Confesso que sou o tipo de pessoa que gosta de carros de menor porte (mesmo que tendo grande porte: 1,87 m de altura). Por isso, carros como o Land Rover Range Rover Evoque sempre me encantaram. Afinal, você tem em uma embalagem relativamente pequena o mesmo luxo de modelos grandes. Só que a JLR perdeu a mão no SUV nessa geração.
Apesar de ser um carro verdadeiramente bom, como você verá ao longo dessa avaliação, o preço muito mais alto do que os concorrentes e o consumo desproporcional fazem dele uma compra totalmente passional. Até mesmo dentro de casa a concorrência é difícil, pois pelos mesmos R$ 459.950 você leva o Discovery Sport diesel semi-híbrido com 7 lugares.
É aí a questão principal do Evoque: o preço alto. Considerando a concorrência, temos Audi Q3 na versão topo de linha Performance Black por R$ 351.990, Mercedes-Benz GLA no modelo não AMG por R$ 369.900 e BMW X1 M Sport saindo por R$ 350.950. Até o Volvo XC40 elétrico topo de linha custa menos: R$ 399.950.
Ou seja, a Land Rover colocou um SUV compacto (para o segmento de luxo) no mesmo preço dos modelos médios. O valor pedido por um Evoque HSE R-Dyanamic, que é o modelo testado, é exatamente o mesmo também de um Volvo XC60 T8 Recharge Ultimate Dark. Ou seja, preço não é seu aliado.
Range Rover sim!
Só que boa parte desse preço extra que a Land Rover colocou sobre o Evoque tem culpa no nome Range Rover. Isso porque somente os modelos mais luxuosos da marca de SUVs britânicos é capaz de levar esse sobrenome. Claro que ele não é como o , que tem até para-sol revestido em couro, mas não nega a família.
O nível de acabamento desse SUV de entrada é muito superior aos seus rivais diretos. O modelo da frota de imprensa da Land Rover ainda foi agraciado com uma combinação de couro bordô com preto no interior de verdadeiro bom gosto. Há uma faixa larga de couro macio no painel, acompanhada pelo mesmo material nas portas.
Até mesmo o miolo do volante é feito em couro macio, enquanto os plásticos da parte inferior da porta são emborrachados. Há uma superfície macia preta nas portas e no painel que destoa um pouco do conjunto. Não é ruim, mas merecia que fosse couro. Temos ainda um console central bem alto que couro, plásticos pretos brilhantes e imitação de metal.
Diferentemente do BMW X1, que economiza nos materiais usados no banco traseiro, o Land Rover Evoque não faz isso. As portas seguem com a mesma qualidade das dianteiras, combinando couro, faixa macia emborrachada e cuidado com os materiais. Há saídas de ar para quem senta atrás e entradas USB.
Coisas a aprender
Enquanto a Land Rover fez algumas mudanças boas no interior do Evoque, ela errou em outras. O painel de instrumentos, por exemplo, é meio digital. Há conta-giros e velocímetro com 2/3 de sua área com ponteiros analógicos e uma parte sobre uma tela de alta definição. Apesar de ter qualidade, é confusa de usar e cheia de submenus desnecessários.
A central multimídia também mudou, contando com tela de melhor definição, além de novo sistema muito mais fácil de ser usado. Há Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Ainda peca por ter funções difíceis de achar, mas melhorou. O contrário vale para a tela secundária do ar-condicionado e do controle de tração. Agora ela tem menus mais claros e fáceis de usar.
O espaço interno não é o forte do Evoque, assim como de seu irmão Range Rover. No caso do maior, a culpa recai sobre os bancos enormes e cheios de recursos. Já aqui, é pelo fato de ele ser um SUV pequeno. É suficiente para a categoria, sendo comparável ao Q3, maior que o GLA, mas menor que X1 e XC40. Porta-malas leva 591 litros, sendo esse uma enorme (literalmente) referência.
