Todo brasileiro vez ou outra sente inveja dos carros que são vendidos na Europa ou nos Estados Unidos. Porém, quando uma marca resolve vender um carro padrão europeu aqui, geralmente ele chega caro e as vendas do modelo desenvolvido no Brasil são maiores. Prova disso é o Polo e o Peugeot 208, que sempre venderam menos que Chevrolet Onix e Hyundai HB20.
Desenvolvidos na Europa e pensados como carros globais, 208 e Polo passaram por pequenas modificações para serem vendidos no Brasil. Mas eles preservam 90% da essência que têm lá fora. Além disso, têm pontos em comum: são refinados, caros e recheados de tecnologia.
Chamativo e discreto
Se primeira impressão é a que fica, o Peugeot 208 se destaca do Volkswagen Polo logo de cara. O hatch francês tem desenho mais moderno, chamativo, com linhas arredondadas e os atraentes dentes de leão como luzes diurnas de LED. A cor de lançamento azul também ajuda.
Seguindo um estilo mais tradicional, o Volkswagen Polo é discreto e não possui muitas ousadias estilísticas. É um design que envelhecerá com mais classe e tende a enjoar menos. Aqui no Brasil ganhou para-choque dianteiro com abertura de ar maior, enquanto o Peugeot eliminou a luz de neblina traseira.
O 208 tem faróis full-LED e teto solar panorâmico na versão topo de linha Griffe de R$ 94.990. Já o Polo Highline entrega rodas de liga-leve de 17 polegadas como chamariz visual na versão Highline de R$ 91.150.
Conceitual e econômico
Se design é algo subjetivo, não há como discutir no quesito acabamento. A maior crítica ao Volkswagen Polo é justamente a virtude do Peugeot 208. O estreante é o único da categoria com materiais macios ao toque no painel, além de visual típico de conceito.
Volante pequeno revestido em couro de qualidade acompanhado por um incrível painel de instrumentos digital com efeito 3D fazem o Polo passar vergonha. Os plásticos usados no Volkswagen são de qualidade nitidamente inferior. Não é ruim, mas está abaixo da média.
Além disso, a tonalidade mais clara dá uma aparência mais simples à cabine do Polo. Outro ponto está nos bancos. O Volkswagen tem revestimento de imitação de couro não muito sofisticado, enquanto o Peugeot combina couro, Alcântara e tecido.
Evolução e expansão
Pioneiro entre os compactos com painel digital, o Polo é equipado com tela com melhor definição e mapas integrados, mas o efeito 3D do 208 é mais legal. Já a central multimídia do Volkswagen é superior, com tela de alta definição, mais fácil de usar e com mais recursos.
Outro ponto para o Polo vai para a separação entre o ar-condicionado e a central multimídia. A Peugeot conjugou os sistemas, o que faz com que a operação seja atrapalhada e inconveniente em algumas situações.
O Volkswagen Polo Highline também é mais espaçoso que o Peugeot 208 Griffe, especialmente na segunda fileira de bancos. Com 300 litros de capacidade de porta-malas, o alemão vence o francês com vantagem de 35 litros (265 litros no 208).
Suficiente e além
Em quesito motorização, é o Volkswagen Polo que faz o Peugeot 208 se constranger. Ele traz o moderno e plurivalente 1.0 TSI de 128 cv e 20,4 kgfm de torque. É um motor reconhecido por ser econômico, resistente, adepto à preparações e com disposição para acelerar forte.
Já o Peugeot 208 usa o velho conhecido 1.6 quatro cilindros aspirado de 118 cv e 15,2 kgfm de torque. É o mesmo dos tempos do 206, mas devidamente atualizado e conhecido por ser robusto. No novo hatch ele é apenas suficiente, apesar de relativamente econômico.
O Polo tem acelerações mais rápidas, é mais ágil e entrega um instigante soco ao acelerar que faz o corpo grudar no banco. Isso não é visto no 208 que, apesar de andar bem, não acompanha o Volks. O Peugeot não é manco, só não é tão efervescente quanto o rival.
