Já percebeu que os carros que lideram o mercado, em geral, tem uma fórmula mais neutra? Não tem desenho ousado demais, em geral o preço é intermediário entre todos os rivais, a lista de itens de série tem de tudo um pouco e há uma grande profusão de versões. É uma receita quase infalível e que o Volkswagen T-Cross escreveu para liderar a categoria.
Rei dos SUVs há um bom tempo, ele não tem o visual exótico do Hyundai Creta, nem a pegada off-road do Jeep Renegade. O acabamento não é muito bom, mas não é tão ruim quanto do Renault Duster ou do Chevrolet Tracker. Tem opções de motores para todos, mesmo não sendo tão potente quanto os Abarth da Fiat.
Ou seja, é um carro que tal qual um Toyota Corolla ou um Chevrolet Onix: paira em uma neutralidade certeira para agradar ao maior número de clientes. Mas, diferentemente dos modelos anteriormente citados, ele tem seu lado ousado. É como aquele colega de faculdade que parece todo certinho, mas que fora das aulas apronta algumas.
Custo-benefício, mas sem nome
Para entender qual é a do novo Volkswagen T-Cross, testei a versão de entrada 200 TSI. Na realidade, o código é do motor, que é usado também pela Sense e pela Comfortline. Ou seja, é mais uma versão Sem Nome, como já acontece com Jeep Renegade, Fiat Fastback e Chevrolet Tracker. E tal qual outros Sem Nome, esse tem custo-benefício forte.
Honestamente, fora a chave presencial, não senti falta de nenhum item relevante de verdade. O ar-condicionado não é digital, mas dá para viver bem sem ele, até porque o T-Cross 200 TSI conta com painel de instrumentos digital, vidros elétricos nas quatro portas com acionamento por um toque, sensor de ré e farol full-LED com acendimento automático.
Há ainda central multimídia VW Play com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, retrovisor elétrico, seis airbags, controle de tração e estabilidade, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência (inclusive em manobras), vetorização de torque, indicador de fadiga, start-stop, rodas de liga-leve e volante com ajuste de altura e profundidade.
Como opcional, você pode levar as cores metálicas Vermelho Sunset, Azul Norway, Cinza Platinum e, Prata Pyrit (do carro testado) por R$ 1.750. O Branco Puro sai por R$ 900 a mais, enquanto o Preto Ninja é a única cor grátis. Recomendo levar o único kit opcional, o Pacote Interactive IV de R$ 2 mil.
O pacote adiciona câmera de ré, espelho retrovisor com rebatimento elétrico e função tilt-down, rodas de liga-leve de 17 polegadas e sensor de estacionamento dianteiro. Com todos os itens, o T-Cross 200 TSI sai de R$ 142.990 para R$ 146.740, mas ainda é um bom custo-benefício.
Conversa não afiada
Construído sob a plataforma MQB A0 de Polo, Virtus e Nivus, o Volkswagen T-Cross é o maior e mais pesado modelo da família. Nessa variante, ele conta com motor 1.0 TSI três cilindros turbo de 128 cv e 20,4 kgfm de torque. Conjunto esse que o leva aos 100 km/h em dez segundos.
Mas, desde que o SUV estreou no Brasil, a Volkswagen mexeu no mapa de acelerador por conta de emissões de poluentes. O que antes parecia um carro rápido e ágil, deixou de ser. Só que o maior culpado disso é o cansadíssimo câmbio automático de seis marchas. Esse motor nasceu para ter câmbio manual ou um dupla embreagem.
A conversa entre motor e câmbio não é muito entendida. O 1.0 TSI tem fôlego e força, mas a transmissão insiste em manter o giro baixo e exigir um pisão forte do motorista para que faça o T-Cross acordar. Na garagem da minha casa, ele tentava subir em segunda, perdia a força e engatava primeira (depois de muita insistência) para vencer o obstáculo.
