falando de um esportivo sem as siglas AMG, o texto acabaria por aqui com um carro muito elogiado. Mas essas três letras sempre significaram algo a mais, especialmente nos modelos mais potentes e caros – ou mais viscerais como o último C63 AMG.
Um Mercedes-Benz AMG de verdade passa a sensação de que quer te matar se andar no Sport+. Nos outros modos, eles são civilizados, mas no mais bravo, uma curva mal feita e uma acelerada mais forte do que deveria faz o carro se transformar em pião da casa própria. Até pilotos experientes têm um pouco de medo de colocar os AMG em Sport+ nas ruas.
Mas o EQS 53 AMG não. Mesmo em Sport+ ele te dá confiança e é extremamente comportado e previsível demais. Deslizadas de traseira? Esquece. Pneus fritando como se não houvesse amanhã? Não temos também. Nem a chicoteada da traseira após uma curva forte? Também não. A essência dos AMG ficou só no ronco artificial do motor e na grade Panamericana.
Veredicto
Não há dúvidas de que o Mercedes-Benz EQS 53 AMG é o Classe S dos elétricos. Tem luxo em níveis tão altos que até Narcisa Tamborindeguy ficaria impressionada e performance digna de honrar a sigla AMG. A quantidade de tecnologia embarcada é tão absurda quanto seu preço. Ou seja, é o pacote completo.
Mas, se você espera a vivência de um AMG no EQS, esqueça. Ele é um Mercedes muito rápido e refinado, mas sem o espírito violento tão delicioso que a grife esportiva da marca sempre entregou. Se você é mais tradicionalista, o Porsche Taycan Turbo S entrega exatamente toda experiência que você espera de um herdeiro do 911 sem dever sequer um parafuso.
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