Apesar de também estar na moda como o segmento e SUVs, a categoria das picapes e caminhonetes médias não tem a mesma volatidade. A Toyota Hilux não dá chance a ninguém, ainda que a às vezes tente peitá-la. Modelos verdadeiramente bons acabam ficando sem chance e isso é o caso da Mitsubishi L200 Triton Sport.
Levantando os números da , temos até o mês de abril um acumulado de 13.557 unidades vendidas da Hilux contra 3.769 apenas da L200 Triton. Ela é a quarta caminhonete média mais vendida do Brasil, ficando à frente apenas de Nissan Frontier e Volkswagen Amarok, mas com um acumulado de quatro meses que representa 30 dias da Toyota.
E ela não merecia só isso, sinceramente. Durante uma semana testando a Mitsubishi L200 Triton Sport HPE-S, ficou nítido que ela tem qualidade para ter mais espaço no segmento do que seu nome ocupa no documento. Mesmo que, nessa versão topo de linha, custe R$ 311.990 e seja uma das mais caras da categoria.
Não foi você
Quando a Nissan lançou a Frontier reestilizada, a marca japonesa se vangloriou sobre o fato de que a sua caminhonete era a primeira com alerta de tráfego cruzado e para-choque traseiro que funciona como degrau. Mas até ela esqueceu que a Mitsubishi L200 Triton Sport já tinha isso.
E a lista de itens de série da caminhonete na versão HPE-S é bem recheada. Traz frenagem autônoma de emergência, ar-condicionado digital de duas zonas, faróis full-LED com facho alto automático, controle de tração e estabilidade, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, alerta de ponto cego, assistente de partida em rampa e de decida.
Traz ainda banco do motorista com regulagem elétrica, volante com ajuste de altura e profundidade, chave presencial, retrovisor com rebatimento elétrico e ajustes elétricos, lavador de farol, retrovisor interno fotocrômico, sensor de chuva, além de central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay conectado via cabo USB.
Percepção acentuada
Essa lista extensa de itens de série não é somente uma tentativa de justificar o preço acima dos R$ 300 mil, mas também o posicionamento das picapes médias. Elas estão na moda e cada vez mais donos de sedãs de marcas de luxo e SUVs gourmet trocam seus carros urbanos pelas picapes, mesmo que sejam verdadeiros trambolhos.
Só que o acabamento nunca acompanhou esse valor agregado. Nenhuma picape média no segmento vai além de um acabamento ok, quando não é ruim mesmo. Mas entre todos os modelos da categoria, a L200 Triton Sport é a que apresenta a melhor cabine. É recheada de plásticos, mas a sensação de ter pago a mais aparece ali – diferente de Frontier e Hilux.
O couro do volante tem qualidade de marca premium e há ajuste de profundidade e altura de verdade – ao contrário da S10 que tem volante enfiado no painel ou da Hilux que até tem ajuste de altura, mas que altera entre muito perto do para-brisa e colado no painel. Os bancos são confortáveis e contam com bastante ajuste, só não superam os da Frontier.
Os plásticos duros usados têm qualidade acima da média, são bem encaixados e tem textura agradável. A Mitsubishi só usou couro acolchoado nas portas e, surpreendentemente, em uma parte inferior do console, logo ao lado da manopla de câmbio, mas que pouco tem contato com as mãos.
Mas um grande (ou melhor, pequeno) elemento destoa: a central multimídia. Ela é pequena demais para o painel grande da L200 Triton. Além disso, tem bordas exageradas e mais parece aquelas centrais colocadas em concessionária para um SUV PCD de antigamente em que até o tampão do porta-malas virava opcional. Pelo menos tem Android Auto e Apple CarPlay.
Vale outro adendo para o sistema de ar-condicionado na traseira. Ele usa dutos no teto que puxam ar para a dianteira e o redistribuem com mais força para a traseira. O vento pode ser direcionado com uma aleta que mais parece um para-sol em miniatura. Outra excentricidade é o botão de partida do lado esquerdo (alô Porsche).
Joga de ladinho
Mas uma caminhonete não é feita de interior com certo nível de luxo e botão de Porsche. Elas são feitas para o trabalho pesado e precisam ser parrudas. E isso a L200 Triton é e muito. É nítida a robustez da carroceria, sua solidez e facilidade em que ultrapassa buracos, superfícies ruins e qualquer tipo de perrengue.
