Agora atuando como importadora no Brasil, a Ford tem no Territory e na Ranger seus modelos mais baratos. Ainda que a picape média comece em um patamar de preço inferior ao SUV, as coisas começam a ficar verdadeiramente interessantes aos R$ 179.900.
É que esse preço é exatamente o mesmo da recém-lançada Ranger Black e do Territory SEL. Ambos avaliados anteriormente aqui pelo Auto+, se enfrentam agora em um embate para sanar a dúvida: qual o melhor Ford de entrada?
Elefantes na sala
Antes de qualquer coisa é preciso entender o perfil dos dois Ford. A Ranger Black é uma picape média, de porte verdadeiramente avantajado. A nova versão tem foco no uso urbano, mesmo território explorado pelo Territory. O SUV médio é um dos maiores de sua categoria e aposta em uma lista enorme de itens de série desde a versão de entrada SEL.
Na fita métrica, a Ford Ranger Black entrega 5,35 m de comprimento, 1,86 m de largura e 1,82 m de altura. Já o Territory marca 4,58 m no comprimento, 1,93 m de largura e 1,67 m de altura. Ou seja, vagas de shopping são problema para ambos. Já que o SUV é excessivamente largo e a picape é comprida demais.
No trânsito e no dia-a-dia urbano essas medidas avantajadas são nitidamente sentidas. A Ranger e o Territory são alvos fáceis para motoqueiros em corredores e se apertam para entrar em garagens de portão estreito. No entanto, apesar de mais comprida, a Ranger parece mais fácil de manobrar.
Metro quadrado aproveitado
Já quando o quesito é espaço interno, não há como bater o Territory. A cabine é melhor aproveitada para todos os cinco passageiros. Por ser um projeto chinês, ele privilegia (e muito) o espaço para os passageiros traseiros. A Ranger é mais acanhada nesse sentido, mas uma viagem com cinco pessoas pode ser feita com a picape sem dificuldades.
Obviamente em porta-malas, a vantagem é da Ranger. Afinal, uma caçamba de 1.420 litros supera de longe os 348 litros do Territory. Nem mesmo com os bancos deitados, chegando a 1.120 litros de capacidade, o SUV supera a picape. O problema é que a Ranger Black não tem protetor de caçamba e/ou capota marítima de série. Ou seja: cargas expostas a todo tempo.
Para dar o troco na Ranger, o Territory tem o melhor acabamento entre os carros atualmente vendidos pela Ford no Brasil. Há muita superfície macia ao toque, com direito a inserções de couro. Os plásticos usados são poucos, mas de qualidade e bem montados. A Ranger, por sua vez, tem só plásticos duros na cabine. Igualmente bem feitos, mas inferiores aos do SUV.
Território da tecnologia
Um dos pontos em que o Territory mostra que não é um Ford de verdade é na central multimídia. É isso é bom. Não é o sistema SYNC3 da Ranger que, apesar de ainda ser fácil de usar, é um tanto quanto lento e sem muitas funções atrativas. No SUV, a tela é grande, em alta definição e rápida em todas as situações.
Incomoda no SUV o fato de não ter comandos do ar-condicionado separados. Sendo necessário sair do Android Auto ou do Apple CarPlay para mudar a temperatura. Problema esse que a Ranger não possui, já que conta com comandos físicos para controlar a ventilação da cabine. Ambos, no entanto, trazem o sistema Ford PassConnect que controla o veículo pelo celular.
Já o painel de instrumentos é vantagem para a Ranger. Ele é parcialmente digital, com duas telas para funções distintas. Tem mais funções que o computador de bordo do Territory, que não conta com velocímetro digital, por exemplo. A única coincidência e derrapada deles aqui é ter volante somente com ajuste de altura, não de profundidade.
Equipamentos acima da média
Em itens de série, ambos surpreendem pela faixa de preço e posicionamento. Os dois Ford de R$ 179.900 são equipados com retrovisores elétricos, seis airbags, ar-condicionado digital (duas zonas na Ranger), central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, revestimento de couro nos bancos e direção elétrica.
Há ainda sensor de ré e câmera de ré para os dois. O Territory SEL vai além da Ranger Black ao entregar faróis full-LED, teto solar panorâmico e chave presencial. Pela faixa de preço, sensor de chuva e farol seriam itens bem-vindos tanto para a picape, quanto no SUV.
Interessante notar a abordagem visual da Ranger Black em oferecer itens escurecidos e parecer uma versão mais cara do que de fato é. Assim como o Territory só entrega ser uma variante de entrada por conta da roda menor. Mas, em ambos os casos, fazem jus ao valor cobrado na entrega de visual interno e externo.
Opostos atrativos
É na hora de andar, no entanto, que Territory e Ranger são tão parecidos quanto distantes. O SUV conta com motor gasolina 1.5 quatro cilindros turbo de 150 cv e 22,9 kgfm de torque. Já a picape tem um 2.2 quatro cilindros turbo diesel de 160 cv e 39,3 kgfm de torque.
Potências parecidas, mas por conta do diesel a picape é mais forte. E isso é traduzido em saídas mais bruscas e acelerações mais vigorosas. A Ranger é evidentemente uma picape parruda e com força para vencer obstáculos mais facilmente que o Territory. Um pouco da culpa disso é da transmissão.
No SUV a caixa CVT patina bastante em arrancadas, onde ele parece um pouco manco. Apesar disso, a picape chega aos 100 km/h depois do SUV: são 3 segundos de diferença praticamente. São necessários 15 segundos para Ranger contra 11,8 segundos no Territory. Ambos, nitidamente, ávidos a grandes velocidades.
Na prática, a Ford Ranger Black é que parece ter melhor performance que o Territory dada a entrega de torque mais cedo. Além disso, as trocas de marchas, mesmo que suaves, produzem um efeito psicológico de ganho de força mais evidente que a gritaria do câmbio CVT.
Em consumo há uma proximidade muito grande. O Territory faz 9,2 km/l na cidade com gasolina e 10 km/l na estrada. Já a Ranger marca 9,6 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada. Contudo, como o tanque da picape é 28 litros maior que o do SUV, ela tem autonomia evidentemente maior.
Outra coincidência entre os irmãos está na direção: os dois Ford são anestesiados e tem assistência além do que seria necessário para uma condução mais segura na estrada. É ótimo para manobras na cidade (especialmente porque ambos são grandalhões), mas falta firmeza na cidade.
Surpreendentemente, no entanto, a Ranger é melhor de curva. O acerto de suspensão feito para a cidade e o tempero verdadeiro da Ford, fizeram com que ela se comportasse mais. Já o Territory não enfrenta o chato sacolejo das picapes médias, ainda que a da Ford seja a que menos pula.
Na estrada, no entanto, a Ranger tem mais disposição e é mais confortável. Já o Territory é mais silencioso e sente falta de força em alguns momentos.
Veredicto
Uma picape média e um SUV médio não são para o mesmo público. Mas não há como negar que é tentador ver em uma mesma revenda dois carros tão diferentes e pelo mesmo preço. A escolha, na realidade, depende do perfil.
Roda muitos quilômetros na estrada, precisa de espaço para cargas ou gosta da força do diesel? Vá de Ranger Black. Precisa de espaço interno farto, mais tecnologia e parecer que comprou um carro mais caro do que de fato é? Territory SEL é a sua escolha. Tecnicamente, no entanto, a Ranger é um superior, ainda que menos equipado.
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