O Honda ZR-V está entre nós e tem como missão encarar Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e Volkswagen Taos. Os três principais SUVs médios do mercado são os maiores concorrentes do SUV do Civic, de acordo com a própria Honda, mas por terem produção nacional ou na Argentina, a trinca rival consegue um volume de fabricação muito maior que o modelo da Honda, importado do México.
Isso já mostra o tamanho do desafio do modelo no mercado brasileiro, mas há outros percalços no caminho. O preço de R$ 214.500 segue a política atual da marca japonesa, de posicionar seus produtos em faixas mais altas dos seus respectivos segmentos. E isso lembra o que uma certa marca de eletrônicos faz, já que a Apple se vê como uma marca premium e, por isso, o iPhone sempre custa mais que a concorrência, mesmo tendo menos recursos, algumas vezes.
Por isso que para mim, o Honda ZR-V é o iPhone dos SUVs médios. Assim como o smartphone da Apple, ele é sim um bom produto, com bons equipamentos e características bem interessantes. Mas cobra um valor mais alto por isso, com o H da Honda servindo como uma espécie de símbolo de status, assim como acontece com a maçã eletrônica.
Não é turbo, mas entrega
Outro paralelo que dá para fazer entre o ZR-V e o iPhone é que a Apple constantemente é criticada por não ter o processador mais potente, e nem uma grande memória RAM em seus dispositivos. Mesmo assim, seu conjunto casa muito bem com o software, gerando um desempenho dentro da média.
No caso do SUV da Honda, o motor 2.0 aspirado e somente a gasolina vai torcer o nariz de muita gente. Ele gera 161 cv e 19,1 kgfm de torque, sendo acoplado ao câmbio CVT. Porém, carro não é feito somente de números. E mesmo sem ter a maior potência da categoria, o ZR-V surpreende ao volante.
A Honda fez uma calibração boa do CVT com o motor. O resultado prático é que há uma boa quantidade de torque disponível em todas as faixas de rotação. Basta pisar um pouco mais forte no acelerador para que o carro vença subidas ou ganhe fôlego em ultrapassagens.
Me surpreendeu bastante a disposição do modelo, que pode não ser igual a de um SUV turbo, mas ao menos dá conta do recado. E isso sem abrir mão do consumo, que é de 10,6 km/l na cidade e de 12,1 km/l na estrada, segundo os dados do Inmetro. No teste, a média foi até melhor, com o SUV fazendo mais de 14 km/l na estrada no modo ECO, e ficando na casa dos 13 km/l com este recurso desativado.
Dirigibilidade do Honda ZR-V
Por não ser turbo e nem eletrificado, a Honda se apoia no quesito dirigibilidade para ter um diferencial com seu modelo. E há uma justificativa para isso: boa parte da plataforma do modelo é derivada da base do Civic atual. Dessa forma, a ideia da Honda é vender seu carro como um SUV com dirigibilidade de sedã.
Isso sempre é complicado, porque são categorias completamente diferentes. Mas, no caso do ZR-V, até que cola. Apesar da posição de dirigir mais alta, a dinâmica do utilitário esportivo é bem acertada. A visibilidade é boa também, mas é ao volante que o modelo mostra seu principal ponto positivo.
A direção tem o peso certo, enquanto a suspensão consegue filtrar bem as irregularidades, mas não castiga o motorista. Outro aspecto que merece ser destacado é o silêncio a bordo. Pouco se ouve do motor em ritmo de cruzeiro, e o ruído em acelerações mais fortes também é baixo, sem parecer uma enceradeira, como carros com CVT costumam ser.
Pode não parecer, mas as rodas do SUV são grandes, aro 17. Felizmente, a Honda optou por colocar pneus mais altos no carro, o que deixa o modelo mais macio, sendo condizente com um SUV familiar.
Espaço bom, porta-malas nem tanto
Com 4,56 m de comprimento e entre-eixos de 2,65 m, o espaço interno do SUV é bastante bom. Mesmo tendo quase 1,90 m de altura, consegui me ajeitar bem no banco traseiro. Positivo também é o fato do assoalho ser praticamente plano, o que sempre facilita a vida de quem viaja no assento traseiro do meio.
Só faltou uma saída de ar para quem viaja atrás. Este é um pecado considerável do ZR-V, já que modelos menores e mais baratos já contam com o recurso. Na América do Norte, com regiões mais frias que no Brasil, pode ser que o item não faça tanta diferença, mas em um país tropical a sua ausência faz falta.
O porta-malas é só ok. São 389 litros de capacidade, número melhor que o do HR-V atual, mas menor que o do Corolla Cross e do VW Taos. Por ser um SUV médio, a capacidade poderia ser maior, pois quem busca o segmento pretende viajar com a família e todos os cacarecos possíveis.
Equipamentos do Honda ZR-V
A lista de equipamentos é bastante ampla e há até teto solar no modelo, equipamento que muitas vezes é deixado de lado no segmento. O pacote Honda Sensing se faz presente, e assim como é tradição da marca, o ACC e o sistema de permanência em faixa funcionam muito bem. Neste aspecto, a Honda é uma das referências do mercado.
E há botões para controle do ar-condicionado e da central multimídia, pontos que sempre merecem ser exaltados, já que os comandos físicos estão ameaçados de extinção. No entanto, a central multimídia de 9 polegadas é apenas razoável. Sua definição não é das melhores, e ainda não há espelhamento sem fio para Android Auto. Apenas os donos de iPhone podem espelhar seus dispositivos sem a necessidade de cabos.
O acabamento também merece destaque, sendo refinado e com o uso de peças macias ao toque em boa parte da cabine. Sem contar que o desenho interno é bastante bonito, seguindo o padrão atual da marca japonesa.
Veredicto
Considerar o Honda ZR-V como o iPhone dos SUVs médios não é tão absurdo como parece. Ele pode até não ser a referência em todos os aspectos, mas entrega um bom conjunto, tem um motor que agrada e uma dirigibilidade acima da média. O problema é que o modelo cobra bem pelo pacote.
Por R$ 214.500, é possível levar o Jeep Compass Limited para casa, e as versões topo de linha do Toyota Corolla Cross (com motor híbrido) e do VW Taos. Caso o ZR-V custasse menos de R$ 200 mil, a Honda teria um candidato fortíssimo no segmento. Mas como ele é tabelado por valores acima da concorrência, que está na casa dos R$ 210 mil, é difícil justificar sua compra. Trata-se de um bom SUV, mas a grama da vizinhança parece mais atraente.
Qual SUV médio você levaria para casa? Deixe nos comentários a sua opinião.
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