É sabido que a Volkswagen tentou substituir o Gol de diferentes formas no início deste século. Por mais que existe uma vontade da matriz de fazer o Polo ocupar este posto, na época ele era sofisticado demais, por isso acabou se tornando um hatch premium por aqui. Porém, de sua plataforma surgiu o carro pensado para ser o Gol do século 21, o VW Fox, que durou quase 20 anos.

A história do Fox é bastante curiosa. Seu projeto começou durante um happy hour, conforme conta Luiz Alberto Veiga, o designer da Volkswagen responsável pelo nascimento do carro. Segundo Luiz, em textos publicados nos colegas do Autoentusiastas, a ideia era criar um modelo menor que o Gol de segunda geração, com teto elevado, ponto H mais alto (que determina a posição de dirigir), um capô curto e para-brisa bastante inclinado, para dar um ar de minivan ao projeto.

Nessa época, por volta de 1999, a Volkswagen já sabia que lançaria o Polo o Brasil. Portanto, o time de projetistas da marca tratou de pegar a plataforma PQ24 emprestada. E, dessa forma, o projeto Tupi começou a ser desenvolvido, para se tornar uma espécie de Gol feito para o século 21.

De Tupi para Fox

Com a VW aprovando o projeto, estava na hora de começar o desenvolvimento do carro. O Fox foi pensado para ser um carro barato, por isso não tinha porta-luvas, apenas uma prateleira e um compartimento embaixo do banco do motorista. O painel de instrumentos também era bem simples, e a cabine usava plásticos em excesso. 

A ideia era posicionar o modelo abaixo do Gol. Porém, na hora do lançamento, ele ficou mais caro do esperado e o jeito foi precificar o Fox acima do hatch veterano. Dessa forma, em 2003, surgiu o hatch e que quase foi chamado de Tupi. No entanto, como o modelo seria vendido também na Europa, o nome Tupi poderia soar como to pee, o ato de urinar. Dessa forma, Fox acabou sendo o nome escolhido.

Começo no Brasil

Inicialmente, o Fox só tinha versões de duas portas no Brasil e apenas o motor 1.0 a gasolina de 72 cv. No ano seguinte, surgiram os modelos quatro portas e o motor 1.6 de 103 cv. Logo depois, esses propulsores ganharam a tecnologia flex.

Em 2005, surge um dos derivados mais famosos. O CrossFox, com pegada aventureira, estreia para acompanhar a tendência da época, sempre equipado com o propulsor 1.6. Para 2006, a grande novidade foi a chegada da SpaceFox, a perua derivada do modelo e que durou até 2019, e utilizava o motor do CrossFox.

O Fox foi bem aceito pelo público desde o começo. No entanto, a cabine simples e os materiais básicos demais sempre foram alvo de críticas, bem como o painel de instrumentos. Isso mudou em 2009, quando a primeira reestilização foi lançada. O visual se inspirava no Polo de quinta geração, que nunca foi vendido no Brasil, e incorporava a identidade visual da VW da época.

Porém, a principal mudança foi no interior. A cabine foi completamente atualizada, se tornando mais refinada. Até mesmo o painel de instrumentos foi alterado, adotando um visual mais convencional, com conta-giros e velocímetro grandes e uma tela no meio, além dos marcadores analógicos de temperatura e nível de combustível.

Os motores, já flex, foram mantidos, mas a transmissão automatizada I-Motion passou a ser oferecida como opcional nos modelos 1.6. E, como era esperado, a SpaceFox seguiu os mesmos passos do irmão hatch.

Bluemotion

Nesse momento, estava claro que o Fox não iria substituir o Gol. Afinal, o modelo veterano ganhou uma geração completamente nova em 2008. Então o jeito foi elevar de vez o patamar do Fox, aproximando ele do Polo. 

Durante essa segunda fase, em 2013, a Volkswagen aproveitou para lançar a versão Bluemotion, com foco maior na economia de combustível. O motor escolhido foi o 1.0 MPI de três cilindros, estreando essa configuração na marca. Depois, ele ainda seria utilizado por up!, Gol Voyage e no Polo atual.

Última mudança

Em 2014, já como linha 2015, o Fox recebeu seu último retoque visual. A dianteira mudou pouco, se inspirando no Golf, mas a traseira trocou as lanternas arredondadas por uma horizontal e que invadia a tampa do porta-malas. O interior mudou pouco, mas o hatch passou a ter direção elétrica, em vez da hidráulica, recebeu uma central multimídia e o motor 1.6 de 16v MPI, mais moderno que o 1.6 8v e com 120 cv, passou a ser oferecido nas versões mais completas.

Com o Polo de quarta geração aposentado no Brasil, coube ao Fox ocupar esse espaço. Porém, isso mudaria algum tempo depois. Quando o Polo atual, de sexta geração, chegou em 2017, o Fox passou a ser tratado como um modelo de custo-benefício. 

Apenas duas versões foram mantidas, a Connect e a Xtreme. E o motor 1.6 16v deixou de ser oferecido, restando apenas o 1.6 8v. A parte positiva era que o Fox entregava um bom pacote de equipamentos nas duas versões, sendo realmente uma opção com custo-benefício.

Fim do VW Fox

No entanto, o peso da idade do projeto já pesava. Mesmo com boas vendas, tendo sido exportado para a Europa na sua primeira fase, e com quase 2 milhões de unidades produzidas, estava na hora do Fox se aposentar.

Primeiro, a SpaceFox foi tirada de linha, em 2019. Dois anos depois, no fim de 2021, foi a vez do Fox se aposentar, após 18 anos de trajetória e sempre na mesma geração, apesar das reestilizações.

Pensado para ser um Gol do século 21, o Fox acabou morrendo antes do hatch veterano. No entanto, mesmo sem conseguir substituir seu irmão mais velho, ele teve uma história de sucesso por aqui, sendo valorizado até hoje no mercado de usados. E pensar que isso tudo começou em uma conversa de happy hour.

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