Trocas de geração costumam carregar boas características do modelo antigo, adicionar novas tecnologias e correção de defeitos. Às vezes as mudanças são tão gigantescas que a única coisa que sobra em comum entre um modelo e o outro é o logotipo da marca. E foi justamente isso que aconteceu com o Honda HR-V.
Com um hiato de quase um ano entre a morte da primeira geração feita no Brasil e o novo modelo, o SUV compacto teve bastante tempo para acertar seu jogo. Algumas evoluções aconteceram na mesma tocada que algumas involuções ficaram nítidas. Para deixar isso ainda mais claro, comparamos o HR-V 2023 com um modelo 2021 para tirar a prova.
5 por 8
Vamos primeiro tirar o elefante da sala: o ponto mais polêmico da mudança de geração do Honda HR-V está no motor. Saiu de cena o 1.8 quatro cilindros aspirado herdado do Civic, entrou o 1.5 quatro cilindros aspirado do City. Eram 140 cv e 17,3 kgfm de torque no antigo, que se tornaram 126 cv e 15,8 kgfm no modelo novo.
Pensar em 14 cv e 1,5 kgfm de torque de diferença chega a ser ridículo. Especialmente porque o 1.8 era usado por duas gerações atrás do Civic, enquanto esse novo 1.5 tem injeção direta e é bem mais moderno. Na cidade não há diferença de rendimento, fazendo com que os dois HR-V andem praticamente iguais.
Só que na estrada a discrepância é brutal. O antigo anda bem mais, acelera sem muito sofrimento e evita mais que a transmissão CVT faça gritaria. Já o novo não gosta de acelerações fortes, exige planejamento nas ultrapassagens e pede a todo tempo que a transmissão segure a rotação lá em cima e o faça gritar para ter fôlego.
O troco acaba surgindo em consumo: o novo HR-V marca com etanol 8,8 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada. Já o antigo não passa de 7,7 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada. Já com gasolina os números ficam em 12,7 km/l e 13,9 km/l no 2023 e 11 km/l e 12,3 km/l no 2021. Ambos, vale ressaltar, são carros bem econômicos para suas categorias – mas o novo é mais.
Enceradeiras HR-V
Em comum aos Honda HR-V está o comportamento letárgico da transmissão. Ela gosta de deixar o motor berrar desnecessariamente e segura a rotação em regime ideal para fazer o SUV deslanchar. Só que isso provoca a sensação de estar pilotando uma enceradeira. Como o antigo tem mais fôlego, faz isso com menos constância, mas o câmbio do novo é mais esperto.
Ambos simulam marchas, igualmente fingindo ter sete, mas fazendo uso somente de duas ou (com muita sorte) três trocas em uma arrancada até os 100 km/h. No novo HR-V há menos escorregamento da transmissão em arrancadas, enquanto o antigo eleva a rotação lá em cima, baixa e depois sai do lugar.
Hatch e SUV
Há um outro ponto em que a dirigibilidade dos HR-V é completamente oposta: suspensão e chassi. O antigo tem suspensão bem mais firminha, típica de um Honda. Ele contorna as curvas melhor e é um carro bem mais assentado. Já o novo preza pelo conforto que os donos dos SUVs gostam. Absorve melhor os impactos, mas não no nível Jeep Renegade, vale ressaltar.
Ele aderna mais nas curvas e rola um pouco mais, enquanto o antigo nem parece um SUV. A direção, por outro lado, é muito próxima. Em ambos é rápida e direta, como todo Honda. No novo ficou mais leve e um teco mais lenta, mas ainda assim mais pesadinha que a média da categoria – o que é um ponto positivo para uma direção mais segura.
Algo que sempre me incomodou no Honda HR-V era a estrutura mole. Ao passar em um buraco, sua traseira chacoalhava. Era nítido não ser um carro estruturalmente firme. Na nova geração, ele se solidificou, chegando a níveis que lembram muito o Civic. O rodar ficou mais silencioso e refinado, como de carros premium.
O que vê, o que sente
Entre as estratégias da Honda para dar um ar mais SUV ao HR-V está a posição de dirigir alta. Excessivamente alta, aliás. Ele tem todo o desenho da cabine e para-brisa voltados a um estilo esportivo, que o deixaria mais confortável se dirigisse baixo. Só que o banco foi posicionado mais alto para dar a posição de comando que todo dono de SUV gosta.
Mas Honda, não era melhor ter ampliado o range do ajuste do banco ao invés de obrigar todos a dirigir lá nas alturas? Minha cabeça não ficava longe do teto mesmo na regulagem mais baixa. Isso contrasta com a geração anterior do SUV, onde era possível sentar baixo verdadeiramente, quase como um hatch.
