Desde que a Jeep deixou de ser uma esquecida importadora no Brasil para se tornar uma fabricante de peso por aqui, deixou de brincadeira. O Renegade inaugurou a fábrica de Goiana (PE) e se tornou líder do segmento de SUVs compactos. Depois o Compass fez a mesma coisa entre os médios. Agora chega a vez do Commander.
Ele nasce mirando CAOA Chery Tiggo 8 e VW Tiguan, mas também modelos como Chevrolet Trailblazer e Toyota SW4. A ideia da Jeep é clara: ser a fabricante do SUV de sete lugares mais vendido do Brasil, mas não necessariamente estar entre os 10 mais vendidos do segmento de utilitários em geral. Mas dado o conjunto da obra, potencial ele tem.
Grand Compass não
Nascido a partir da plataforma Small Wide 4×4, a mesma de todos os modelos Stellantis feitos em Pernambuco, o Jeep Commander não é um Grand Compass. Ainda que os dois compartilhem boa parte da estrutura, muito do interior e até os motores, na prática e na essência são carros completamente diferentes.
Commander e Compass não trazem sequer um painel externo igual. As portas são praticamente idênticas e o retrovisor é o mesmo, mas só. Ao vivo, prometo, ele chama mais atenção que nas fotos. As imagens não fazem jus ao seu porte avantajado e ao balanço traseiro com volume equilibrado. Ele parece de fato grande sem ser trambolho.
Confesso que o visual das versões Limited me agradou mais por conta da porção plástica inferior na cor da carroceria – no Overland (primeiro Jeep nacional com essa nomenclatura), os plásticos são todos na cor da carroceira. Outro ponto é que a marca poderia ter conjugado a luz diurna de LED com os faróis, usando o ressalto no capô que não tem utilidade.
O interessante é que o Commander traz elementos de Grand Cherokee e de Compass, mas visual próprio e com personalidade. A dianteira é agressiva, com grade frontal acompanhando os faróis full-LED com parte interna escurecida. Tudo é contornado por cromo acetinado, que traz ainda mais elegância.
Por falar nisso, a Jeep tomou o cuidado de circular todas as letras com tom de cobre no Commander Overland, dando uma sensação de refinamento ainda maior. Na traseira, lanternas grudadas ao vidro deixam ele visualmente mais alto e imponente. Por serem finas, ajudam na sensação de largura.
Nível que já era alto
Em questão interna, a Jeep sempre esteve nitidamente um degrau acima dos seus concorrentes diretos. Mas no jogo dos SUVs maiores, a brincadeira é mais complicada. O acabamento do Commander é esmerado, de alta qualidade e recheadíssimo de materiais macios ao toque.
Elegantemente decorado com detalhes em cobre (quando a cabine é nas cores preta ou marrom), o painel se destaca pela faixa central de suede, material usado também nos bancos. As costuras mudam de acordo com a versão: linhas horizontais no Limited, diamantes no Overland. Em relação ao Compass, há um novo console central maior e mais largo.
O que de fato muda é da coluna C para trás. O Commander tem mais espaço para os passageiros. Seu irmão menor não é uma referência nesse quesito, mas o novo SUV conseguiu corrigir graças ao entre-eixos de 2,79 m e ao comprimento de 4,76 m. A segunda fileira tem bancos deslizantes e reclináveis, com espaço mais do que suficiente para pessoas grandes.
Já a terceira fileira é para os pequenos. O acesso é fácil e prático, mas se for alto, ficará com o joelho na altura do peito e em posição nada confortável. O piso é elevado, mas há espaço para colocar os pés em baixo do banco, algo que a Chevrolet Spin, por exemplo, não tem. A marca ainda trouxe entradas USB e lugar para apoiar o celular lá no fundão.
Sem trambolho
Um ponto em comum com todos os carros de sete lugares é que eles são um trambolho. Não somente no tamanho, mas como na sensação de dirigir. É nítido o lastro a mais na traseira e o porte avantajado o quanto desconta pontos em prazer ao volante. Mas a Jeep conseguiu manejar isso com maestria.
Para provar seu ponto, nos levou à pista de Curvelo, MG, durante a noite com pista decorada por LEDs e iluminação especial. Me senti jogando Need For Speed Underground, mas com um carro que jamais seria pensado na época do game. E como o Commander surpreendeu. Ele é claramente um SUV voltado ao conforto, mas não é um trambolho!
A suspensão é macia o tempo todo, fazendo com que a carroceria jogue para os lados um pouco, mas bem menos que nos modelos maiores como SW4 e Trailblazer. O Commander tem chão e faz curvas tal qual o Compass – só não é um SUV com a pegada esportiva do Tiguan, mas não é desengonçado.
Os controles de tração e estabilidade estragam a festa muito cedo, intervindo com muita força a qualquer escapada mais acentuada. Seria um ponto negativo em um esportivo, mas como se trata de um SUV familiar, essa antecipação vai de encontro com a necessária segurança para dar conta de resguardar sete pessoas (que contam com sete airbags de série).
Anestesiada, a direção tem peso adequado, sem ser leve demais ou pesada demais – só não é muito comunicativa quanto ao piso. Novamente, uma característica que combina com seu lado mais voltado ao conforto. O câmbio é automático de seis marchas nas versões flex ou de nove nas diesel, caixas que sempre trabalham com trocas suaves, mas às vezes cedo demais.
Em especial no modelo flex de 185 cv e 27,5 kgfm de torque, o Commander perde fôlego assim que o pedal do acelerador é solto. O câmbio se desespera em subir de marcha rápido e descer a rotação. O motor, que no Compass até sobra em potência, aqui parece suficiente para não sofrer com sete pessoas. Mas bem no limite do suficiente.
Sobe escada
Já o diesel com 170 cv e 38,7 kgfm tem mais torque que os irmãos menores, o que compensará o peso a mais e a quantidade extra de passageiros. O toque é farto e a robustez também. Prova disso é que a Jeep nos fez subir uma escadaria com o Commander acelerando fundo. O carro não sofreu, fez com tranquilidade como se até pedisse para ir mais uma vez.
A carroceria é sólida, aguenta o tranco sem dó e pouco range no off-road mais intenso. Traz três modos diferentes de condução em ruas não pavimentadas, além de sistema de tração nas quarto rodas com reduzida e com seletor eletrônico.
Veredicto
Faltava à Jeep um modelo que fizesse a ponte entre os nacionais Renegade e Compass, com seus irmãos importados e aspiracionais Wrangler e Grand Cherokee. Com o Commander, a marca oferece um SUV de sete lugares que o mercado deseja e com os bons atributos oferecidos pela marca até então.
Verdadeiramente com espaço para sete, acabamento primoroso e boa dirigibilidade, o Jeep Commander tem todo potencial para causar o mesmo efeito que Renegade e Compass tiveram no mercado brasileiro. Será que daqui há uns anos veremos mais uma batelada de SUVs médios de sete lugares, todos nascidos por causa do Commander? Potencial para isso existe.
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