Alguns carros vivem um irônico paradoxo: suas versões de entrada são mais legais que as variantes mais caras e lotadas de equipamentos. É assim com o Hyundai HB20, que tem o melhor conjunto na versão Sense basicona. E a fórmula se repete com o Nissan Versa Sense Manual. Seria uma pura coincidência os dois chamarem Sense?
Por R$ 83.690, ele é uma alternativa com preço intermediário entre o Chevrolet Onix Plus LTZ Manual e o Volkswagen Virtus MSI manual. Mas o que surpreende é que o japonês entrega uma boa lista de itens de série. Além de uma surpreendente condução divertida, mais até do que ele deveria.
Números e realidade
Em um mundo em que concorrentes como Onix Plus, Virtus e HB20S contam com versões turbo (sem câmbio manual no caso dos dois últimos), os números do Nissan Versa não parecem muita coisa. São 114 cv e 15,5 kgfm de torque.
Mas na realidade, o jogo é outro. O Versa é leve, são apenas 1.074 kg na balança. Ou seja, peso de com dois passageiros a mais. E essa leveza é sentida na condução do sedã compacto.
O motor 1.6 mais que dá conta do recado. Ele tem boa oferta de torque, mesmo em baixas rotações (algo não comum em motores aspirados). O Versa não passa vergonha em retomadas e tem força pronta ao pressionar o pedal do acelerador.
É claro que ele não anda como carro motor turbo. Não vai te fazer grudar no banco. Mais será mais do que suficiente para as atividades diárias tanto no ambiente urbano, quanto na estrada. Surpreendentemente não há falta de força.
Manual da alegria
Essa sensação é ampliada graças a ao bom casamento entre o motor 1.6 com a transmissão manual de cinco marchas. Trocas são bem curtinhas, precisas e macias. Os engates produzem um pequeno barulho de clique que instiga até mesmo condução mais esportiva.
Embreagem tem peso certo e curso justo. Isso faz com que o Versa não seja um carro cansativo, mesmo no trânsito. Mas há dois poréns. A primeira marcha produz som de ré, inexplicavelmente, quando o sedã acelera.
Além disso, faz falta uma sexta marcha. A rotação do Nissan Versa fica muito alta na estrada. A 100 km/h o conta-giros belisca os 3.000 rpm. E motor teria força para se manter em velocidade de cruzeiro mesmo com rotação mais baixa. Por isso uma marcha mais seria ótima para o sedã compacto.
Seria algo que ajudaria no consumo, que fica na casa dos 10 km/l com etanol. Em nossos testes rodando metade dos trechos em cidade e outra metade em estrada, o sedã variou entre 11 km/l e 9 km/l. Além disso, o tanque de 41 litros é minúsculo e reduz a autonomia total do sedã da Nissan.
Ao menos o isolamento acústico é bom, suficientemente para manter o som do motor lá fora em alta rotação. O que também o Versa Sense entrega é uma boa condução nas curvas. Ele tem uma surpreendente tendência de escapar a traseira, deixando tudo mais divertido. Não é arisco, já que é um carro naturalmente de tração dianteira. Mas ele dá suas rabeadas de maneira instigante.
Trabalhando nesse sentido, a suspensão apresenta comportamento neutro. Nem tão confortável a ponto de ser molenga, mas boa para pisos ruins e buraqueira. Por outro lado, não firme em excesso para ser uma tortura na cidade, mas suficientemente para mantê-lo estável nas curvas. A direção segue na mesma toada, com peso médio em todas as situações.
Algumas falsidades
Aliás, mesmo sem couro no volante, o revestimento plástico tem qualidade. Além disso, o volante tem belo desenho, boa empunhadura, comandos de fácil acesso e ajuste de altura e profundidade. Só poderia trocar a iluminação laranja por algo mais moderno.
Esse problema da luz também está nas portas. Somente o comando do vidro do motorista é iluminado. O restante dos botões fica na escuridão. Outra economia besta é fornecer função um toque somente para a descida do vidro do motorista. O resto das janelas (e a função de subida do vidro direito dianteiro) necessitam manter a tecla pressionada.
O acabamento é de qualidade, apesar de só ter plástico duro. Sabe a faixa de couro bege no painel? É plástico com costuras fakes na versão Sense. O Nissan Versa só tem couro ali na versão Exclusive. Além disso, há fibra de carbono falsa no painel e nas portas. Ao menos tem bons encaixes e materiais de qualidade.
Mesmo sem a tecnologia Zero Gravity, os bancos do Versa são os melhores da categoria. Abraçam o motorista perfeitamente, tem espuma confortável que permite dirigir horas a fio sem cansaço e bom tamanho. Além de amplitude de ajustes.
Por falar em amplitude, o Nissan Versa continua a ser um verdadeiro latifúndio intento. O espaço na segunda fileira é enorme, generoso suficientemente para dobrar a perna de um passageiro alto mesmo atrás de um motorista de igual grande porte. Porta-malas com 482 litros é mais que suficiente para várias tranqueiras, malas e mochilas.
Complemento recheado
Ser uma versão de entrada já há anos não é mais sinônimo de carro básico. Mas o Versa Sense vai bem além. Já vem de série com chave presencial, retrovisores elétricos e vidros elétricos nas quatro portas. Algo que nem todos os seus rivais contam com.
A direção tem assistência elétrica, há comandos de som no volante, assistente de partida em rampa, sensor de ré, banco com regulagem de altura, além de um sistema de som simples com Bluetooth. Confesso que uma central multimídia é o único item que falta a ele.
Visualmente há de destacar também que o Versa parece um carro mais sofisticado. Ainda que a versão de entrada use calotas com desenho simples. O sedã é elegante, com visual levemente esportivo e completamente oposto do sem graça e até feio modelo anterior, ainda vendido como V-Drive.
Veredicto
O Nissan Versa Sense Manual é um carro que surpreende por ser bem mais gostoso de dirigir do que aparenta ser. É um carro de entrada que fornece uma ótima lista de itens de série, aliada a equipamentos não esperados nessa faixa base.
Custar R$ 83.690 pode ser um enorme empecilho, pois nessa faixa já existem concorrentes automáticos, que são demanda de mercado. Entretanto, o Versa manual é para os raros compradores que ainda apreciam esse tipo de carro.
Gostoso de dirigir (mais que o automático), com ótimo conjunto mecânico, boa lista de itens de série, o Versa Sense manual apela para a racionalidade. Ainda assim, diverte e agrada. Um belo sedã que deve ser aproveitado antes que suma.
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