Ele tem para-brisa mais inclinado e amplo, o que permite uma visão melhor e mais arejada, que até combinaria com uma posição de dirigir mais alta, mas ele não te obriga a isso. No novo modelo, a marca japonesa optou por linhas horizontalizadas e modernas, que deram um ar bem mais sofisticado a ele.
Mas até tocar nas superfícies. O acabamento piorou nitidamente. Tudo que era macio, agora é recheado por plásticos duros. Até mesmo a faixa de couro do painel não é mais acolchoada. Já o console central super elevado de antes não existe mais, mas por lá é possível encontrar couro macio. Material emborrachado só na parte superior das portas.
O contraste a isso é que os plásticos usados são de mais qualidade do que os de antes,. Só que a principal melhora está no couro do volante – que no modelo anterior parecia vindo da 25 de março. O novo SUV compacto da Honda perdeu em espaço, especialmente na traseira onde o assento do meio se tornou inutilizável de tão alto e estreito que é.
Mas nada pesou mais a perda de porta-malas. Ele foi de 437 litros par 354 litros, além de ter a tampa reduzida, o que prejudicou a entrada facilitada de objetos. Ao menos o super prático sistema magic-seat segue lá e tão prático quanto antes.
Serviço da tecnologia
Se antes o Honda HR-V era referência em central multimídia péssima, agora ele é referência em sistema ruim. Melhorou? Sim, mas segue muito abaixo da média da categoria. Algo inexplicável acontece com as montadoras japonesas no Brasil que não conseguem acertar uma central multimídia nos carros produzidos no nosso país.
No antigo a tela era pequena, com definição de celular tijolo da Nokia e mais lenta que fila de banco no dia do pagamento. A nova ganhou definição de tv de tubo, mas a velocidade agora é compatível com um celular moderno, mas daqueles baratinhos. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio para se dizer moderna. Em ambos, o menu é confuso e ruim.
Outra mudança para a nova geração está no painel de instrumentos. Ele segue analógico, mas agora tem um computador de bordo mais completo com tela cheia de funções – o antigo tinha duas ou três somente. O que a Honda segue esquecendo é do velocímetro digital como uma função para o computador de bordo.
Felizmente o ar-condicionado agora tem comandos físicos. Saiu de cena a placa acrílica com comandos chatos de usarem, entrou a mesma peça de Accord e City, a qual conta com botões rotativos e um visor digital para informações rápidas. É simples, elegante e muito prático de usar.
Mas o que verdadeiramente mudou no quesito tecnologia se chama Honda Sensing. A nova geração tem se série em toda as versões piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, farol alto automático e sistema de manutenção em faixa. Itens que o HR-V antigo nunca passou perto de ter.
A câmera no retrovisor direito era item do modelo antigo só na Touring e agora está em toda a gama. Farol de LED também era item só lá no topo e agora está para todos.
Arcos e retas
A exceção da maçaneta traseira camuflada, é impossível achar uma linha sequer do antigo HR-V no novo. Antes ele era desenhado com dobras muito fortes, marcados e teto em formato arqueado, o qual influenciava também o desenho das portas e dos vincos laterais. O novo foi feito com uma régua, cheio de linhas horizontais.
A impressão final é que a nova geração tem estilo mais esportivo e é bem maior, ainda que as medidas sejam praticamente idênticas. Ele também passa a sensação de ser um carro mais moderno e caro. Só que não há muito de Honda nele. Facilmente se passaria por um CAOA Chery, um Nissan ou até por um Volkswagen dependendo de como colocado o logotipo.
O antigo não, era puro suco de Honda. Linhas voltadas para cima faziam o antigo ser sorridente de traseira e de frente, enquanto o novo segue pelo olhar agressivo. Lanternas conectadas seguem a moda, mas o para-choque rende à tampa do porta-malas deve fazer o HR-V herdar a maldição do Fit.
Veredicto
Ficou nítido que a nova geração do HR-V nasceu para agradar aos donos de SUVs que querem posição de dirigir alta, conforto de rodagem, bom espaço interno e, se possível, economia de combustível. Já o antigo HR-V mirava nos bons preceitos de um Honda: dirigibilidade esportiva e apurada, e vinha de brinde soluções criativas no interior.
Em suma, o antigo HR-V era um Honda SUV, carregando toda essência da marca e seu DNA. Já o novo é um SUV da Honda, ou seja, traz as necessidades de uma categoria aplicadas à um carro da marca japonesa. Um ótimo carro e no ponto certo da categoria. Mas que se tornou tão mais do mesmo, que qualquer logotipo no lugar do H encaixaria perfeitamente – algo que o antigo não aceitaria.
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