Ela tem como vantagem a tração 4×4 que pode ser acionada no asfalto, ao contrário de todas as suas concorrentes. E é justamente nesse tipo de terreno que ela brilha, especialmente na estrada. Ela se mantém estável e não é suscetível a ventos laterais como outras caminhonetes, dando confiança para andar mais rápido.
Nas rodovias ela não chacoalha e mal pula, ao contrário da cidade e da terra. Como toda caminhonete média ela tem comportamento saltitante. Só que a L200 não faz esse movimento verticalmente como as outras, mas sim lateralmente, exigindo correções constantes do volante na cidade e, principalmente na terra. No off-road, aliás, é fácil fazer a Triton escapar.
O bom é que a direção, apesar do antiquado sistema hidráulico, surpreende pelo bom acerto. Ela é pesadinha, especialmente para manobras, mas nada que exija pular o treino de bíceps após uma baliza. O bom é que ao rodar, ela assume o nível de esforço ideal, além disso, tem bastante feedback da estrada, o que ajuda a uma condução mais prazerosa.
Números mentem
Nos últimos tempos, toda caminhonete média parece ter a obrigação de ter pelo menos 200 cv no Brasil. A falta desse número mágico sempre foi a grande critica à Toyota Hilux e uma ausência da Mitsubishi L200 Triton Sport. São 190 cv e 43,9 kgfm de torque providos por um 2.4 quatro cilindros turbo diesel.
Mas a prática é outra. A Triton anda muito bem, com acelerações fortes e presença do ronco do diesel instigando as acelerações mais altas. Ele é suave, com pouca vibração, mas presença sonora a todo tempo. O que fez bem ao motor foi o novo câmbio automático de seis marchas que parece ter sido feito por uma marca que tem pilotos de competição ali dentro, como a Mitsubishi tem.
As trocas são suaves ao dirigir em ritmo mais suave e tranquilo, como na cidade e durante um passeio nas estradas. Mas ao pisar fundo, ela passa a fazer as trocas com um leve tranquilo como nos carros mais esportivos. Isso entra em sintonia com as borboletas atrás do volante que são fixas na coluna de direção, novamente como carro de competição.
Bem escalonado, o câmbio permite que o motor 2.4 ronrone na faixa abaixo dos 2 mil giros na estrada enquanto a L200 Triton não nega fôlego. Mas na hora de fazer uma retomada há um porém. O motor responde bem, mas o câmbio demora a reagir. Ele derruba uma marcha rápido, mas segura a próxima por alguns segundos antes de trocar e fazer a picape embalar.
E o consumo surpreendeu. A L200 Triton conseguiu fazer média de 11,2 km/l. A maior parte do seu trajeto foi em estrada, que tem consumo oficial registrado em 10,8 km/l, enquanto na cidade faz 9,4 km/l.
Quem te viu, quem te vê
De todos os atributos da Mitsubishi L200 Triton Sport, talvez o visual seja o mais atraente. E pensar que antes da reestilização, ela era a caminhonete mais feia da categoria, agora ela disputa com a Nissan Frontier o título de mais bela. As linhas são fortes, modernas e em harmonia com a identidade visual que a Mitsubishi tem usado nos últimos tempos.
A dianteira alta com faróis divididos é o ponto mais chamativo. A parte superior se integra com a grade frontal e traz iluminação diurna junto do farol baixo. Luz alta e seta ficam no bloco inferior, que se destaca por conta do para-lama quadrado. A grade em X tem bordas cromadas e acentua a parte preta interna.
Já a traseira não foge muito de outras picapes, com lanternas retangulares que ocupam quase toda altura da peça. Mas o vinco que nasce nas laterais e corta toda a caçamba merece destaque por dar uma sensação mais parruda para a Triton. E não há como deixar de falar que a belíssima cor azul metálica casou perfeitamente com a carroceria da L200.
Veredicto
Não é fácil competir com a Toyota Hilux que se apoia na fama de indestrutível e na ampla rede de concessionárias da marca japonesa. Só que a Mitsubishi L200 Triton não merecia vender tão pouco quanto vende. Ela tem atributos para pelo menos chegar no nível da Chevrolet S10, com qualidades bem próximas às da Ford Ranger.
A Triton é inegavelmente a caminhonete mais bonita da categoria e a com interior mais refinado, que passa realmente a sensação de não ser um carro popular com fermento e caçamba. Estradeira, tem consumo comedido, boa performance e tecnologias de categoria superior. Só pula mais do que deveria na cidade e na terra, mas quase todas as rivais são assim.
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