Um dos carros mais elogiados da atual fase da Volkswagen, o Tiguan vive um momento bastante conturbado. A marca alemã demorou dois anos para trazer o SUV reestilizado e causou um problema enorme. O Tiguan antigo era melhor e lá fora a nova geração já surgiu. Ou seja, é um carro assombrado por seu passado e ofuscado pelo seu próprio futuro.
Vendido somente na versão topo de linha R-Line por R$ 284.590, o Volkswagen Tiguan era conhecido por ser um verdadeiro canhão. Praticamente um Golf GTI de sete lugares. Problema é que essa renovação trouxe consigo uma baixa de potência e torque, além de agora ter o na sua cola. Será que ainda vale a pena?
Baixa sentida
Antigamente, quando falávamos do Volkswagen Tiguan, tínhamos um SUV médio de sete lugares com motor 2.0 TSI turbo de 220 cv e 35,7 kgfm de torque. Era um modelo com transmissão automatizada de sete marchas e tração integral que o fazia chegar aos 100 km/h em 6,8 segundos. Mais rápido até que um Fiat Pulse Abarth.
Agora, a situação é outra. A Volkswagen precisou capar (muito) o para adequar o modelo aos novos limites de emissões. Com isso, o 2.0 TSI quatro cilindros turbo foi mantido, mas agora recalibrado e amansado para 186 cv e 30,6 kgfm de torque. A tração integral 4MOTION saiu, enquanto o câmbio virou um automático de oito marchas.
Como resultado, agora para chegar aos 100 km/h, o Tiguan demora 9,2 segundos. O que significa ficar para trás do irmão T-Cross com motor 1.4 turbo e ver o Nivus e o T-Cross com motor 1.0 TSI colados no retrovisor. Para piorar a situação, o Tiguan tem um delay absurdo para arrancar. Como se ele questionasse ao motorista se realmente quer fazer isso.
Ímpeto Volkswagen
O delay de acelerador não combina em nada com o jeito que o Volkswagen Tiguan roda. Depois que ele embala, anda bem, mas até chegar lá, demora muito. Por sorte, ainda é um Volks. Ou seja, bom de curva, durinho e esportivo. A direção é bem direta, precisando de poucas voltas de batente a batente, tal qual um esportivo.
A suspensão bate sempre ao passar em lombadas um pouco mais rápido, mostrando que ele tem uma pegada mais voltada a um hatch ou perua do que um SUV de fato. Como as rodas de 19 polegadas calçam pneus 235/50, não espere por uma boa absorção de superfícies ruins como em outros modelos. É um carro de asfalto, preferencialmente estrada.
O que impressiona no Tiguan é a solidez de rodagem e o silêncio a bordo, mesmo em alta velocidade. Nessas situações, ele lembra mais um Audi que um VW. É firme, centrado e fácil de andar. A eletrônica permitiu que, mesmo não tendo mais tração integral, ele siga ótimo de fazer curvas. A ponto de esquecer que é um carro familiar de 4,72 m de comprimento.
Só que, como seus irmãos com transmissão automática de seis marchas, o câmbio de oito marchas do Tiguan parece meio perdido. Hora segura mais marcha do que deveria, hora troca mais cedo do que precisava e deixa o SUV manco. Na estrada, ele se perde entre a sexta e a oitava, voltando marchas em momentos aleatórios.
É assim que tem que ser
Fazendo às vezes de irmão maior e exemplo para Nivus, T-Cross e Taos, o Tiguan vem lotado de itens de série. Ele traz piloto automático adaptativo e sistema de manutenção em faixa que funcionam bem, com acelerações lineares e bom controle de volante. Não está no nível da Honda, mas ainda é suficientemente bom.
Já ainda seis airbags, controle de tração e estabilidade, alerta de tráfego cruzado, farol com acendimento automático e luz alta adaptativa, indicador de fadiga, vetorização de torque, frenagem autônoma de emergência, assistente de partida em rampa, park assist, ar-condicionado digital de três zonas e teto panorâmico.
