Versões de entrada geralmente jogam um jogo perigoso. Em muitos casos são criadas apenas para baixar o preço inicial de um carro e, para isso, se tornam tão capadas de itens de série que sua compra é injustificável. Mas não é isso que acontece com o Honda Civic LX.
Criado para substituir o Sport manual quando a Honda deu um tapa no visual do Civic, a versão LX CVT de R$ 109.300 é mais barata que as confirmações de entrada de Toyota Corolla, Chevrolet Cruze e Volkswagen Jetta. Mas é suficiente para valer à pena a economia?
Básico bem servido
A lista de itens de série do Honda Civic LX aumentou desde a mudança da linha 2021 e chegou ao ponto em que nada verdadeiramente faz falta. Ele tem ar-condicionado digital, retrovisores elétricos, câmera de ré, faróis com ascendimento automático, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay e vidros elétricos com função um toque para todos.
Entre os itens de segurança, destaque para os seis airbags, controle de tração e estabilidade. Para baixar os custos ele tem bancos revestidos em tecido, chave canivete não é presencial e não há sensor de estacionamento, mas são itens que no dia-a-dia não fazem tanta falta assim frente ao bom conjunto do Civic. Da para perdoar.
Mesmo no visual ele não parece uma versão básica. Tem as mesmas rodas de liga-leve de 17 polegadas com acabamento cinza das demais versões. Os cromados não foram removidos e os faróis, apesar de não serem full-LED, têm projetor e luz diurna de LED. Se não fosse pela ausência das luzes de neblina, seria difícil distinguir ele da versão EX.
Esmero constante
Um dos pontos em que a grande maioria das marcas economizam nas versões de entrada é no interior. Mas não foi isso que aconteceu com o Civic LX. Apesar do tecido sem grandes firulas nos bancos, o volante e manopla de câmbio ainda são revestidos em couro, assim como boa parte das portas e o console central.
O acabamento primoroso continua lá. Toda parte superior do painel e das portas recebe revestimento macio. Os encaixes são bem feitos e os plásticos usados tem boa qualidade – exceto no centro do volante e nos botões que parecem mais simples que os usados no Fit.
Nessa versão LX, o painel de instrumentos é mais simples. Há um computador de bordo com poucas funções e tela de definição apenas ok, assim como o velocímetro digital. É um conjunto de fácil leitura e visual interessante, mesmo frente aos rivais com suas telas digitais enormes.
Por falar em tela, a central multimídia continua a ser um pecado entre os Honda. É a mesma do Honda WR-V e tem funcionamento lento, tela com definição ruim, menus complicados e falta brilho em dias de luz forte. Além disso, produz um irritante barulho a cada tela pressionada o que, felizmente, pode ser desativado.
Soluções de espaço
Um dos destaques positivos da cabine do Honda Civic é o console central. Ele conta com um verdadeiro alçapão capaz de guardar uma garrafa d’agua grande. Modulável, traz dois porta-copos, sendo um removível, além de uma tampa deslizante que faz as vezes de porta-objetos.
Na dianteira o motorista e o passageiro se sentam baixos, como em um carro mais esportivo. Isso faz com que as pernas fiquem mais esticadas, algo que poderia comprometer o espaço traseiro. Mas não: o Civic leva dois adultos com folga na traseira, ainda que o teto com pegada cupê comprometa levemente o espaço para as cabeças. Um quinto passageiro sofreria ali.
Com 525 litros de capacidade, o porta-malas é grande e fundo, acomodando cargas com facilidade. Traz ainda duas práticas alavancas que permitem deitar os bancos traseiros e aumentar o espaço de carga com apenas um puxão.
Competência conhecida
Apesar de a Honda estar preparando uma nova geração do Civic para breve – e que pode nem ser produzida no Brasil – é preciso olhar para o modelo atual com carinho. Porque mesmo seis anos depois de seu lançamento global, ele continua como um dos melhores sedãs médios para dirigir.
O Civic é um carro que verdadeiramente se conecta com o motorista. Boa parte disso está na posição baixa de dirigir, próxima ao solo e com comandos à mão. Mas também pela facilidade com que o Civic entrega diversão.
O motor aspirado 2.0 quatro cilindros de 150 cv e 19,3 kgfm de torque pode até ficar abaixo dos números de alguns rivais turbinados ou até que o Corolla com seu 2.0 aspirado de 177 cv e 21,4 kgfm de torque, mas é mais do que suficiente para o Honda.
Ele ganha velocidade fácil e não mostra falta de fôlego em nenhum momento. O acelerador não é sensível demais como em outros Honda, o que permite a uma condução mais econômica e sem grandes variações de velocidade – em nossos testes na estrada ele chegou a marcar 18 km/l. Na cidade costuma ficar na casa dos 12 km/l.
Um dos trunfos dessa economia e linearidade está na transmissão CVT. Ela é bem calibrada e não sobe de rotação excessivamente e atoa como acontece com os Honda com motores menores como Fit, City e WR-V. Na estrada ele é capaz de ficar pouco acima de 1.500 giros a 100 km/h.
Entretanto, na hora de acelerar fundo ou fazer uma retomada forte é que o câmbio CVT irrita. Por não ter simulação de marchas, ele mantém a rotação lá no pico do torque e o Civic grita sem parar. A sensação de estar pilotando uma enceradeira é nítida. Destaque para os modos Sport e Low que deixam a rotação mais alta para aproveitar o freio motor ou o torque.
Terreno dele
Sedãs médios em geral são reconhecidos por serem carros bons de curva, mas o Honda Civic está um patamar acima. Ele as engole como se fosse uma versão esportiva sem que os pneus reclamem de perda de aderência.
A direção é firme na medida e tem atuação bem rápida, precisando de poucas voltas de batente a batente. Com assistência elétrica, ela tem o peso ideal tanto na hora das manobras, quanto para uma condução mais esportiva.
Já a suspensão pende para o lado mais firme, ainda que não comprometa o conforto. Por ser um carro baixo, o Civic pode até reclamar um pouco dos buracos, mas compensa por pouca rolagem de carroceria em curvas fortes e pela exemplar estabilidade na estrada em altas velocidades.
Veredicto
Raro caso de versão de entrada que tem lista de equipamentos interessante e preço abaixo da média, o Honda Civic LX entrega um conjunto mais que competente. É um ótimo carro para dirigir, talvez a grande referência do segmento. Tem motor aspirado, não tão moderno quanto seus rivais, mas econômico e bastante eficiente.
Abre-se mão de alguns mimos, mas que não fazem tanta falta assim frente à vantagem de pagar menos de R$ 110 mil por um sedã médio com atributos verdadeiramente elogiáveis. Em questão de custo-benefício a versão LX é campeã. Já em custo-diversão, o Civic é difícil de ser superado nessa categoria.
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