Cachaça brasileira
Outro diferencial do Land Rover Evoque, é que agora ele é o único SUV compacto de luxo a oferecer motorização flex. O BMW X1 também bebia etanol, mas resolveu abandonar o combustível nos últimos tempos. Mas há uma forte consequência nisso: o consumo é muito alto para um carro desse porte.
Durante nossos testes, o Evoque fez 8,6 km/l na estada com gasolina e manteve-se em 7 km/l na cidade. Já com etanol, não passou de 7,2 km/l na estrada, enquanto na cidade lutou para passar de 5 km/l. Oficialmente a Land Rover declara 5,4 km/l na cidade com etanol e 7,1 km/l na estrada, com gasolina são 8,2 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada.
A sede do motor 2.0 quatro cilindros turbo flex de 250 cv e 36,3 kgfm de torque não necessariamente se transmite em performance. Ele faz de 0 a 100 km/h em 7,5 segundos, o que é dentro da média para a categoria. Ele é 0,1 segundo mais rápido que o BMW X1, que tem tração dianteira, mas perde por 0,5 segundo para o Audi Q3 com tração quattro.
Ou seja, anda na média dos rivais, mas bebe muito mais. Isso não quer dizer, porém, que seja um carro lento. O Evoque acelera suficientemente bem, tem retomadas muito espertas por conta do câmbio automático de nove marchas. Pisou no acelerador, ele rapidamente reduz marcha e enche o motor para andar mais rápido.
As trocas são imperceptíveis, mesmo em regime mais acelerado e esportivo, revelando um lado mais refinado do Evoque. Isso entra em concordância com o isolamento acústico primoroso do SUV compacto. Ele detém de um invejável silêncio na cabine que o torna digno do título de lorde inglês.
SUV com complexo de hatch
Um dos pontos mais interessantes do Evoque é sua dinâmica. A posição de dirigir é mais baixa do que a de um SUV padrão e ele se comporta como um hatch. Você só se lembra que está em um SUV ao ver um hatch andando nas ruas, enquanto você o enxerga como um carro mais baixo.
Na prática, como o terreno desse Land Rover é a cidade, essa dinâmica mais voltada para o asfalto acaba por ser seu grande atributo. É um carro muito gostoso de dirigir (tanto que me empolguei e rodei 1.100 km em uma semana), com uma solidez de rodagem invejável a carros bem maiores.
A direção é rápida e calibrada para a esportividade, tendo um relativo peso que faz muita diferença na sensação de parrudez que ele passa. Nas curvas, a carroceria pouco aderna ou inclina, se aproximando muito do que os hatches fazem. Contudo, a absorção de impactos e a valentia fica no território dos SUVs.
Equipamentos de sobra
De série, o Land Rover Range Rover Evoque HSE R-Dynamic traz chave presencial, piloto automático adaptativo, teto solar panorâmico, frenagem autônoma de emergência, bancos dianteiros elétricos, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sensor de alagamento, câmeras 360°, tração nas quatro rodas e porta-malas com abertura elétrica.
Há ainda alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, retrovisor central com câmera, ar-condicionado digital de duas zonas, assistente de luz alta, vetorização de torque, assistência de permanência em faixa, seis airbags, volante com ajuste elétrico de profundidade e altura, além de sistema auto-hold.
Para não dizer que não deve nada, o Evoque poderia ter painel totalmente digital, resfriamento nos bancos dianteiros e teto solar que abre – afinal, o que está presente é panorâmico, mas fixo.
Veredicto
No final das contas, o Land Rover Range Rover Evoque entrega o luxo que se espera por um modelo chamado Range Rover, mas em uma embalagem menor. O que sempre me incomodou em marcas de luxo é negar aos seus carros menores a sofisticação que eles são capazes de fazer.
Só que isso vem com um preço, literalmente. Ele é bem mais caro que seus rivais diretos, invadindo a faixa de preço de modelos médios híbridos: fato que pesa muito contra o Evoque, especialmente pelo fato de ser beberrão. No final das contas, é um SUV mais passional do que racional. Dá para ter, desde que não dê importância ao seu dinheiro.
Você teria um Land Rover Evoque? Conte nos comentários.
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