Já faz um bom tempo que a Stellantis provou com a Ram que o brasileiro quer e pode pagar por uma caminhonete de grande porte. É um movimento que vem de anos e que só agora ganhou as rivais Ford F-150 e Chevrolet Silverado. Última a entrar na festa, a picape da chega com mais potencial que as rivais, mas com mais poréns.
Antes de falar sobre a Silverado, é preciso entender o motivo pelo qual esse é o mercado de luxo mais importante agora. Em valores de R$ 450 mil a R$ 600 mil, em 2022 o segmento de caminhonetes representou 43% das vendas. A GM projeta que as picapes serão responsáveis por metade da faixa de preço neste ano.
É por isso que a Chevrolet não quis ficar de fora desse segmento hoje dominado pela Ram com as irmãs Classic, 1500, 2500 e 3500. Diferentemente da Ford F-150, a Silverado virá somente na versão topo de linha High Country por R$ 519.990. A GM, no entanto, estuda mais versões para o nosso pais.
Menos é mais?
Vamos tirar o elefante da sala: a Chevrolet Silverado é a caminhonete grande mais fraca à venda no Brasil — mas não a mais lenta. Ao invés de usar o motor do Camaro, a marca optou pelo 5.3 V8 com 360 cv e 52,9 kgfm de torque. A F-150 entrega 405 cv e 56,7 kgfm, enquanto a Ram empata em torque, mas tem 400 cv.
Só que o motor da Chevrolet é bastante moderno. Ele conta com sistema de desativação de cilindros no qual consegue trabalha com o mínimo possível de partes moveis a fim de gastar menos gasolina. Com transmissão automática de dez marchas a Silverado faz de 0 a 100 km/h em 7,4 segundos — mais rápida que a Ram.
Na hora de dirigir, no entanto, não é essa entrega que vem. A grandalhona tem força e está longe de ser manca, mas suas rivais dão a sensação de andar mais. A entrega de força é feita em giros mais altos por ser um motor aspirado e o ronco do V8 é mais contido por conta do isolamento acústico.
Só que o trabalho da transmissão automática de dez marchas é primoroso. Mesmo sendo a mesma caixa da Ford F-150, a Chevrolet calibrou a Silverado melhor. As trocas são mais suaves e mais rápidas, além de pisões no acelerador produzirem reduções de marcha mais rápidas.
Sutileza americana
Um dos pontos nos quais mais me chamou atenção na Chevrolet Silverado é a suspensão. Ela é nitidamente molenga, voltada totalmente ao conforto. Para quem vai rodar muito na terra, é ótimo pois absorve muito das imperfeições do solo e irregularidades do piso.
Muito disso se dá por conta dos amortecedores Rancho e da preparação feita especificamente para o Brasil com o kit off-road usado na Z71. Em contrapartida a essa ótima absorção de irregularidades no asfalto, está o comportamento de transatlântico. A Silverado balança muito, especialmente em alta velocidade.
Ela não dá tanta confiança quanto a Ford- F150, mas especialmente quando comparada à Ram 1500. Em relevos de asfalto, a suspensão continua balançando copiando o relevo por um tempo, como acontece quando você esbarra em um pudim. É como se fosse um sedã enorme de antigamente, bem americano.
Grande ela é, mas não parece
A direção tem assistência hidráulica, mas é bem calibrada. Rápida de usar, fácil e leve na medida certa, a Chevrolet Silverado revela um comportamento diferente de suas rivais: ela não parece um trambolho para dirigir. Ram 1500 e Ford F-150 são verdadeiras jamantas sobre rodas.
É interessante que a Chevrolet Silverado, mesmo com 5,91 m de comprimento, 1,94 m de altura e 2,06 m de largura não passa a sensação de ser tão grande. Ela fica na mão, é bem controlável e parece mais uma picape média do que uma aprendiz de caminhão.
Ajuda nessa sensação a presença de diversas câmeras. Ela conta com sistema 360 que permite diversos ângulos de visão, inclusive uma dedicada à caçamba e outra que funciona como retrovisor. Por falar nisso, a GM colocou os retrovisores da Silverado HD, que ficaram exageradamente enormes e desproporcionais.
Exemplo da familia
Por dentro, a Chevrolet Silverado tem acabamento primoroso com muitas superfícies macias ao toque e inserção de metais, além de madeira de verdade. Perde para a Ram 1500 em refinamento, mas está no mesmo nível da F-150. O interessante é que foi usado couro azul marinho na cabine, o que a deu personalidade.
Há de elogiar (e muito) a qualidade do painel de instrumentos totalmente digital e da central multimídia. A Chevrolet sempre fez boas centrais, mas foi a um novo nível com a Silverado graças a presença de sistema Android embarcado. Há Android Auto e Apple CarPlay sem fio, vale lembrar.
Espaço não falta, tendo muita área para objetos nas portas, especialmente na dianteira. O console central é maior que o porta-malas de um Celta de tão recheado de nichos e locais para tranqueiras. Há até dois porta-luvas, sendo o superior com tampa de madeira.
Mas nada supera o assento traseiro. Ele pode sere elevado para guardar objetos abaixo, mas há um compartimento secreto atrás dos encostos de costas. O espaço para quem se senta ali é mais do que vasto, sendo possível uma pessoa alta cruzar as pernas. Pena que o teto solar é pequeno.
A Chevrolet Silverado tem ainda a maior caçamba da categoria. São 1.781 litros contra 1.370 litros da F-150 e 1.200 litros da Ram 1500. A capacidade de carga fica em 716 kg, na média, enquanto ela pode aguentar 4.128 kg no reboque, sendo a maior do trio de caminhonetes grandes.
Veredicto
A grande vantagem da Chevrolet Silverado perante as rivais é o fato de que ela tem a maior rede de concessionarias à sua disposição. A GM tem mais revendas que Ram e Ford somadas, sendo possível encontrar uma concessionária da gravata dourada em cada canto do pais.
Além disso, a Silverado tem a maior caçamba e capacidade de reboque da categoria — dois itens que podem ser essenciais para muitas pessoas. Contudo, ela é a mais fraca e não entrega o mesmo nível de refinamento das rivais porque lá fora precisa deixar espaço aberto para a prima rica, aGMC Sierra.
Ao volante, tem sensação de ser uma picape menor — o que é ótimo em grandes centros. Mas a suspensão molenga tira um pouco do charme. Em suma, a Silverado é uma boa alternativa às rivais caso prefira uma picape da Chevrolet. Mas não é ela que marca um novo patamar na categoria.
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