Razão e emoção
As coisas começam a se equilibrar nas transmissões automáticas de seis marchas. Com três modos de condução, os dois apresentam trocas discretas e funcionamento adequado para seus motores. Só que o câmbio do Peugeot é mais moderno. Ele não faz reduções atoa quando o acelerador é pressionado levemente como faz o Polo.
Na estrada, vez ou outra você precisa somente acelerar mais um pouco para o carro voltar a embalar e o 208 entende isso, mantendo a sexta marcha. Já o Polo se desespera e reduz para quinta ou quarta, dependendo da força no pedal.
Apesar disso, o Volks mantém rotação mais baixa na rodovia, o que permite maior economia de combustível. Um bônus por ser turbo. Em isolamento acústico eles se equivalem, deixando pouco do ruído de motor adentrar à cabine.
França e Alemanha
Em comum, Peugeot 208 e Volkswagen Polo têm a excelente dirigibilidade. Ambos são temperados com esportividade e são bons de curva. O 208 é mais instigante ao oferecer posição de dirigir mais baixa e suspensão com acerto levemente mais firme.
Já o Polo contorna curvas melhor por conta do conjunto e rodas e pneus maiores. A suspensão é mais macia que a do Peugeot, mas também (bem) mais ruidosa. Ele não passou pelo mesmo tratamento que seu irmão Nivus.
Com assistência elétrica nos dois modelos, a direção tem peso semelhante em baixas velocidades e na hora das manobras. Contudo, o Peugeot 208 é mais comunicativo com seu volante pequenino e tem uma bem-vinda firmeza extra na estrada.
Equipamento para caramba e muito equipamento
Na tentativa de justificar os mais de R$ 90 mil cobrados, Polo Highline e 208 Griffe vem recheados de itens de série até dizer chega. Ambos contam com painel de instrumentos digital (3D no Peugeot), chave presencial (com aproximação no 208), ar-condicionado digital, retrovisores elétricos (com rebatimento e tilt-down no Polo).
Além disso, são equipados com faróis com acendimento automático (full LED e com assistente de luz alta no 208), luz diurna de LED, rodas de liga-leve (maiores no Polo), central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, detector de fadiga, câmera de ré e sensor de estacionamento (na dianteira apenas no Polo).
O Peugeot 208 Griffe vai além com versões mais sofisticadas de alguns itens do Polo Highline. Além disso, só ele tem teto panorâmico, carregador de celular por indução, assistente de manutenção em faixa, frenagem autônoma de emergência e reconhecimento de placa.
Por R$ 91.150, o Volkswagen Polo Highline é mais barato que o Peugeot 208 Griffe, que sai por R$ 94.990. Contudo, a diferença de R$ 3.840 se justifica em itens de série a mais. Além disso, a Peugeot já vende o 208 topo de linha por R$ 89.990.
Veredicto
O Peugeot 208 Griffe sai vencedor desse comparativo por muito pouco. Ele traz tanta tecnologia quanto o Polo Highline, mas vai além com itens do segmento premium. Tem cabine infinitamente mais refinada e condução igualmente prazerosa.
Seu único pecado é motor, que não é turbo e divertido como o do VW. Nitidamente é apenas suficiente. O Polo é mais ágil, econômico e tem motor mais moderno e instigante. Além disso é mais espaçoso e tem desvalorização menor.
No fim das contas, a escolha pelo Polo ou pelo 208 pode ser puramente pessoal, já que ambos são excelentes carros e referência no segmento. Agora, se o Peugeot tivesse motor turbo, aí ele seria imbatível.
Um agradecimento especial ao leitor Fábio Cartaxo que cedeu seu Polo Highline para as fotos já que a Volkswagen não dispunha de uma unidade do hatch no período de avaliação. Por ser linha 2019, é justificada a ausência das rodas de liga-leve de 17″ no modelo das fotos.
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