Já falei aqui várias vezes que a melhor coisa que aconteceu à Volvo foi ter saído das mãos da Ford e ter sido comprada pela Geely. Mas talvez a segunda melhor mudança da marca sueca tenha sido voltar sua atenção à eletrificação. Ela ganhou destaque com seus híbridos e agora deita e rola com os elétricos, como o caso do Volvo C40.
O SUV cupê do XC40 nasceu totalmente elétrico, ou seja, nunca teve e nunca terá uma variante a gasolina, diesel ou até mesmo híbrida. Pode até parecer coisa do futuro, mas é o presente. Tanto que já é possível ter um carro elétrico no dia a dia e rodar 1.000 km em uma semana, com fiz com esse modelo de R$ 429.990 durante minhas férias.
Estimo menos, faço mais
Quem acompanha o e o nas redes sociais já viu que esse ano viajei com o BYD Tan para Campos do Jordão e depois contei aqui no site que isso era uma ideia de jerico. Mas dei uma segunda chance aos elétricos levando o C40 em uma aventura até Aparecida no interior de São Paulo.
Mais uma vez os perrengues de sempre, com pouca estrutura para carregamento e muito planejamento quanto às rotas e locais para carregamento. Só que os 420 km de autonomia declarados pela Volvo para o modelo sempre sobravam. Ele estimava chegar com 65% de bateria ao destino, mas estacionava lá com 70%.
Essa estimativa é bem interessante, pois é sempre exibida no Google Maps integrado à central multimídia. Ao colocar o endereço no mapa ele estima quantos porcento de bateria terá ao chegar lá e quanto restará na volta para o seu destino atual. Sempre ele previa chegar com bem menos bateria do que de fato gastou.
“Esse carro é estúpido”
Uma frase que repeti a todos que andaram de carona comigo no Volvo C40 (e também no XC40 que visitou novamente minha garagem na semana anterior) era: “esse carro é estúpido”. Um aviso da aceleração brusca que estava por vir. Isso se dá por conta dos 408 cv e 67,3 kgfm de torque provido por seus dois motores elétricos.
Essa junção de forças faz com que ele chegue aos 100 km/h em 4,7 segundos, mas que parecem bem menos por não haver qualquer tipo de som ou troca de marcha. O efeito é amplificado pelo fato de que o C40 sai da inércia com um tapão no seu estômago que o faz colar nos bancos como superbonder.
Por isso até o acelerador do Volvo C40 é um tanto quanto conservador nos primeiros centímetros. Tudo para evitar que você acelere desgovernado com tudo no carro à frente. Mas se isso acontecer, ele tem frenagem autônoma de emergência, seis airbags e…bem…é um Volvo. Mais seguro em um carro que isso, impossível.
Como o toque é instantâneo, qualquer velocidade que você está, basta pisar no acelerador que ele vai disparar de maneira violenta. Cinco passageiros reduzem nitidamente sua performance, mas ainda assim é o tipo de carro que assusta desavisados.
Mas de nada adianta uma boa performance em retas, como todo carro elétrico, se ele se comporta igual a uma jamanta. O Volvo C40 é bem acertado, com direção pesadinha, suspensão firme e centro de gravidade baixo. Se comporta como um hatch de salto e é exemplo para muitos SUVs na hora das curvas.
Mas a pegada dele é mesmo conforto. Ficar horas atrás do volante não é cansativo, muito pelo contrário, é algo prazeroso. Entendeu o motivo pelo qual rodei 1.000 km com ele em uma semana? Não dá vontade de parar de dirigir esse Volvo e isso é um grande estigma para muitos que dizem que não dá para se divertir em um carro elétrico. Mal sabem…
Estranha beleza
Um dos pontos que mais me chamou atenção no Volvo C40 é o quanto ele é bonito e estranho ao mesmo tempo. Estou acostumado há tempos com o XC40 e o novo modelo é derivado dele. Mas a queda suave do teto não é algo típico da Volvo, assim com a grade frontal fechadinha.
A estranheza se manifesta por procurar elementos de outros Volvo e do próprio XC40 nele, ao mesmo tempo em que esse SUV é do tipo bonito de doer. A traseira é elegante e esportiva, com aerofólio duplo, tanto no teto quanto no final da tampa traseira. Já a lanterna traseira foge um pouco do típico Volvo, mas mantém regras da marca.
Só que a cabine é o grande destaque do modelo. É idêntica à do XC40, exceto pelo teto, tanto no formato, quanto no conteúdo. É que o teto do C40 é de vidro e conta com um tratamento térmico que impede que o calor entre na cabine, mas mantém a luz iluminando o ambiente.
Por falar nisso, os frisos nas portas e no painel são iluminador por dentro, ganhando brilho somente em ambientes escuros ou quando o carro é desligado. De dia, parecem somente plásticos texturizados de bom gosto. O acabamento é esmerado, com muito material macio ao toque e pouco plástico.
Mas não dá para perdoar a Volvo por ter tirado o couro da manopla de câmbio e utilizado um material tão simples e barato ali. Isso tem relação com a nova política da marca de materiais ecologicamente corretos, tanto que o couro dos bancos é do tipo vegano e utiliza materiais recicláveis em sua composição.
As portas trazem carpete em toda lateral e são dotadas de enormes bolsões onde uma garrafa de 1,5 litros cabe, assim como um notebook deitado. Isso só foi possível porque a caixa de som foi conjugada com a saída de ar lateral. O C40 ainda traz um prático lixo no console central e carregador de celular por indução.
O espaço é excelente na frente, com diversos ajustes diferentes. Já a traseira não é tão vasa por conta do teto em queda, mas ainda assim permite que dois adultos altos consigam ficar ali com relativo conforto. O porta-malas leva 413 litros e tem uma prática divisória, presente também no XC40, e que ajuda a dividir as cargas em lugares diferentes.
Ok Google
Além do acabamento esmerado, o Volvo C40 traz sistema Android embarcado diretamente no carro. Isso significa acesso aos aplicativos direto na central multimídia e integração do Google Maps no painel de instrumentos 100% digital, como dito antes. A qualidade das duas telas é excepcional com pouco reflexo, agilidade na operação e uso fácil.
Interessante é que, mesmo com o sistema embarcado, a Volvo colocou Apple CarPlay de série no modelo. Ou seja, você pode deixar o painel de instrumentos na navegação do Maps do próprio C40, enquanto a central multimídia usa o Waze do seu iPhone. Há ainda conexão com internet, mas somente para o carro.
A lista de itens de tecnologia ainda traz sistema de câmeras 360°, som Harman Kardon, tampa do porta-malas com abertura elétrica, retrovisor interno e externos fotocrômicos, faróis direcionais com acendimento automático e assistente de luz alta, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, alerta de tráfego cruzado e ar-condicionado de duas zonas.
Veredicto
O Volvo C40 tem duas grandes vantagens no mundo real: custa o mesmo que seus rivais a combustão (ou até menos) e tem autonomia farta. A performance é digna de um esportivo e o visual é algo que ninguém vai ficar indiferente, especialmente nesse belíssimo Fjord Blue.
Se o XC40 já se mostrava o carro elétrico definitivo, o C40 acompanha e honra esse mesmo legado, mas com aquela pitada a mais de esportividade no visual. No segmento de luxo, não há melhor SUV cupê compacto do que ele, principalmente quando comparado a um modelo a combustão.
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