Quando avaliei a nova geração do Honda HR-V, inclusive com direito a um comparativo com o modelo antigo, ficou claro que o modelo havia trocado de personalidade. Deixou de ser um Honda SUV para ser um SUV da Honda. Ou seja, a alma de SUV vinha primeiro em detrimento das raízes da marca. Mas nada que um turbo e um acerto diferente não resolvessem.
Dessa vez o contato foi mais rápido e em uma paisagem mais interessante que Campinas, no interior de São Paulo, onde faço os testes todos os carros avaliados. A levou um grupo de jornalistas para andar no HR-V turbo em Florianópolis para mostrar que o carro tem uma alma bem diferente de seu irmão aspirado. E de fato tem. Aliás, esse sim é o HR-V como sempre foi.
Força de um turbo
O motor 1.5 quarto cilindros está presente em todas as versões do Honda HR-V, mas com turbo somente na Advance e na Touring. Aqui são 177 cv e 24,5 kgfm de torque, enquanto sem a ajuda da turbocompressor, são 126 cv e 15,8 kgfm. A diferença ao volante é brutal, especialmente na estrada, onde o Honda aspirado sofre bastante.
O tempo de 0 a 100 km/h baixou de 11,8 segundos para 8,9 segundos, mas parece menos ainda. O HR-V turbo acelera forte, com retomadas espertas e uma vivacidade que lembra bastante o antigo modelo 1.8 aspirado. Ele é ágil ao mesmo tempo em que consegue ser comportado quando precisa.
Boa parte disso se deve à transmissão automática do tipo CVT que privilegia rotações baixas para aproveitar o torque cedo que o 1.5 turbo tem. Nas saídas de sinal, ela não patina como a do modelo aspirado, já que tem torque para mover o HR-V. Assim, trabalha tentando baixar o consumo o máximo que pode.
Só há uma grande questão com a transmissão: as simulações de marcha só funcionam com o pé afundado com tudo no acelerador para ativar o kickdown. Muitos outros CVT, já simulam marchas acima de meio pedal, evitando o efeito enceradeira. No HR-V não, só com o pé em baixo. Fora isso, ele fica gritando (muito) na mesma proporção em que anda.
Acerto de antes
Um dos pontos nos quais o HR-V involuiu em relação ao modelo anterior estava no conjunto de direção e suspensão. Nos modelos aspirados ele ficou mais mole, confortável e menos direto. Para o típico comprador de SUV, esse comportamento é positivo, mas para o antigo dono do Honda, não. Afinal, ele espera pelo tempero esportivo típico da marca.
Para felicidade geral da nação Hondeira, o HR-V turbo se mantém às raízes. Ele tem acerto de suspensão mais durinho e firme, além de direção mais pesada e direta. É como o modelo anterior, em que privilegiava o comportamento dinâmico quase de hatch em detrimento da parrudez de um SUV.
A vantagem é que a nova geração é bem mais sólida estruturalmente, ou seja, ele ficou ainda melhor na tocada forte. Para a versão Touring mais cara, a Honda adicionou novos materiais isolantes que deram resultado nítido. Ele ficou mais silencioso e com melhor isolamento dos ruídos externos. Ainda tem alguns pontos de barulho de vento, mas nada grave.
Peso no bolso
Se dinamicamente o Honda HR-V com motor turbo melhorou bastante em relação ao seu irmão aspirado, há o que justifique o preço R$ 30 mil mais alto? A marca japonesa tenta justificar dizendo que o modelo concorre com as versões mais baratas dos SUVs médios, mas o HR-V não tem acabamento para isso.
Ainda que seja mais sofisticado que o Volkswagen Taos, fica abaixo de um Toyota Corolla Cross e há um abismo entre ele e o Jeep Compass. Não que seja um acabamento ruim, longe disso, mas não é nem o melhor entre os SUVs compactos para poder peitar os modelos de categoria superior. Ainda por cima, piorou em relação ao modelo antigo.
Não há superfícies macias ao toque no painel como antes, enquanto uma pequena faixa no console tenta lembrar o que o modelo antigo fazia. Os plásticos, contudo, são de qualidade e bem montados. O que chamou atenção na versão Touring é o couro do volante com qualidade infinitamente superior ao da versão EXL.
No Touring de R$ 184.500, o couro é liso, levemente aveludado e com costuras bem feitas. Já no EXL de R$ 149.900, a Honda usou couro áspero de toque incômodo, além de ser arrematado com costuras grosseiras. Junte isso ao fato de que o painel, portas e bancos contam com couro bege, o aspecto interno se torna mais sofisticado.
Para as versões turbinadas do HR-V, a Honda ainda trouxe painel de instrumentos parcialmente digital, ar-condicionado de duas zonas e carregador de celular por indução. Foram dois itens que ajudaram bastante na sofisticação interna. Some isso ao banco do motorista com regulagens elétricas na versão Touring e entenderá o que a marca quer.
O maior destaque, no entanto, vai para o porta-malas com abertura elétrica. O Honda HR-V Touring é o único SUV compacto de marca generalista a adotar esse sistema, presente só em modelos maiores ou de marcas premium. Mas o mais interessante é o sistema que fecha automaticamente ao se afastar da tampa traseira com a chave no bolso. Genial.
Veredicto
O Honda HR-V Touring é o SUV compacto mais caro à venda no Brasil feito por uma marca que não é do segmento de luxo. Isso é um fato inegável. A Honda tenta justificar esse preço alto com uma lista de itens de série verdadeiramente generosa e bem acima da média na categoria, mesmo considerando versões de topo.
Brigar no segmento de SUVs médios com um modelo compacto é muito perigoso, pois o brasileiro se importa demais com porte e status. Ter um carro que começa em R$ 180 mil e está em uma categoria superior, mesmo menos equipado, é muito mais negócio para muitos do que um modelo menor que, todo recheado, chega ao valor da categoria de cima.
Contudo, se você era dono do Honda HR-V antigo e ficou um tanto quanto decepcionado ou sentiu que o modelo novo involuiu em relação ao antigo, saiba que a versão turbo resolve tudo isso. Mantém toda a dinâmica aprimorada do SUV compacto, com a adição de mais potência e, finalmente, opção flex.
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