O T-Cross está longe de ser um carro fraco, mas a letargia de reação do câmbio automático faz com que ele tenha menos vivacidade do que deveria. Na estrada, mesmo com a sexta marcha, ele não tem giro tão baixo quanto deveria e insiste em colocar a quinta sempre que acelera, mesmo tendo torque para ganhar velocidade sem baixar marcha.
Como resultado, o consumo não é brilhante: com etanol são 8,1 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada de maneira oficial. Durante nossos testes, contudo, ele marcou 7,6 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada com o combustível vegetal. Com isso, o tanque de 49 litros zerou rapidamente.
Espírito Volkswagen
Um ponto positivo sobre o Volkswagen T-Cross, contudo, é que ele honra a marca alemã no quesito dirigibilidade. Todo modelo da VW é mais firminho e sólido. E isso é algo muito sentido no SUV compacto. Ele tem carroceria bem construída, a qual sente a solidez ao passar por buracos ou fazer curvas mais fortes.
A suspensão é confortável, mas ao mesmo tempo voltada para uma boa performance em curvas e estabilidade em velocidades mais altas. Esse é o mesmo mote da direção, que é rápida, bem comunicativa e mais pesada – menos na hora de fazer manobra. Entre os SUVs mundanos e não esportivos, o T-Cross é o mais gostoso de dirigir junto do Nivus.
Mesmo nessa versão de entrada reestilizada, o SUV conta com piloto automático adaptativo. Ele é bem calibrado, mas não está no mesmo nível da Honda ainda. Faz falta um sistema de manutenção em faixa para um melhor controle do T-Cross em estradas ou ruas ao usar o ACC.
A VW não aprende
Uma das promessas da Volkswagen com a reestilização do T-Cross era uma melhora significativa de acabamento – algo que não aconteceu. Ele segue com um dos piores interiores da categoria, ainda que tenha modelos mais simples que ele. Os plásticos duros são excessivamente baratos e há até discrepância entre a cor das portas e do painel.
A versão 200 TSI tem couro no volante, mas é rugoso e áspero, enquanto o painel recebe uma faixa de couro, mas que reveste um plástico duro e oco. A presença de elementos em cinza deu um aspécto visual melhor, deixando escapar que é uma versão de entrada. Mas ainda está muito atrás do Jeep Renegade e do CAOA Chery Tiggo 5X em acabamento.
Essa simplicidade também transparece no isolamento acústico. Até menos de meio tanque é possível ouvir muito alto o barulho do combustível sambando no tanque. O motor se faz presente boa parte do tempo, especialmente quando o câmbio se perde e faz o 1.0 TSI berrar mais alto do que precisava.
Em questão de espaço, o T-Cross manda bem. Há bastante área para as pernas no banco traseiro, enquanto os que sentam à frente tem área livre. O porta-malas leva 373 litros com o encosto mais inclinado, mas chega a 420 litros se deixá-lo mais reto. Por fim, as telas da Volkswagen.
O painel de instrumentos é bem simples, com tela de boa qualidade e gráficos legais, mas não chega perto do Active Info Display das versões top. Já a central multimídia VW Play é referência na categoria. É rápida, tem gráficos bonitos, rápida de usar e descomplicada. Só que adora travar ou fazer a tela piscar doidamente para regular o brilho automático.
Veredicto
Com o Volkswagen T-Cross não há erro. Ele é um SUV compacto competente, com espaço suficiente, boa performance e lista de itens de série generosa desde a versão de entrada 200 TSI. Só que não é perfeito. Ele falha no acabamento muito ruim e também na falta de mais sistemas de auxílio à condução, além do câmbio automático cansado.
Na versão 200 TSI, você terá o equilíbrio certo entre preço, equipamentos necessários: é um modelo competente. Por isso que é líder, visto que entrega um conjunto equilibrado, sem exageros para nenhum dos lados e ainda é bom de dirigir. Mas já está na hora da Volkswagen atualizar algumas coisas, além do que fez com o visual.
Você teria um Volkswagen T-Cross? Conte nos comentários.