Uma grande preocupação na área de testes da revista , onde trabalhei, era a possível discrepância de habilidade entre os pilotos. Fazíamos aferições de tempos em tempos para verificar essa possível diferença e, se houvesse, trabalhávamos para acertar o pé dos mais lentos. Eis que a Fiat lança a versão 16V do Fiat Tempra, em meados de 1993.
Era importante que todos estivéssemos no mesmo patamar de direção para que o teste fosse mais liso quanto possível. Uma vez, por exemplo, em um VW Gol GTi, o cravou 10s18. O subiu no carro e marcou… 10s12. Minha vez: fiz 10s14.
Voltando ao Fiat Tempra, o carro foi pra capa da revista. E estampou a velocidade máxima na chamada: 198 km/h. Logo no mês seguinte, resolvemos colocá-lo em um comparativo com o Chevrolet Omega CD. Eram os dois sedãs nacionais mais sofisticados, luxuosos e velozes da época. Nós nem devolvemos o Tempra à Fiat e ficamos com ele na Redação até o mês seguinte.
Coube a mim fazer o comparativo entre o Fiat Tempra e o Chevrolet Omega. Àquela época, a Quatro Rodas realizava os testes de velocidade máxima na pista de taxiamento do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Ela tinha cerca de 3,4 km e era mais do que suficiente para aferir a máxima dos carros.
Fui pra pista. Chegava ao final da reta, uns 150 metros antes da cabeceira, e você freava. Só que não vinha nada além de 192 km/h no Fiat Tempra. Avisei o colega que havia testado no mês anterior, ele veio me encontrar, repetiu o teste e fez o mesmo número que eu.
Concluiu que, nos 198 km/h, tinha havido um erro de aferição no aparelho. Na dúvida, dias depois, foi toda a equipe pra pista a fim de fazer um tira-teima. Todo mundo bateu os mesmos 192 km/h. Só que um dos testadores resolve abusar. E aí que veio a situação tensa.
0 a 100 km/h em uma urinada
Ele era novo na revista e, sei lá, quis dar “demonstração de perícia”, quando o que importava era o oposto, ou seja, a isonomia nos resultados de todos. E o rapaz vai e freia o Fiat Tempra lá dentro, mas lá dentro mesmo, uns 80 metros à frente do que regulamentávamos como padrão.
Quase na cabeceira da pista. Ali, tio, ou você sobe no pedal de freio… ou puxa o manche e decola… Quando ele para o Fiat Tempra, seu semblante tem o olhar orgulhoso de quem “bateu” os números dos amiguinhos. Mas havia ainda algo errado. Ele entrega a fitinha do computador que apontava o excepcional resultado de 192,4 km/h… e sai correndo.
Entra lá no saguão do aeroporto. Desaparece. Alguém ainda brincou: “ele deve ter se cag… todo pra chegar nesse número”. Não era exatamente isso. Mas quase. O rapaz volta com as calças totalmente molhadas, com aquela indesejável mancha bem na região da virilha. É. Fez 0,4 km/h a mais. Mas se mijou inteiro.
Eu voltei pra São Paulo guiando o Omega CD, lógico. Vai que o Fiat Tempra estava mijado.
Quem é o Tio Edu?
Sou o tio Edu. Trabalho como jornalista especializado em automóveis desde 1991, quando ingressei como repórter da área de testes da revista Quatro Rodas. Passei também pela Motor Show, fiz dois programas de TV sobre carros (Feira Livre do Automóvel e Autoshow), depois tive uma passagem no Jornalismo de Economia, na revista IstoÉ Dinheiro.
Mudei radicalmente de atividade quando virei assessor der imprensa na Volkswagen do Brasil, em 2005. Passei pela Mercedes-Benz, lancei a marca Smart no Brasil, depois a JAC Motors e a Ankai (ônibus elétricos). Fiz mais de 100 eventos de veículos novos no Brasil.
O “tio Edu” é um apelido que nasce do ótimo relacionamento que criei com todos os jornalistas especializados em veículos do país nesses últimos 20 anos, dentre eles esse jovem e brilhante time do Auto+. Aliás, se você gostar dessa primeira coluna, começa a perturbar o João Brigato e pede pra ele me passar mais pautas.
Depois de duas décadas atuando na Comunicação Corporativa, tô louco pra voltar a testar os carros novos… Até lá, a minha contribuição semanal aqui nessa coluna se dará na narração de casos e causos, dos bastidores da indústria automotiva, do que eu assisti vivenciando de dentro esse setor.
Você já se mijou em um carro? Conte sua história nos comentários.