Há ainda chave presencial, banco elétrico para o motorista, ventilação e aquecimento nos assentos dianteiros, porta-malas com abertura elétrica, retrovisor eletrocrômico, aquecimento de volante, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução e volante com ajuste de altura e profundidade.
Sinais da idade
Lançado originalmente em 2016, o Volkswagen Tiguan já mostra alguns sinais de idade. A cabine é muito bem feita, com materiais de qualidade, incluindo veludo de alta qualidade no porta-objetos do painel, carpete no bolsão da porta e muito material macio no painel e portas. Mas o visual não empolga, porque parece demais o do Golf MK7.
Sem contar que há compartilhamento excessivo de peças com carros mais baratos. O volante é o do Nivus, a manopla de câmbio é do T-Cross, enquanto o painel de instrumentos totalmente digital é idêntico ao que o Polo usa. É tudo muito igual, sem personalidade. Diferentemente do exterior, que é típico Volkswagen, porém é bonito, elegante e chamativo.
O painel de instrumentos totalmente digital é configurável e cheio de personalizações, sendo referência na categoria. Merecia somente alguns elementos próprios para o Tiguan, seguindo o que a Stellantis faz com seus modelos com o mesmo tipo de painel. E também, inexplicavelmente, ele não mostra que marcha está, ao contrário dos irmãos brasileiros.
Já a central multimídia é boa, tem tela de boa definição, é rápida, mas os gráficos já estão extremamente datados. A VW Play da um banho de conectividade e usabilidade, enquanto a central do Tiguan parece a mesma de 15 anos. Fácil de usar, mas com algumas animações e gráficos que te fazem sentir em um carro velho.
Espaços diversos
Dependendo de onde você se senta no Volkswagen Tiguan, terá sentimentos diferentes. Na frente, o motorista conta com posição de dirigir bem alta, estilo cadeirão, onde as pernas ficam mais dobradas e invariavelmente você se sentirá alto. A vantagem é que bancos e volante contam com muito range de ajuste, permitindo encontrar uma ótima posição.
Na segunda fileira, os passageiros contam com ajustes de inclinação e de distância do banco. Com isso, o Tiguan oferece bastante espaço, inclusive para os ombros. Quem não se sente bem é a galera do fundão. O espaço é apertado e o cinto fica muito alto. Como as pessoas que se sentam atrás são, em geral, menores, o cinto pega no pescoço de maneira incômoda.
O porta-malas carrega 216 litros na configuração de sete lugares, enquanto com cinco assentos, são 686 litros. É interessante que o sistema de abertura do porta-malas passando o pé por baixo do para-choque funciona de verdade – ao contrário de 99% dos carros que contam com esse sistema.
Além disso, o Volkswagen Tiguan tem um espaço reservado para o tampão do porta-malas, não sendo preciso deixá-lo em casa. Outro ponto interessante é a alavanca para dobrar os bancos da segunda fileira rapidamente e aumentar o espaço. Há ainda ganchos para sacolas, que são práticos para compras de supermercados.
Veredicto
O Volkswagen Tiguan continua um carro delicioso de dirigir, com ótimo acabamento e uma alternativa real para aqueles que precisam de sete lugares, mas não querem se sentir em uma van escolar. O problema está nele mesmo. O modelo anterior era bem mais potente e mais divertido de andar. Enquanto lá fora, uma nova geração já foi mostrada.
Nessa categoria de SUVs de sete lugares, o único modelo que poderia ser comparado a ele é o Jeep Commander 2.0 turbo, que começa em R$ 308.290 e vai até R$ 321.290. É até mais sofisticado, anda como o antigo VW andava, mas não é mais espaçoso. Portanto, se você quer o Tiguan do passado, compre um Commander ou espere pelo novo. Mas olhe com carinho para o atual, ainda é um bom carro.
Você teria um Volkswagen Tiguan? Conte nos comentários.
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